ANJOS EM AÇÃO SEGUNDA ESTORIA


Anjos em ação II
O salão diamante




Parte 1
A promoção

(Adaptadora de planos Irene, andando pelas ruas de Fortica)

Meu nome é Irene Caras, eu sou uma adaptadora de planos.O que eu faço é adaptar pessoas ao plano de Fortica, ou seja, se vocês ou alguém que vocês conhecem morrer e vier parar no plano de Fortica,vão ter a ajuda da Irene ou de outros adaptadores de planos. Vocês que acabaram de morrer vêm aqui com suas dores e culpas, e eu e os outros adaptadores tiramos isso de vocês.
Fazer com que pessoas como vocês tenham uma eternidade de paz, ou seja, estejam nus perante Deus, com pensamentos puros, sem vergonha ou medo. Sim, seus pensamentos serão compartilhados com todos aqui em Fortica, e minha tarefa é garantir que isso aconteça.É isso o que eu faço e é esse o meu trabalho. Mas nem sempre é fácil, nem sempre dá certo.
   Às vezes vocês não se adaptam a esse plano, pois têm medo de que os outros espíritos desse plano descubram seus pensamentos ocultos, que na maioria das vezes são pequenos pecados que por ventura cometeram em vida, pecados dos quais- para estarem aqui em Fortica -vocês já foram perdoados,mas ainda não se deram conta disso. Então ficam paranóicos,pois não estão nus diante do Senhor, e na maioria das vezes têm medo que os outros espíritos desse plano descubram isso. Seus pequenos pecados, e aí vem a Irene fazer vocês falarem quais são eles, para que possam se perdoar e não mais ter vergonha de si mesmos, e encontrem a paz ficando nus diante de Deus com a absoluta tranquilidade e serenidade.Para uns, ficar nu diante de Deus com tranqüilidade demora pouco, e esse objetivo é alcançado rapidamente, para outros demora mais tempo. Mas também existem aqueles que não conseguem, estes se tornam agressivos e extremamente antissociais, botando em risco a tranquilidade de Fortica. Para estes existe o salão diamante como o último recurso. Se não conseguirem se adaptar no salão diamante, então serão mandados aos planos baixos. Pode parecer cruel, mas em geral o pior inferno para essas pessoas é continuarem aqui em Fortica, escondendo seus pensamentos dos outros espíritos, desta maneira os planos baixos são menos dolorosos. Fui promovida, deixei de ser uma simples adaptadora de planos para ir trabalhar no salão diamante. Não é qualquer adaptador de planos que consegue trabalhar no salão diamante, é preciso ser muito bom no que faz para trabalhar aqui, e hoje é meu primeiro dia de trabalho. (Irene chegando no salão diamante)



Parte 2
O gerente


(Irene entrando no salão diamante)

Me disseram que o salão diamante era grande, mas eu não sabia que era tão grande! Os mitos que eu ouvi sobre esse lugar eram mesmo verdadeiros, ou seja, não são mitos. Eu havia ouvido dizer que o salão diamante era todo espelhado, e tinha forma de um diamante gigante. E realmente é verdade! (Irene andando por um dos muitos saguões do salão diamante)

-- Oi! Meu nome é Irene, sou a nova adaptadora de planos. Gostaria de falar com o gerente. (Irene)

-- Última porta no final do corredor à esquerda. (Secretaria)

-- Obrigada. (Irene indo em direção à porta, atravessando para isso um enorme corredor com muitas portas)

-- Cheguei! A porta parece fechada, é melhor eu bater. (Irene batendo na porta)

-- Pode entrar, a porta está aberta! (Gerente Anderson, negro alto com uniforme preto e umafaixa azul pintada no seu lado esquerdo)

-- Olá! Meu nome é Irene e eu... (Irene sendo interrompida)

-- Sei quem você é, mocinha! Eu estava a sua espera. Sente-se aí. (Gerente Anderson)

-- Com licença. (Irene sentando em uma cadeira que fica na frente da mesa do gerente)

-- O uniforme. (Gerente Anderson)

-- Ah, sim! Claro.(Irene mudando sua roupa branca de adaptadora de planos para um uniforme igual ao do gerente com seu pensamento)

-- Bom, Irene, meu nome é Andersom, vou ser seu gerente aqui no salão diamante. Eu não sei se lhe falaram como trabalhamos aqui mas... é bem diferente do que você estava acostumada a fazer como uma adaptadora de planos normal.Aqui, mocinha, você vai tentar ajudar os espíritos que não se adaptaram de modo convencional à cidade plano de Fortica, e isso não é fácil, pois muitas vezes você vai ter que mandá-los para os planos baixos, e isso se complica se você tiver alguma afetividade com algum ou alguns pacientes aqui, mocinha!
  Você precisa botar as suas emoções de lado e ser imparcial, e lhe garanto que você vai passar por muitas coisas! Vai ter experiências tanto desagradáveis quanto chocantes nesse lugar, e eu lhe garanto isso! Para você ter uma ideia do que eu estou falando, há quem diga que houve um adaptador de plano aqui no salão diamante que deixou de ser adaptador para virar paciente. Não é fácil! Sua vida vai mudar muito daqui para frente! Eu diria que para pior! Sei que trabalhar no salão diamante é visto como sinal de status entre os adaptadores, pois é o próximo passo para um cargo superior, mas isso tem um preço. Bem, mocinha, se quer correr o risco de ter uma visão desagradável do paraíso então junte-se a nós, ou do contrário pode dar meia volta e ir embora! Fui claro? (Gerente Andersom)

-- Sim, senhor. (Irene)

-- Eu soube do caso do Gabriel, o suicida. Me disseram que você trabalhou muito bem nesse caso, além disso a sua ficha é boa, gostei dela. (Gerente Andersom)

-- Obrigada, senhor! Eu farei o melhor possível. (Irene)

-- Tenho certeza que sim,adaptadora Irene! Eu vou botar você junto com o adaptador Jamiel, ele irá deixá-la a par de seus afazeres, por hora ele irá ser seu superior. Alguma pergunta, adaptadora Irene? (Gerente Anderson)

-- Não, senhor. (Irene)

-- Jamiel está à sua espera no lado de fora desse gabinete, ele já está a par da sua presença. (Gerente Andersom)

-- Sim,senhor! (Irene)

-- Então bom trabalho, adaptadora Irene! (Gerente Andersom)

-- Obrigado, senhor! (Irene)

-- Ah! E a propósito, boa sorte! Acho que vai precisar.(Gerente Andersom)

-- Obrigada, senhor! (Irene saindo da sala)
Pobre garota, nem sabe o que a espera ra,ra,ra... (Gerente Andersom pensando e rindo)

(No lado de fora do gabinete do gerente)

-- Oi! Eu sou Jamiel! (Jamiel, 1,65 de altura, careca, olhos castanhos e de uniforme)

-- É, eu sei. (Irene saindo e fechando a porta do gabinete do gerente)

-- Então venha comigo, vou levar você até o corredor das gaiolas. (Jamiel)

-- Gaiolas? (Irene)



Parte 3
Gaiolas


-- Aqui ficam as gaiolas! Cada gaiola possui um paciente, cada gaiola é feita de um vidro especial que impede os pacientes de transporem os vidros. Ao lado estão as alavancas. Essas alavancas devem ser puxadas para o lado esquerdo quando você decidir que algum paciente não tem mais recuperação, você entendeu? (Jamiel, passando com Irene por um labirinto cheio de celas de vidros, e com pacientes dentro)

-- Jamiel! Quem é essa “vadia” que está com você? (Um paciente gritando dentro da gaiola)

-- Quando eu puxar a alavanca o paciente será mandado para os planos baixos? (Irene)

-- Adaptadores de merda! Não vão me mandar pro inferno! Não vão! (Um outro paciente dentro de outra gaiola)

-- Exato! Se abrirá um buraco negro e eles serão mandados para lá automaticamente. (Jamiel)

-- Ei! Jamiel! Você vai me trocar por ela? Vai? (Uma paciente dentro de uma outra Gaiola)

-- Entendo... (Irene)

-- O que foi? Parece assustada! (Jamiel)

-- É por causa da recepção de boas vindas! Parece que todos aqui me amam! (Irene)

-- Cadela, vai se “foder”. (Um paciente dentro de outra gaiola)

-- É bom ser amada? (Jamiel)

-- É! Só o amor constrói! Não sabia? (Irene)

-- Ra...! É! Parece que sim! (Jamiel rindo)

-- E onde eu fico? Espero que não dentro da cela com eles! Não é mesmo? (Irene)

-- Não, você fica pelo lado de fora, e não se preocupe, só podem sair dessa cela quando reabilitados. (Jamiel)

-- Com essa notícia, ganhei o meu dia. (Irene)

-- Me tira daqui! Por favor! Eu não estou morto! Eu estou vivo! (Um outro paciente dentro de outra gaiola)

-- Escute! Seu primeiro paciente vai ser o defecador. Ele fica na próxima cela, vou lhe deixar a sós com ele por uma hora e depois eu volto aqui, está bem? (Jamiel)

-- Está uma maravilha! Vou me sentir tão à vontade que vão achar que estou em casa. Mas diga, por que defecador? (Irene)

--Você vai saber quando chegarmos à cela dele. E a propósito, esta é a ficha dele. Boa sorte! (Jamiel)


Parte 4
O defecador


  Estou diante da cela do defecador. Vejo fezes humanas e urina por todos os lados da cela, o que é muito estranho vindo de um espírito, pois espíritos não podem mais urinar e nem defecar nas suas celas, e nem em lugar nem um, e não podem fazer isso por uma razão muito boa: estão mortos. Segundo a ficha dele, ele come as fezes e bebe a urina. Acredito que ele crie as fezes e a urina com as mãos, da mesma forma que qualquer espírito cria um objeto com as mãos. Na ficha dele também diz que ele é muito agressivo. Nossa! Ele grita e se debate demais! (Irene pensando)

-- Fica longe de mim! Fora! Fora daqui! (Defecador na cela, de joelhos e o mais longe possível de Irene)

-- Calma! Eu só quero lhe ajudar! (Irene)

-- Fora, adaptadora! Eu não preciso da sua ajuda! Fora! (Defecador, na mesma posição)

-- Eu só quero ajudar! Só isso! (Irene)

-- Você não pode, desgraçada! Ninguém pode! Você não entende! (Defecador)

-- Calma! Vamos com calma! (Irene)

-- Eu estava calmo “porra”! Você quem me deixou nervoso quando chegou! “Porra”! (Defecador)

-- Qual o motivo disso,defecador! Por que eu lhe deixo nervoso! (Irene)

-- Você sabe! Vocês adaptadores de planos sempre sabem! (Defecador chorando)

-- Não, defecador! Eu realmente não sei! (Irene)

-- É claro que sabe! Deve estar aí! Nessa sua ficha maluca! (Defecadar)

-- Defecador, não está aqui na minha ficha! Se abre comigo,defecador! O que você tem? (Irene)

-- Se quer saber,então começa a me chamando pelo meu verdadeiro nome! (Defecador)


-- E qual é seu verdadeiro nome,defecador? (Irene)

-- É Roberto! Me chame de Roberto, pelo amor de deus! (Defecador)

-- Está bem, Roberto, eu vou chamá-lo assim.Agora se acalme e venha aqui falar comigo. (Irene)

-- Eu não posso! (Defecador)

-- Pode sim! Vem! (Irene vendo o defecador levantando-se e vindo em sua direção)

-- Estou aqui. Você quer um pouco? (Defecador oferecendo um pedaço de fezes humanas a Irene enquanto ele mesmo come)

-- Droga! (Irene enojada)

-- O que foi, doutora? Não gostou do meu lanchinho? Ra,ra,ra...(Defecador rindo)

-- Aqui diz que você terminou seus últimos dias de vida como mendigo. É verdade,Roberto? (Irene lendo a ficha do defecador)

-- Só vou falar se você provar um pedacinho do meu lanche. (Defecador)

-- Roberto! Eu não vou comer isso! Se for esse o caso e você não quiser falar comigo, eu puxo essa maldita alavanca e está tudo acabado! Você entendeu? (Irene)

-- Por que não? Tá tão gostoso! Vindo direto do rabo! (Defecador)

-- Você entendeu? (Irene nervosa)

-- Tudo bem! Tudo bem! (Defecador)

-- Então, Roberto, você passou seus últimos dias como mendigo? (Irene)

-- É! Mas antes disso eu era um operário. (Defecador)

-- Operário e pai de família. Confirma? (Irene)

-- É! Pai de família também. (Defecador)

-- E por que você se tornou um mendigo? (Irene)

-- Por quê? Minha mulher e filho me deixaram! Só isso! (Defecador)

-- É só isso? (Irene)

-- É! (Defecador)

-- Não. Não acho que seja só isso. (Irene)


-- É sim “porra”! O que mais você quer de mim? (Defecador)

-- Então por que você está escondendo seus pensamentos de mim Roberto? O que você não quer que eu saiba? (Irene)

-- Não é da sua conta “porra”! Ninguém vai ler meus pensamentos. Ninguém! (Defecador)

-- Por quê? O que tem nos seus pensamentos que eu não posso saber Roberto? (Irene)

-- Não é da sua conta! (Defecador)

-- Roberto, Eu vou ser sincera com você, ok?(Irene)

-- Pode ser. O que foi? (Defecador)

-- Você gostaria que sua ex-mulher e seu filho viessem aqui e vissem essa cena? (Irene)

--Não! Por favor, não! (Defecador)

-- Então se ajuda! Me diz o que está havendo! (Irene)

-- Eu não posso! Agora não! Ainda é cedo! Eu mal lhe conheço! (Defecador)

-- Está certo, mas eu quero que saiba uma coisa, esconder seus pensamentos de mim e dos outros é uma verdadeira tortura mental! Você deve estar exaurido, e isso vai aumentar. Acredite em mim! E vai lhe levar para o inferno no seu próximo ataque de nervos, você entendeu? Cedo ou tarde você vai ter que falar o que você está escondendo em seus
pensamentos para que isso acabe de uma vez, e depois vai poder ir pra casa em Fortica, ser um cidadão de Fortica felize viver em paz sua eternidade espiritual. Aqui diz que você foi um bom homem em vida, se assim não fosse você não estaria em Fortica, e sim nos planos baixos, acredite em mim. Seja o que for que você está escondendo não é tão terrível como você pensa! Do contrário você não estaria aqui em Fortica, e sim nos planos baixos. (Irene)

-- Talvez tenha razão, mas eu não quero falar agora! Não quero! (Defecador)

-- Tudo bem. Mas reflita um pouco, amanhã estarei aqui.Vamos devagar, eu prometo! (Irene)

-- Olá! Vim lhe buscar, seu próximo paciente está lhe esperando. (Jamiel)

-- Sim! Já vou indo! (Irene)


Parte 5
O automutilador

  Jamiel me deixou com meu próximo paciente, ele é conhecido como automutilador. Ele se automutila o tempo todo, com uma faca ou outros objetos cortantes, cortando pequenos pedaços de seu corpo como os dedos e a orelha. Segundo a ficha dele, eleacredita que fazendo isso será purificado, ou seja, estará livre de seus pecados. A cela dele está cheia de sangue, no chão e nas paredes, mas é claro que tanto a faca quanto o sangue são criações da imaginação dele, pois espíritos não sangram, e suas partes corporais cortadas voltam ao lugar de onde foram decepada. Já que espíritos com partes decepadas têm as mesmas de volta, na ficha dele diz que ele não é agressivo, mas eu pretendo testá-lo. (Irene olhando a cela do automutilador cheia de sangue)

-- Oi, automutilador! Sou sua nova adaptadora, meu nome é Irene. (Irene vendo o automutilador sentado no chão perto dela em sua cela, cortando um dedo e enchendo o chão desangue)

-- Agora observe o que vai acontecer. (Automutilador vendo seu dedo se arrastar no chão sozinho indo em direção a sua mão)

-- Automutilador, qual é seu nome? (Irene)

-- Viu? É fantástico! O dedo voltou para mim! (Automutiladorfeliz)

-- Automutilador, qual seu nome? (Irene)

-- Agora veja isso! Ai! Ui! Jesus, purifique-me! Purifique-me para que eu me torne digno do paraíso. (Automutiladorperfurando seus pulsos com a faca e sentindo dor)

-- Por favor, só me diz seu nome! (Irene vendo os pulsos do automutilador se fechando e cicatrizando automaticamente, o deixando feliz)

-- Olha só! Ai! Ui! (Automutilador cortando a orelha e sentindo dor)

-- Droga! (Irene vendo o sangue do automutilador correndo pelo seu pescoço)

-- Ela quer voltar! (Auto mutilador segurando a sua orelha decepada com a mão direita e vendo ela se mexer sozinha, tentando voltar pro corpo)

-- Está bem! Você quer se purificar do quê? (Irene enjoada)

-- Ela voltou! Ela voltou! Obrigado, Jesus! (Automutilador feliz)

-- Uh...! (Irene vomitando)

-- Jesus vai me perdoar! Eu tenho certeza! (Automutilador animado)

-- Desapareça, vômito! Desapareça! (Irene vendo o vômito desaparecer do seu colo com a força do pensamento)

-- Oi! Como está indo? Algum progresso? (Jamiel chegando mais cedo)

-- Vamos embora! Não posso mais ficar aqui! (Irene se levantando e saindo)

-- E a alavanca? Não vai puxar? Eu hein...! Mulheres! (Jamiel sem resposta de Irene)


Parte 6
O morto vivo

  Segundo a fixa do meu próximo paciente, ele acredita estar vivo mesmo sendo um espírito, ele se torna agressivo quando suas ideias são contrariadas. Aqui diz também... Nossa! Isso é incrível! Que ele tem hábitos de uma pessoa viva. Meu deus! Como isso pode estar acontecendo com alguém que veio para Fortica? (Irene, chegando na gaiola do seu próximo paciente)

-- Quando chego à gaiola dele, ela está extremamente limpa. Mas tem acessórios estranhos, como um vaso sanitário e uma bandeja com um resto de comida. O que será que um espírito faria com comida ou vaso sanitário? Bem, vou descobrir
agora, ele está vindo falar comigo. (Irene na frente da gaiola)

-- Oi! Até quando vocês pretendem continuar com essa loucura? (Morto vivo, se aproximando de Irene, mas ela está fora da gaiola)

-- Nossa, você deve ser bem comunicativo! O último meignorou, eu odeio quando me ignoram. (Irene)

-- Você entendeu minha pergunta, mocinha? Eu quero respostas! É um sequestro? O problema é dinheiro? Eu não tenho grana, vocês estão me confundindo com outra pessoa! Deve ser isso? Ou não é? (Morto vivo nervoso)

-- Calma! Vamos devagar! Explique o que está
acontecendo,desde o começo. (Irene)

-- Explicar? Vocês são o quê? Loucos? Vocês com esse uniforme ridículo vêm aqui me pedindo explicações! Mas quem tem que me dar explicações aqui são vocês, e não eu! (Morto vivo)

-- Ai! Hoje está sendo um dia difícil! O outro não falava nada, e esse aí fala demais! (Irene nervosa)

-- Olha só, a polícia deve estar me procurando! Sequestro é delito grave! É crime hediondo! (Morto vivo)

-- Ra,ra,ra... tábom! Completa meu dia! (Irene rindo)

-- Você está rindo de que, mocinha? (Morto vivo nervoso)

-- Não é nada não ra,ra,ra... (Irene rindo)

-- Cuidado, mocinha! Cuidado hein! (Morto vivo)

-- Bom, aqui na sua ficha diz que você morreu dormindo, de ataque do coração. Confirma? (Irene)

-- Espere, então é isso! Não é sequestro! (Morto vivo)

-- Isso! Estamos começando a nos entender, morto vivo.(Irene)

-- É, eu sei o que é isso! (Morto vivo)

-- Então me diga, o que isso parece pra você? (Irene)

-- Vocês são de alguma religião maluca! Isso mesmo! Me sequestraram pra me oferecer a satã! Claro! Os uniformes e essa paranóia toda de que eu estou morto! É isso, não é? (Morto vivo)

-- Ra...! Ainda não é isso! (Irene se acabando rindo)

-- Então o que pode ser? (Morto vivo cabreiro)

-- Você morreu! Bateu as botas! Foi pro “belêléu”! Ninguém é adorador de satã aqui não! Pelo menos não que eu saiba, ra...! (Irene rindo)

-- Você deve achar tudo isso muito engraçado, não é? (Morto vivo nervoso)

-- Desculpa! É sério! É que eu não consigo evitar! Ra...! (Irene rindo)

-- Sei! (Morto vivo)

-- Olha só, eu estou tendo um dia muito difícil hoje, você sabe? Portanto eu peço mil desculpas, mas quem sabe você não me conta como veio parar aqui? Quem sabe não possamos achar a resposta juntos? (Irene)

-- Bem, eu estava dormindo quando eles vieram, uns caras estranhos, todos de branco, dizendo que eram... anjos? Acho que é isso? Eles me trouxeram para uma cidade estranha, daí eu queria voltar pra casa, eles não me deixaram e quando dei por mim estava aqui, nesse lugar maluco. (Morto vivo)

-- Humm...!  Isso explica muita coisa! (Irene)

-- O que, por exemplo? (Morto vivo)

-- Me diz por que você achou a cidade estranha? (Irene)

-- Bom,tinha umas pessoas voando, umas pessoas também saindo e entrando em buracos negros que eram como túneis, eu achei que estava dormindo ou tendo alguma alucinação, não sei! Não tem outra explicação pra isso? (Morto vivo)

-- Então você acha no mínimo isso estranho! (Irene)

-- Sim, mas você me faz parecer maluco contando essas coisas! (Morto vivo)

-- Não, você não é maluco. Não é um sequestro e não somos adoradores do diabo também. Nosso tempo acabou mas... eu quero que você reflita o porque dessa cidade que você viu ser tão estranha, pode ser? (Irene)

-- Pode, vou fazer isso. Você me parece ser uma pessoa legal, vou confiar em você por enquanto. (Morto vivo)

-- Bom! Muito bom! É isso ai! (Irene)

-- E aí, já acabou? (Jamiel chegando)

-- Sim! E houve progresso. (Irene se levantando da cadeira que fica em frente à gaiola)

-- Ah! Moça qual é o seu nome? (Moto vivo)

-- Irene! (Irene)

-- O meu é Souza! Prazer! (Morto vivo)

-- Prazer, Souza! (Irene)

-- Ah! Senhorita Irene, só mais uma coisa! (Morto vivo)

-- O que é, Souza? (Irene)

-- É que você me pareceu ser legal... (Morto vivo)

-- Obrigado, Souza. (Irene)

-- Será que posso usar o telefone? É só um minuto, eu prometo. (Morto vivo)

-- Um o quê? (Irene surpresa)

-- Telefone ra...! (Jamiel rindo)

-- É que eu preciso ligar pra minha esposa, ela deve estar preocupada. (Morto vivo)

-- Ra,ra,ra... (Jamiel rindo)

-- Está rindo do quê? Seu careca “babaca”! (Morto vivo)

-- Se tivesse um eu até deixaria, Souza. Tchau! (Irene saindo com Jamiel)

-- Por quê? Aqui não tem telefone? Que gente estranha! (Morto vivo sozinho)


Parte 7
O intimidador

  Segundo a ficha do meu próximo paciente ele está acorrentado dentro da gaiola. Como assim? Aqui diz que ele descobriu uma maneira de sair da gaiola a transpassando, e por isso a necessidade de correntes especiais para impedi-lo de fazer isso. Nossa!
 Aqui diz também que ele é extremamente agressivo e tem mania de provocar os adaptadores de planos, verbalmente e fisicamente quando está solto. Ele é perito em induzir outros espíritos a pensar como ele, e dessa forma induzir suas “vítimas” a fazer algo contrário às suas vontades. Nossa, esse cara é perigoso! (Irene chegando á gaiola do seu próximo paciente)

-- Olá! (Intimidador)

-- Oi! Meu nome é Irene, eu sou sua nova adaptadora. (Irene vendo o intimidador acorrentado dentro da gaiola como se fosse Cristo)

-- Meu nome é Jéferson! Prazer! Eu tenho certeza de que apreciarei muito a sua companhia. (Intimidador)

-- Nossa, como você é educado! Nem parece que o que está na ficha sobre você é verdade.(Intimidador)

-- Moça bonita, deixe-me lhe dizer uma coisa... (Intimidador)

-- Hm? (Irene)

-- Vocês não sabem nada sobre mim! (Intimidador)

-- Então você não é agressivo, intimidador? E nem induzoutros espíritos a fazerem coisas erradas? (Irene)

-- Tudo isso é conversa fiada, moça bonita, eu jamais faria isso. (Intimidador)

-- Ah! E obrigada pelo “moça bonita”, eu estava realmente precisando ouvir isso hoje. (Irene sorrindo)

-- É, eu sei! (Intimidador)

-- Você sabe? O quê? (Irene)

-- Que você precisa ser desejada! (Intimidador)

-- Do que você está falando? (Irene)

-- Sexo! (Intimidador)

-- Como? (Irene)

-- Isso! Faz tempo que você não sente um homem, não é?
(Intimidador)

-- Acho que isso não é da sua conta! (Irene encabulada)

-- Por quê? (Intimidador)

-- Porque não! Isso não lhe diz respeito! (Irene)

-- Não foi essa a minha pergunta. (Intimidador)

-- Não? (Irene)

-- Eu quero saber por que uma moça tão bonita tem feito pouco sexo? Não encontrou ninguém que lhe agrade? (Intimidador)

-- Olha aqui, eu não sou sua paciente! Entendeu?
(Intimidador)

-- Vocês adaptadores são estranhos! Querem que agente fale nossos segredos mais íntimos, mas não percebem que são completamente estranhos ao nossos olhos! Por que, em nome de Deus, eu me abriria com uma pessoa estranha por mais que ela seja bonita? Por que eu diria a uma estranha  coisas tão íntimas, que eu preferiria esconder? Por quê? Acho que não é assim! Eu preciso lhe conhecer melhor para poder me abrir com você, e isso leva tempo. (Intimidador)

-- Tá! O que quer saber? (Irene nervosa)

-- Sexo. Por quê? (Intimidador)

-- Porque não! Eu não preciso, sou um espírito! E bem desprendida da matéria. (Irene)

-- Não é o que seus pensamentos me dizem, Irene.
(Intimidador)

-- Eu não quero que você leia meus pensamentos! Fui clara? (Irene)

-- Por que não? Se você mente pra mim sobre as coisas que pergunto a você, é meu direito então descobrir algo sobre você sozinho, e isso me faz pensar que você não me inspira confiança, isso me lembra, também, que eu não posso me abrir com uma pessoa assim, não concorda? (Intimidador)

-- Droga! Você era bom demais para ser verdade! Um paciente mais ou menos normal? Num lugar como esse? Claro! Por que não? Mas é bem feito pra mim. (Irene)

-- Embora isso não seja da minha conta,podemos conversar sobre isso se você quiser, que tal? (Intimidador)

-- Não! Muito obrigada! (Irene)

-- Então voltando ao assunto, por quê? (Intimidador)

-- Porque eu ainda não encontrei ninguém que me agrade. (Irene)

-- Então temos um príncipe? Sim! Um príncipe também claro na sua mente! (Intimidador)

-- Droga! (Irene)

-- Ele era bom de cama e você se apaixonou por ele. (Intimidador lendo os pensamentos de Irene)

-- Será que terminou? (Irene nervosa e encabulada)

-- O que deu errado entre vocês dois,gatinha? (Intimidador)

-- Ele foi embora! (Irene)

-- Sim! Estou vendo em seus pensamentos! Ele é o que? Um suicida! Isso é muito interessante! É bom saber que minha adaptadora anda em boas companhias. (Intimidador)

-- Jamiel, Que bom que veio! (Irene nervosa e encabulada)

-- Vamos! (Jamiel)

-- Tá! (Irene)

-- Continuamos na próxima seção! Acho que algumas coisasvão ter que mudar por aqui, senhor Jéferson! (Irene)

-- Claro! E foi um prazer conhecê-la, senhorita Irene!(Intimidador vendo Irene ir embora com Jamiel)


 Parte 8
Relatório 1


(Gabinete do gerente)

-- Então, vamos começar com o relatório? (Gerente)

-- Gostaria de começar falando sobre o defecador, senhor. (Irene)

-- Sim, prossiga. (Gerente)

-- Ele insiste em esconder seus pensamentos. Ele está tentando esconder algo que ele considera um pecado grande, embora para nós não seja, algo que ele tenha feito em vida e que não quer que os outros saibam. Por isso ele cria, defeca, come e bebe as próprias fezes, é por isso também que ele se sente sujo por dentro, em virtude desse peso na
consciência. (Irene)

-- Só um momento, não é por causa dele ter sido um mendigo que ele é assim? (Gerente)

-- O mais bizarro é que ele foi um mendigo por causa da ex-mulher e o filho, mas não se arrepende disso, não é por isso que ele se sente sujo. (Irene)

-- Não? (Gerente)

-- Não! É algo que ele fez durante a vida e que se sentia seguro por ninguém saber disso. Até chegar aqui e poderem ler seus pensamentos, isso o deixou inseguro e o fez criar e comer as próprias fezes. (Irene)

-- Hmm! Ponto de vista interessante, eu não havia pensado nisso. (Gerente)

-- Sim! Mas acho que houve progresso, ele quer que eu o chame pelo nome, e tentou me impressionar me oferecendo um pouco das suas fezes. (Irene)

-- Ou seja, ele está querendo que você faça parte do mundinho dele. (Gerente)

-- Isso! Eu estou ganhando a confiança dele, senhor. (Irene)

-- E quanto ao automutilador? (Gerente)

-- Esse paciente, em minha opinião, não tem mais jeito. (Irene)

-- Não? Por quê? (Gerente)

-- Porque ele não responde mais ao meio externo, ele é totalmente centrado em si mesmo e não fala mais com ninguém. Ele perdeu o contato com o mundo e com a realidade, senhor. (Irene)

-- E por que não puxou a alavanca? (Gerente)

-- Por que não consegui, senhor. (Irene)

-- Mocinha, o que eu lhe falei hoje na primeira hora da manhã? (Gerente)

-- Que não devemos nos envolver emocionalmente com os pacientes, e deveríamos ser imparciais com eles. (Irene)

-- E então? (Gerente)

-- Sinto muito, senhor, isso não acontecerá mais. (Irene)

-- Assim eu espero. Vou mandar Jamiel cuidar dele, me fale do resto. (Gerente)

-- Bom, o morto vivo enxergará a verdade com o tempo, de que ele não esta mais vivo. Eu não me preocupo com ele senhor. (Irene)

-- Entendo (Gerente)

-- O impressionante no caso dele é que ele cria a comida que está na bandeja com seu pensamento, mas não se dá conta disso, de que não precisa comer e nem ir ao banheiro. Existe até uma privada na cela que ele criou com seu pensamento e não se deu conta disso. Ele acha que nós botamos a comida e a privada lá pra ele. (Irene)

-- Concordo com você, devemos fazer com que ele se dêconta de que morreu aos poucos. E quanto ao intimidador? (Gerente)

-- O intimidador está tentando me conhecer melhor para poder se abrir comigo. Acho que é uma questão de tempo até ele sair de lá, mas só tem duas coisas que me intrigam no caso dele: primeiro, na ficha dele consta que ele é perigoso, eu sinceramente não acredito. E outra coisa, ele é tranquilo demais, parece que ele não tem nada a esconder.Me pergunto como um espírito desses veio parar no salão diamante, e ainda mais acorrentado. (Irene)

-- Em primeiro lugar, dona Irene, ele é um dos espíritos mais antigos do salão diamante. (Gerente)

-- Não acredito! Como?(Irene)

-- Em segundo ele é agressivo sim, e extremamente manipulador! (Gerente)

-- Como ele veio parar aqui? (Irene)

-- Ele começou a agredir os outros cidadãos de Fortica sem nenhuma razão aparente, então o trouxeram pra cá, e quando tentamos reabilitá-lo a mesma coisa aconteceu. Você tem que tomar cuidado com ele, ele costuma manipular os adaptadores. Cuidado! Um adaptador que trabalhava aqui uns tempos atrás foi induzido a
soltá-lo, sem dúvida nem uma ele é o espírito mais perigoso daqui. (Gerente)

-- Por que ele ainda não foi mandado para os planos baixos? (Irene)

-- Porque ele é um fenômeno da natureza. Ele é mantido como objeto de estudo, oferecemos a ele o direito de ir para os planos baixos, mas ele preferiu ficar e servir de objeto de estudo. (Gerente)

-- Sem dúvida nenhuma ele é um ícone. (Irene)

-- Você deve tomar cuidado com ele. Botei você com ele para testá-la, mas acho muito perigoso, ele é perigoso demais pra você, vou botar você em outro caso. (Gerente)

-- Não! Por favor! Me dê uma chance! Eu acho que eu consigo ajudá-lo! (Irene)

-- Tem certeza? (Gerente)

-- Tenho! (Irene)

-- Então está bem! Acabou seu expediente por hoje, vá para casa e descanse. A julgar pela sua cara você realmente está precisando de um descanso. E acredite, a tendência é as coisas piorarem pra você daqui para frente, vai se acostumando com a ideia de que o salão diamante não é o paraíso,embora esteja no mesmo. (Gerente)

-- Sim, senhor. (Irene)

-- Pode ir, e bom descanso. (Gerente)

-- Obrigada, senhor. (Irene saindo da sala)


Parte 9
Aconchego do lar 1


(Irene em seu apartamento em Fortica)

 Que dia duro de trabalho. Sabe, acho que estou ficando igual ao Gabriel, minha mente está dando voltas, lembrando e relembrando os acontecimentos do dia com meus pacientes perturbados do salão diamante. (Irene pensando)

-- É o que o dia dá! (Irene falando sozinha e acendendo um cigarro se lembrando do dia em que conheceu Gabriel)

(Fortica)

-- Estou aqui em Fortica, numa casa grande e muito
bonita que foi construída pelo que os habitantes do
local chamam de construtores, quem eu acredito que devam ser os engenheiros, arquitetos e pedreiros locais. Me disseram que aqui será o meu lar em Fortica, pelo menos enquanto eu permanecer como skydiver. Eu ainda não tive coragem de sair
sozinho pelas ruas de Fortica, essa ideia me
intimida um pouco, já que os habitantes de Fortica
me vêm como uma aberração. Acho que é bom eu
ficar aqui curtindo um pouco minha solidão, longe
das avacalhações do diabo que tive em vida, dos
berreiros desesperados daquelas almas “fodidas” do
cemitério e da tenção de ser um skydiver. Eu
poderia dizer que o silêncio da solidão é um artigo
de luxo, que devo aproveitar ao máximo, pois só
Deus sabe até quando isso vai durar. Eu estaria
mentindo para mim mesmo se acreditasse nisso,
pois sou atormentado pelas más lembranças do
passado, e a mais recente delas é daquela mulher
grávida que eu não pude ajudar como novo
membro dos skydivers. Será idiotice ou fraqueza
minha não conseguir encontrar paz no céu? Ou
talvez seja as duas coisas... (Gabriel pensando e
sendo interrompido pela campainha)

-- Quem será? (Gabriel abrindo a porta)

-- Oi! Meu nome é Irene, sou uma adaptadora de
planos. (Adaptadora de planos Irene)

-- É! Me disseram que alguém assim apareceria,
mas eu não esperava que fosse alguém tão bonita. (Gabriel)

-- Espero não ter lhe decepcionado. (Adaptadora de
planos Irene)

-- De forma nenhuma. (Gabriel)

-- Sabe, minha aparência incomoda um pouco
algumas pessoas, particularmente os homens.
(Adaptadora de planos Irene.)

-- Eu posso lhe garantir que o mesmo não acontece
comigo,Irene. (Gabriel)

-- É, me disseram que você não daria muito
trabalho nesse sentido, de esconder pensamentos,
pelo fato de ter sido um médium na sua última
vida. (Adaptadora de planos Irene)

-- Pois é, Irene, como pode ver eu já sou “escolado”
no assunto. (Gabriel)

-- A propósito, me desculpe ter lhe interrompido.
Seus pensamentos, embora amargos, não deixam de
ser interessantes. Você realmente passou por muita
coisa. (Adaptadora de planos Irene)

-- Estava ouvindo meus pensamentos pelo lado de
fora? (Gabriel surpreso)

-- Estava o tempo todo, mas eu não era a única.
Deve ter cuidado com seus pensamentos, senhor,
eles podem viajar por quilômetros. (Adaptadora de
planos Irene)

-- Na próxima vez eu tomarei mais cuidado. (Gabriel)

-- O que acha que deve ter acontecido com você,
senhor, pra ter se tornado um espírito tão
incomum, digo, tão diferente dos outros suicidas?
Acha que foi sorte? (Adaptadora de planos Irene)

-- Em primeiro lugar você quis dizer aberração, e
em segundo lugar acho que a sorte favorece os
fortes, o que você deve achar estranho, vindo de um suicida. (Gabriel)

-- Em primeiro lugar, eu não acho que o senhor seja
uma aberração, acho apenas que o senhor está
sendo duro consigo mesmo,falando tal coisa. E
em segundo lugar, você não se acha forte, pois
posso ler seus pensamentos e muito posso dizer
sobre o que o senhor acha sobre o si mesmo no
tocante a esse assunto. (Adaptadora de planos
Irene.)

-- Muito bom, é isso o que vê em meus
pensamentos? (Gabriel)

-- Na verdade tem mais coisa, quer saber? (Adaptadora de planos Irene)

-- Me surpreenda! (Gabriel)

-- Bom, você esta tentando me impressionar
tentando ser durão comigo e consigo, e acha que com isso vai fazer com que eu me interesse pelo senhor, já que a intenção é me paquerar. Tem mais uma coisa que eu precise saber? (Adaptadora de planos Irene)

-- Pra falar a verdade,tem sim! (Gabriel)

-- O quê? Eu não vejo mais nada em seus
pensamentos. (Adaptadora de planos Irene)

-- Mas eu vejo nos seus. Eu vejo que você é geralmente uma pessoa doce e amável com os seus
pacientes, mas está sendo um pouco dura comigo pra esconder o fato de que esta gostando de ser paquerada. Acho, senhorita Irene, que deveria tomar cuidado com seus pensamentos, eles podem viajar por quilômetros. Será que há mais uma coisa queeu precise saber? (Gabriel)

-- Definitivamente você não me deixa intimidada.
(Irene adaptadora de planos)

-- Digamos que somente um pouco sem jeito.
(Gabriel)

-- Acho que nós estamos acostumados a revelar o
que pensamos, não é mesmo? (Adaptadora de planos Irene)

-- Sim, muito acostumados. (Gabriel)

-- Bom! Você gosta de ler jornais? (Adaptadora de
planos Irene)

-- Não tive chance de descobrir isso ainda, em vida
eu era um rapaz muito doente, não me animava ler
jornais. (Gabriel)

-- Por causa da mediunidade? (Adaptadora de
planos Irene)

-- Sim. (Gabriel)

--Bom, de qualquer forma, eu peguei isso aqui no
seu correio. (Adaptadora de planos Irene)

-- O que é isso? (Gabriel)

-- É o jornal de Fortica, traz os acontecimentos da
cidade. (Adaptadora de planos Irene com o jornal
na mão)

-- Me deixe ver! (Gabriel pegando o jornal na mão
de Irene)

-- “Suicida aterroriza a cidade”, “suicida vira skydiver”,“será que o suicida é uma ameaça?” (Gabriel lendo a primeira página do jornal)

-- Sinto muito, eu não li o jornal hoje. Eu não sabia
e... (Adaptadora de planos Irene sendo
interrompida.)

-- É primeira página! A garotada me adora. Eu sou
o maior sucesso. (Gabriel devolvendo o jornal para
Irene)

-- Olha, eu vou falar com a editora para parar de
falar isso, tá? (Adaptadora de planos Irene com pena de Gabriel)

-- Não se dê ao trabalho, é como Maquiavel dizia: é preferível ser temido do que amado. (Gabriel)

-- É, mas eu vou falar com a editora assim mesmo,
não costumamos receber as pessoas desse jeito em
Fortica. Isso é uma falta de respeito. (Adaptadora
de planos Irene nervosa)

-- Olha, eu já estou acostumado. Esse tipo de coisa,
já não me afeta mais, é como eu dizia no tempo em
que eu vivia: “O que não me mata me deixa mais
forte.” (Gabriel)

-- Quem sabe agente não muda de assunto? Vamos
falar de algo mais alegre. (Adaptadora de planos
Irene)

-- Mudar de assunto? Falar de algo mais alegre?
Como o que, Irene? Quem sabe agente não fala um
pouco sobre sua coragem em vir aqui e ver o
“bicho papão”? Não deve ter sido fácil! Eu devo ter
estragado o seu dia, não é mesmo? Bem feito pra
você! Agora saia, por favor! Eu quero ficar sozinho. (Gabriel nervoso)

-- Em primeiro lugar, esse tipo de coisa lhe afeta
sim! E olha que eu nem precisei ler seus
pensamentos pra descobrir isso! Bastou somente
observar o seu bom humor depois de você ver o
jornal. (Adaptadora de planos Irene)

-- É,pode ser. Desculpa, eu não deveria ter sido tão
estúpido com você. (Gabriel)

-- Bom, em segundo lugar,eu vim aqui lhe levar
para o avaliador. (Adaptadora de planos Irene)

-- E o que é o avaliador? (Gabriel)

-- Bom, Gabriel, é... Ah! Estamos meio atrasados, na hora você vai saber, tá bom? (Irene distraída olhando o relógio)

-- Tudo bem. (Gabriel)

-- Então vamos. (Adaptadora de planos Irene)

-- E eu tenho escolha? (Gabriel)

-- Não. (Adaptadora de planos Irene)

-- Então lá vamos nós! (Gabriel saindo de casa com
Irene)

 Parte 10
Defecador 2

-- Olá! (Irene)

-- Ah! É a moça bonita da última vez! (defecador)

-- Sim, sou eu mesma! Como tem passado, Roberto? (Irene)

-- Ficando cada vez mais gordinho ra...! (Defecador rindo com um pedaço de fezes na boca)

-- Está pronto pra me falar o que está acontecendo? (Irene)

-- Não! (Defecador)

-- Então eu vou dizer o que eu acho que está acontecendo. Tudo bem pra você? (Irene)

-- Você não vai descobrir! Ninguém jamais saberá! (Defecador)

-- Você se sente sujo por uma coisa que você fez em vida, e por isso você come suas próprias fezes. É uma forma de autopunição. Você se sente uma “merda”, e por isso come suas próprias fezes. Estou certa? (Irene)

-- É! Talvez seja isso sim! Mas a verdade é que é tão gostoso.Tem certeza de que você não quer um pedacinho? (Defecador oferecendo um pedaço de suas fezes a Irene)

-- Tenho! (Irene)

-- É uma pena, está tão gostoso! Uh! Que delícia! (Defecador comendo suas fezes)

-- Droga! (Irene enjoada)

-- Uh...! Eu também quero! Diz pra mim! (Defecador comendo suas fezes)

-- Olha só, você quer passar o resto de sua eternidade no inferno ou em um lugar como esse? (Irene)

-- Não, não quero! (Defecador chorando)

-- Então me conta seu segredo e você sai daqui. (Irene)

-- Não posso! (Defecador)

-- Porque, Roberto? (Irene)

-- Porque eu tenho vergonha! (Defecador)

-- Tenta, Roberto! Por favor! Pra você sair daqui! (Irene)

-- É que é muito humilhante! (Defecador)

-- Nada pode ser mais humilhante do que isso! Comer as próprias fezes? Nada pode ser mais humilhante do que isso! (Irene)

-- Foi no colégio, na quarta série, (Defecador)

-- Fale! (Irene)

-- Eu estava com diarréia! (Defecador)

-- Que mais? (Irene)

-- Eu estava de bermuda e havia um pouco de cocô
escorrendo pela minha perna e... (Defecador)

-- E? (Irene)

-- E para os outros alunos não verem eu ... (Defecador)

-- Eu? (Irene)

-- Eu comi, “porra”! Tá satisfeita? Eu raspei da minha perna e comi! Comi a minha bosta! Que veio do meu rabo! Você consegue entender isso? Porra! Será que um homem não pode ter seus segredos? Droga! Agora eu ando por essa cidade de espíritos e não quero que ninguém saiba disso pelas minhas
lembranças! (defecador chorando)

-- Não precisa esconder suas lembransas dos outros espíritos. Acontece que todos eles têm “podres” e não irão rir de você, entendeu? Pronto! Acabou! Você está limpo! (Irene)

-- Você não vai rir de mim agora? (Defecador)

-- Não, Roberto! Eu não vou rir de você. Eu estou feliz por você conseguir se libertar. Isso não é engraçado. (Irene vendo as fezes da gaiola do defecador desaparecer)

-- Droga, tantos anos nessa sujeira! (Defecador)

-- Calma, vou mandar soltarem você. (Irene)

-- Obrigado! Muito obrigado! (Defecador)

-- Você vai ver que uma nova vida o guarda! E muito boa! (Irene)

-- Tá! Obrigado! (Defecador)

Parte 11
O garoto

  Meu próximo caso envolve um garoto. Aqui na ficha diz que ele tem medo que leiam seus pensamentos, aqui também diz que quando isso acontece ele tenta correr ou se esconder, e quando encurralado ele entra em pânico, começando a chorar e a gritar. Aqui também diz que ele não é agressivo. Pois muito bem, vou ver o que ele tem a dizer. (Irene se aproximando da gaiola do garoto)

-- Oi! Meu nome é Irene, sou sua nova adaptadora. (Irene vendo o garoto sentado em posição fetal, escondendo o rosto nas pernas, mas chorando baixinho)

-- Oi! (Garoto chorando baixinho)

-- Você quer me dizer seu nome? (Irene)

-- André.(Garoto parando de chorar)

-- André! Pode me dizer a idade que você tinha quando morreu? (Irene)

-- Treze. (Garoto)

-- Você quer me contar o que esta acontecendo, André? (Irene)

-- Eu bem que gostaria, mas é horrível demais! (Garoto voltando chorar)

-- Não quer ao menos tentar? (Irene)

-- Eu não consigo! (Garoto voltando a chorar)

-- Consegue sim! É claro que você consegue, confie em mim! (Irene)

-- Por favor, não! É horrível demais! (Garoto apavorado)

-- Calma! Vamos com calma, está bem? (Irene)

-- Tudo bem. (Garoto se acalmando)

-- Quem sabe você não começa me dando uma pista e eu vou perguntando. Que tal? (Irene)

-- Tem relação com minha família. (Garoto)

-- Com seu pai? (Irene)

-- Não, tem haver com minha mãe e minha irmã mais velha! (Garoto)

-- O que têm elas? (Irene)

-- Elas eram muito bonitas. (Garoto)

-- E você gostava delas? (Irene)

-- Sim! Mas de uma outra maneira! (Garoto)

-- E que maneira seria essa, André? (Irene)

-- Da maneira errada! Você entende? (Garoto)

-- Sei. E seu pai? Você tinha ciúmes dele? (Irene)

-- Não, não. Ele morreu alguns meses depois que eu nasci. (Garoto)

-- Sei! Tem mais coisa? (Irene)

-- Bem... (Garoto)

-- Tem sim! Eu posso ver em seus pensamentos. (Irene)

-- Não! Por favor! Não...! (Garoto apavorado)

-- Tá bom, tá bom! Desculpa! Eu não quis... (Irene sendo interrompida)

-- Por favor, não faça mais isso sem meu consentimento!(Garoto se acalmando)

-- Tábom! Me desculpa! Não vou fazer novamente! Prometo! (Irene)

-- Tudo bem! (Garotinho)

-- Então continua. Por favor! (Irene)

-- Elas gostavam de trocar a roupa na minha frente e... Bem... (Garoto nervoso)

-- E? (Irene)

-- Elas também gostavam de andar nuas pela casa! (Garoto)

-- As duas? (Irene)

-- Sim! As Duas! E constantemente! (Garoto)

-- E isso lhe deixava nervoso? (Irene)

-- Sim! Muito! (Garoto)

-- Tem mais? (Irene)

-- Tem! (Garoto)

-- Veja! Eu não estou mais lendo seus pensamentos! (Irene)

-- Eu sei! Obrigado! (Garoto)

-- Prossiga. (Irene)

-- Elas ficavam me olhando! (Garoto)

-- Olhando de que maneira? (Irene)

-- Da maneira errada! É como se elas quisessem me provocar com aqueles olhares! Olhos cheios de...! Você sabe, não é? (Garoto)

-- Sei. (Irene vendo garoto vomitar)

-- Me desculpe! Estou muito nervoso! (Garoto vomitando)

-- Tudo bem! É só tirar o vômito do seu pensamento que ele desaparece! (Irene)

-- Tudo bem. (Garoto)

-- Isso mesmo! (Irene vendo o vômito desaparecer do garoto)

-- Olha eu quero parar por hoje, pode ser? Eu não estou bem. (Garoto)

-- Está bem, vamos continuar outro dia. Mas você tem que se preparar pra falar comigo! Você tem que me dizer tudo, entendeu? (Irene)

-- Sim, entendi! (Garoto)

-- Não se preocupe! Logo, logo você vai estar dando o fora daqui! Entendeu? (Irene)

-- Entendi! (Garoto)

Parte 12
Morto vivo 2


-- Olá, Souza! (Irene vendo Morto vivo comendo um bife na sua bandeja de comida)

-- Oi, dona Irene! Eu queria mesmo falar com a você. (Irene)

-- Então fale! Acho que é por isso que estou aqui. Que bom que é só um bife. (Irene se lembrando do defecador)

-- Bem, quando vocês vão me tirar dessa prisão maluca? Isto é, minha mulher deve estar preocupada! Eu preciso de um telefonema ao menos. Você entende? Não me leve a mal, a comida aqui não é tão ruim, se parece até com a da minha esposa. Estranho não é? (Morto vivo)

-- Vamos fazer o seguinte: o que você gostaria de comer? (Irene)

-- Camarão! Eu adoro camarão! (Morto vivo)

-- Então olha a sua bandeja! (Irene)


-- Como? Tinha um bife e um ovo frito aqui! (Morto vivo,vendo uma porção de camarão frito na bandeja)

-- Agora experimente! (Irene)

-- Hmm! É camarão mesmo! Como isso é possível? (Morto vivo comendo o camarão)

-- Agora imagine algo que você queira beber muito. (Irene)

-- Coca cola? (Morto vivo)

-- Agora olhe do lado da bandeja! (Irene)

-- Tem um copo de coca cola aqui! (Morto vivo)

-- Sinta–se a vontade para comer,beber e fumar o que quiser,Souza. Use sua criatividade, vamos! (Irene)

-- Como isso é possível? (Morto vivo)

-- Tudo isso vem única e exclusivamente da sua mente imaginativa,Souza. (Irene)

-- É? (Morto vivo)

-- Sim! E quer saber por que isso é possível? (Irene)

-- Por quê? (Morto vivo)

-- Porque você está morto, passou dessa para melhor! Entendeu? (Irene)

-- Não pode ser! (Morto vivo)

-- Quer saber? Imagine esse vaso sanitário desaparecer. (Irene)

-- Como é possível? E agora como eu vou usar o banheiro? (Morto vivo vendo o vaso desaparecer)

-- Você não precisa usar o banheiro, Souza. Você está morto, mas acha que não, e por isso você continua usando o banheiro depois de morto. (Irene)

-- Entendi! Então é verdade! (Morto vivo)

-- Sim! É isso que estamos tentando lhe dizer! E há bastante tempo! (Irene sorrindo)

-- Droga! Então eu morri? (Morto vivo)

-- Mas não se preocupe! Você vai para um lugar legal quando sair daqui, isso vai acontecer logo em seguida. Posso ver em sua mente que você se convenceu disso, de que está morto.(Irene)

-- Fazer o que, não é? Morri! (Morto vivo triste)

-- Agora pra viver novamente só reencarnando! Mas o Souza você não será nunca mais em vida. Acontece com todo mundo! Aconteceu comigo, aconteceu com o Jamiel! Um dia todos nós temos que morrer, até uma criança é capaz de saber que um dia ela vai morrer, portanto, meu amigo, sua hora chegou! Sinto muito mas não existe maneira de ressuscitá-lo! (Irene)

-- Eu imagino. Obrigado pela ajuda! (Morto vivo)

-- De nada! (Irene)


Parte13
Intimidador 2

-- Olá! (Irene)

-- Oi, senhorita Irene! Como vai? (Intimidador)

-- Agora que eu estou aqui com você? Péssima! (Irene)

-- É! Eu acho que provoco esse efeito nas mulheres,senhorita Irene. (Intimidador)

-- Com todacerteza! Mas e aí? Vamos ter mais umaconversa desagradável sobre minha vida íntima? (Irene)

-- Vamos! Com toda certeza! (Intimidador)

-- Então o que está esperando? Completa meu dia! (Irene)

-- Então vamos falar de vagina! (Intimidador)

-- Vagina? (Irene)

-- Sim! Sobre sua vagina! (Intimidador)

-- O que quer saber sobre minha vagina? (Irene)

-- Ela é grande não é? (Intimidador)

-- Ela é enorme! Cabe um elefante dentro dela! Eu sou uma tremenda arrombada! Por quê? Deu pra notar? (Irene)

-- Ra...! (Intimidador rindo)

-- Ra...! (Irene rindo)

-- Sabe porque eu perguntei isso? (Intimidador)

-- Deixe-me adivinhar... você é ginecologista? Acertei? (Irene)

-- Não! É porque você esta pensando no tamanho do pênis do seu ex-namoradinho enquanto fala comigo. O dele era bem grande! (Intimidador)

-- Droga! (Irene)

-- Você tem uma vagina bem dilatada, e portanto, dificilmente um homem pode lhe dar prazer, a menos que tenha o pênis grande! E é por isso que você se apaixonou por ele! Como as mulheres são simples, até depois da morte, e tem homens que
ainda não entendem as mulheres. (Intimidador)

-- Agora que você já sabe tudo sobre o pênis do meu ex-namorado e da minha vagina, podemos falar um pouco de você? Mas só um pouquinho! Eu prometo! (Irene)

-- De mim? Mas eu sou tão chato! Sem nenhum segredinho pra contar ra,...! (Intimidador)

-- Realmente! Sua mente chega ser tão limpa que é um espanto! Embora você tenha uma boca muito suja, é claro! (Irene)

-- Então, Irene, o que quer saber sobre minha vidinha chata? (Intimidador)

-- Você realmente achava sua vida chata, Jeferson? (Irene)

-- Não! Na verdade eu gostava muito dela. (Intimidador)

-- Me fale a respeito, Jéferson? (Irene)

-- Eu era casado, pai de família, duas crianças, um casal e uma esposa que eu amava. (Intimidador)

-- O que você fazia? (Irene)

-- Eu era pastor! (Intimidador)

-- Oi, Irene! O Gerente está lhe esperando! (Jamiel chegando)

-- Já estou indo, Jamiel! Que pena, Jéferson, agora que a coisa estava esquentando, não é? (Irene)

-- É! Salvo pelo gongo! (Intimidador)

-- Com certeza! (Irene se levantando de uma cadeira e saindo)

-- E aí, Irene? Como foi seu dia? (Jamiel)

-- Produtivo! Esperava o que? Que eu dissesse bom? Ninguém tem um dia bom no Salão Diamante! No mínimo produtivo. (Irene)

-- Eu hein! (Jamiel)


Parte 14
Relatório 2

(Gabinete do gerente)

-- E aí, como foi seu dia? (Gerente)

-- É a segunda pessoa que me pergunta isso hoje. (Irene)

-- E como foi? (Gerente)

-- Digamos que muito produtivo. (Irene)

-- Hmm...! Isso é bom! Quer começar com o relatório? (Gerente)

-- Em primeiro lugar, vamos falar do defecador. (Irene)

-- Sim, eu soube! Você o socializou! Bom trabalho! (Gerente)

-- Não só isso! Isso prova que eu estava certa, era uma pequena coisa do passado dele! E logo da infância! Acredita nisso? (Irene)

-- As dores de um homem não são as mesmas do outro, senhorita Irene. O que dói em um, pode não doer em outro. (Gerente)

-- Hmm...! Filosófico hein? (Irene)

-- Não sou um homem brilhante, mas tenho os meus momentos, senhorita Irene. Prossiga! (Gerente)

-- Bom, o outro que se socializou foi o morto vivo. Nesse caso foi fácil, foi só mostrar como nosso mundo dos espíritos difere do dos vivos. Deu certo, ele finalmente entendeu que está morto. (Irene)

-- Bom! Muito bom! Mas será que não haverá recidivas nesse caso? Digo, ele descobriu que está morto, mas não sabe como lidar com isso. Talvez seja cedo demais para sermos otimistas, não acha? (Gerente)

-- Sinceramente, não acredito! Ele está muito tranquilo em relação aos demais espíritos. Mas enfim, é pagar pra ver! (Irene)

-- Concordo! Jamiel vai instruí-lo daqui pra frente e com o tempo veremos. Prossiga! (Gerente)

-- Bem, depois temos o garoto, qual é mesmo o nome dele? (Irene)

-- André! (Gerente)

-- Claro! Mas continuando, ele me preocupa! E muito! (Irene)

-- Por quê? (Gerente)

-- Porque é um caso de incesto, e bem grave. Os pensamentos dele estão muito confusos, acho que vai ser um caso complicado. (Irene)

-- Incesto? Com quem? (Gerente)

-- Ou com a mãe, ou com a Irmã... Olha! Eu não me surpreenderia se fosse com as duas! (Irene)

-- Quer dar o caso pro Jamiel? (Gerente)

-- Não! Por pior que seja a situação desse garoto eu estou ganhando a confiança dele, fizemos alguns progressos, ele está falando. Você entende? (Irene)

-- Sim! Se mudarmos agora de adaptador nós iremos confundir a cabeça dele. (Gerente)

-- Isso mesmo! (Irene)

-- E quanto ao intimidador? É com esse que eu estou realmente preocupado! (Gerente)

-- Comigo ou com ele? (Irene)

-- Para ser honesto, com você. Esse cara é doente! Você entende? (Gerente)

-- É! Na verdade tirando nosso “agradabilíssimo” papo sobreo tamanho da minha vagina e do tamanho do pênis do meu ex-namorado, acredito que fizemos algum progresso e... (Irene sendo interrompida)

-- Tamanho do quê? Minha nossa senhora, esse cara está tentando lhe enlouquecer e você está entrando na dele! (Gerente)

-- É serio! Ele começou a me falar sobre a vida dele! Ele era pastor, pai de família e... (Irene sendo interrompida)

-- É assim que começa! Você não entende, não é? Esse cara é um doido! Um maluco! Eu não sei porque permiti deixá-lo aqui no salão diamante, eu podia tê-lo despachado! Mas não fiz! (Gerente)

-- Calma! Eu sei que posso resolver ocaso! Confie em mim! Além do mais, não me parece um caso tão difícil assim. (Irene)

-- Já parou pra pensar que talvez seja isso que ele quer que você pense? (Gerente)

-- Você me deu uma chance de resolver esse caso, agora vai ter que confiar em mim! (Irene)

-- Está bem! Mas cuidado! (Gerente)

-- Estábem! Vou tomar. (Irene)

-- Bom, dona Irene! A senhora está dispensada por hoje! Bom descanso! (Gerente)

-- Obrigada, Senhor! Igualmente! (Irene saindo do gabinete)


Parte 15
Aconchego do lar 2

(Irene em seu apartamento em Fortica)

-- Meu primeiro dia produtivo naquele lugar maluco. Que bom!(Irene falando sozinha,pensando na segunda vez que viu Gabriel e acendendo um cigarro)

-- Oi, sou eu a Irene! (Irene vendo Gabriel indo até
a porta depois de ela ter tocado a campainha)

-- Já vou abrir!(Gabriel)

-- Não precisa!(Irene passando através da parede)

-- Então,Irene, as portas não funcionam com
você? (Gabriel)

-- É que eu tento unir o útil ao agradável, assim
você não precisa abrir a porta. (Irene a adaptadora
de planos)


-- Eu, ao contrário, uno o inútil ao desagradável, fico aqui sem fazer nada pensando besteira. (Gabriel)

-- É, eu ouvi do lado de fora você pensando. (Irene a adaptadora de planos)

-- É, a privacidade não deve ser o forte dos
cidadãos de Fortica. (Gabriel)

-- É, eu lhe disse que seus pensamentos não ficam
em quatro paredes depois que você morre. Mas se
serve de consolo eu não fui a única que escutou, todo mundo que passa na rua aqui perto também escutou; tente ver seus pensamentos como uma poluição sonora, querendo ou não, todo mundo scuta. (Irene adaptadora de planos.)

-- Por que veio, Irene?(Gabriel)

-- Para dar continuidade a sua adaptação de planos.
Hoje aprenderemos como criar objetos com as
mãos. (Irene adaptadora de planos)

-- Engraçado! Eu tinha um amigo espírito que
criava coisas com as mãos, mas confesso que nunca
consegui. (Gabriel)

-- Tente pensar em algo bom, em algo que você
comia ou bebia durante a vida e de que gostava muito. (Irene a adaptadora de planos)


-- Estou pensando. (Gabriel pensando em um
cigarro)

-- Agora tente criar o cigarro fazendo seu formato
com as mãos,imaginando o gosto e botando ele na
boca. (Irene adaptadora de planos)

-- Uau! Deu certo! (Gabriel fumando)

-- E como é o sabor? (Irene adaptadora de planos)

-- É bem parecido com o original, mas parece que
falta alguma coisa. (Gabriel)

-- É a nicotina. Como você não tem cérebro, você
não pode sentir os efeitos do cigarro ou de qualquer
droga, somente se lembrar do sabor de maneira
quase real, a ponto de você criar um cigarro com as
mãos quase real. (Irene adaptadora de planos)

-- Que legal! Se bem que o gosto do pão com carne
é mais parecido com o original. (Gabriel criando e
comendo um pão com carne)

-- É porque a comida, de modo geral, exerce menos
influência no cérebro do que o cigarro ou qualquer
outra droga, e por isso você sente melhor o sabor.
(Irene adaptadora de planos)

-- É, mas mesmo assim não é a mesma coisa. (Gabriel)

-- Com certeza não. (Irene adaptadora de planos)

-- Vou tentar criar um café. (Gabriel, criando e
bebendo um café)

-- Tente! (Irene adaptadora de planos)

-- Está horrível! (Gabriel)

-- É porque você não bebia muito café em vida, e
provavelmente não se lembra do gosto. Experimente esse!(Irene adaptadora de planos criando uma xícara de café e dando a Gabriel)

-- Esse sim está bem melhor. (Gabriel bebendo café)

-- Mesmo assim não é igual ao original. (Irene
adaptadora de planos)

-- Posso criar objetos também? (Gabriel criando
uma barra ferro com as mãos)

-- Claro! Agora tente uma música! (Irene adaptadora de planos)

-- Que legal! (Gabriel e Irene ouvindo música)

-- Bem, agora vem o próximo passo: conhecer a cidade de Fortica. (Irene adaptadora de planos)

-- Como assim? (Gabriel)

-- Passeio! (Irene adaptadora de planos)

-- Entendo, mas não sei se é uma boa ideia.
(Gabriel)

-- E quem disse que é uma opção? Vamos! (Irene
adaptadora de planos)

-- É, e viva a democracia. Mas se eu for linchado a
culpa vai ser sua. (Gabriel saindo com Irene)


Parte 16
O passeio

-- Nossa como é linda essa cidade, que pôr-do-sol
maravilhoso! Há prédios e casas por todos os lugares também. (Gabriel passeando em Fortica com Irene, a adaptadora de planos)

-- É por isso que costumamos dizer que estamos no
paraíso por aqui. Mas não se iluda, o sol, assim como a lua que surgirá dentro em breve, e até mesmo as nuvens, não são de verdade. (Irene)

-- É mesmo? Parecem tão reais! (Gabriel)

-- O sol, como quase todo o plano de Fortica, foi
construído pelos construtores. (Irene)

-- E como eles fizeram? Com pregos, parafusos e
martelos? (Gabriel)

-- Na verdade eles fizeram da mesma maneira que
nós dois criamos seu cigarro e “lanche”. (Irene)

-- Pelo pensamento? (Gabriel)

-- Isso! Os construtores possuem pensamentos
poderosos, é muito difícil ser um construtor, seus
pensamentos vão além do alcance da maioria de
nós. (Irene)

-- Imagino, isso tudo é tão real que somente um
gênio poderia criar tais coisas. Quem diria, Fortica
é o plano dos sonhos. (Gabriel)

-- Nem tudo é sonho, todos os espíritos são reais. E
todos os planos são feitos da mesma maneira.
(Irene)

-- E sobre Deus e o diabo, eles existem? (Gabriel)

-- O diabo não! Existe apenas o que vocês chamam
de almas penadas, mas Deus parece que é real.
(Irene)

-- Como assim “parece que é real”? Vocês nunca o viram? (Gabriel)

-- Não! Mas acreditamos que deve ter havido um
primeiro espírito, que criou todos os outros planos
e espíritos. (Irene)

-- Bom, morrer e não ver Deus é meio frustrante
pra mim. (Gabriel)

-- Para a maioria é, Gabriel, assim como foi para
mim. Mas aqui encontrei a felicidade, e para mim
isso é mais do que o suficiente. (Irene)

-- E os outros planos, quantos existem? (Gabriel)

-- Não se sabe ao certo, mas acredita-se que o número chegue quase perto do infinito. (Irene)

-- Mas me fale de você, você morreu do quê?
(Irene)

-- Eu morri aos setenta anos, de tuberculose. (Irene)

-- Então euestou falando com uma garota de
setenta anos! (Gabriel)

-- Isso, uma garota com setenta anos com aparência
de vinte cinco anos. (Irene)

-- Isso sim é incrível. (Gabriel)

-- Tem razão, Gabriel, é incrível. Bom, nosso
passeio acabou. Por hoje é só, tenho que atender
outras pessoas. (Irene)

-- Então tá, gatinha, até a próxima vez. Setenta
anos? Mas que coisa. (Gabriel)


Parte 17
O garoto 2


-- Olá! (Irene)

-- Olá! (Garoto encostado em um canto do chão em posição fetal)

-- Pensou na nossa conversa, André? (Irene)

-- Pensei! (Garoto)

-- Então você sabe que vai ter que me contar tudo pra poder sair daqui. (Irene)

-- Sei! (Garoto)

-- Bem, você estava falando que havia uma certa ligação atrativa com sua mãe e sua irmã mais velha? É isso? (Irene)

-- Sim! Depois do que eu lhe disse achei que as coisas iriamacabar por aí! Mas elas não acabaram, pelo contrário! Elas foram longe demais, mais longe do que eu acreditava que fosse possível chegar! (Garoto)

-- Entendo. Prossiga. (Irene)

-- Olha só, eu gostaria que houvesse uma maneira mais fácil pra lhe contar o que houve, mas não tem! (Garoto)

-- Eu sei! Sinto muito. (Irene)

-- Tudo começa com minha irmã. (Garoto)

-- O que tem ela? (Irene)

-- Ela além de ficar me olhando daquele jeito esquisito que eu havia lhe contado, também me pedia frequentemente que a ajudasse a fechar o sutiã. E... certo dia... (Garoto gaguejando)

-- Continue! (Irene)

-- Começamos a brincar, ela estava sem roupa e me beijou, então fizemos amor. Foi tudo tão rápido. (Garoto chorando)

-- Entendo. (Irene)

-- Começamos a fazer amor todos os dias, à noite quando íamos dormir. Ela gostava de dormir nua, então passamos a dormir juntos, eu e ela! (Garoto chorando)

-- Você gostava de fazer amor com sua irmã? (Irene)

-- Sim! Eu a amava! Ela era linda! E passou ser tudo pra mim! Ela tinha 24 e eu era só um garoto! (Garoto chorando)

-- Entendo. Sua mãe desconfiava de algo? (Irene)

-- Aí vem á pior parte.Eu achava que não, mas... (Garoto gaguejando)

-- Mas...? (Irene)

-- Eu cheguei um dia em casa depois da aula e... (Garoto gaguejando)

-- E? (Irene)

-- Peguei minha mãe nua com minha irmã na cama! As duas estavam fazendo amor na cama de casal da minha mãe, e a porta do quarto estava aberta! Eu entrei e fiquei parado ali por um tempo, olhando! Então... (Garoto gaguejando)

-- Então? (Irene)

-- Elas me perguntaram se eu não queria brincar também! (Garoto)

-- E? (Irene)

-- E eu fiz amor com as duas! (Garoto chorando)

-- Sei! (Irene)

-- Nós passamos a dormir os três na mesma cama, pelados! Andávamos pelados pela casa e fazíamos amor frequentemente! Eu com minha irmã e minha mãe! Na maioria das vezes ao mesmo tempo! É horrível! O pior é que eu gostava! Eu me apaixonei pelas duas! Não tínhamos limites na cama, fazíamos de tudo! Era horrível! (Garoto chorando)

-- Olha! Sei que o que vou dizer não vai fazer muita diferença agora, mas você deveria acreditar no meu ponto de vista. (Irene)

-- E qual é ele? (Garoto)

-- Embora possa parecer bizarro em um primeiro momento, vocês se amavam e isso não é ruim, embora pareça ser. Mas vocês se gostavam, e é isso que importa, seja da maneira que for! O que eu estou querendo dizer que se isso fosse algo muito ruim, você não estaria aqui! Estaria com os espíritos baixos em outro plano, você entende, André? (Irene)

-- Entendo! (Garoto parando de chorar)

-- Então você está com sua mente limpa! Eu não consigo ver mais nada, você está limpo, não está escondendo nada. Viu como é bom ficar sem esse “piano” na cabeça? (Irene)

-- Sim! É maravilhoso! Eu estou livre! (Garoto)

-- Sei que é, André! Você já está quase saindo daqui. Só faltam algumas burocracias e você estará fora desse lugar. (Irene)

-- Muito obrigado! (Garoto)

Parte 18
Bizarra

 Segundo o relatório minha próxima paciente tem um rosto deformado, e ela é conhecida como bizarra. Ela veio para o salão diamante porque sempre andava com o rosto deformado assustando os cidadãos de Fortica. Aqui diz que ela em vida
era extremamente bonita, mas tinha complexo de sua beleza. Sua enorme beleza aparentemente a causara muitos problemas. Aqui diz que sua beleza poderá ser o ponto de partida para descobrir o porquê da sua má adaptação na cidade de Fortica. Pois Bem! Vamos lá! (Irene lendo o relatório da sua próxima paciente e indo até a gaiola da mesma)

-- Olá! (Bizarra se aproximando de Irene, mas dentro da gaiola. Bizarra tem um rosto em parte esqueleto em parte humano, sendo que seu lado direito é a parte esqueleto, e o esquerdo a parte humana, ela também tem um corpo muito bonito e totalmente humano)

-- Prazer, sou Irene! Sou sua nova adaptadora de planos. (Irene sentada em uma cadeira do lado de fora da gaiola)

-- É, eu imaginava! (Bizarra)

-- Posso lhe chamar de bizarra ou você tem um nome? (Irene)

-- Todos têm um nome,Irene, mas nem todos têm um rosto ra,ra,ra ... (Bizarra rindo)

-- E então? O que vai ser? (Irene)
-- Pode me chamar de Márcia. (Bizarra)

-- Márcia,você aparentemente não consegue mudar seu rosto, é isso? (Irene)

-- Segundo o especialista desse lugar meu rosto deformado éfruto da decomposição do meu corpo em vida. Aparentementequando deixei meu corpo adotei o rosto do mesmo que estava em decomposição. (Bizarra)

-- Entendo! Mas... por que não o restante do seu corpo? Digo você tem um corpo perfeito! E, segundo o que está aqui, é o mesmo corpo que você tinha em vida sem modificações. (Irene)

-- Tá aí um mistério. (Bizarra sorrindo)

-- Me fale sobre sua vida.Me parece que a sua grande beleza foi um problema pra você, estou certa? (Irene)

-- Sim, foi! E muito! Eu gostaria de não ter sido tão bonita.(Bizarra)

-- Me explique então. (Irene)

-- Os homens se aproximavam de mim não em função da minha amizade, mas sim pensando em sexo. As minhas amigas que não eram amigas tinham inveja de mim, e medo, pois ao me apresentar aos seus namorados e aos seus amigos, todos eles só queriam saber de mim e as deixavam de lado. Eu era o símbolo sexual da escola toda. Todos queriam me comer, desde os meus colegas de classe, meus professores, diretor e até o faxineiro. Alguns, como meu professor de matemática, ameaçavam me reprovar caso eu não desse uma “chupadinha”nele. (Bizarra)

-- E você ia bem nas provas do seu professor de matemática? (Irene)

-- Ia! E muito! Mas não adiantava! Ele mudava minhas notas, inventava erros em minhas provas que não existiam! Enfim, todo o fim de mês lá ia a Márcia dar uma “chupadinha”naquele porco gordo fedorento a cigarro! (Bizarra)

-- E não tentou falar com seus pais? (Irene)

-- Ha! Em casa era até pior! Meu pai e meu tio ficavam me olhando de um jeito estranho. Minha mãe e minha tia tinham ciúmes de mim! (Bizarra)

-- E o diretor da escola? (Irene)

-- Ha! Esse aí quando tentei falar com ele me disse que se eu fosse pra cama com ele eu não precisaria dar uma “chupadinha” em mais ninguém. ( Bizarra)

-- Entendo.(Irene)

-- Você não sabe como é bom ser feia! Nunca fui tão feliz como sou agora! (Bizarra)

-- Márcia, você fazia academia? (Irene)

-- Não! Esse meu corpo vem de berço, nunca precisei fazer academia. (Bizarra)

-- Como foi que você morreu? Também teve relação com sua beleza? (Irene)

-- Fui assassinada, e sim foi por causa da minha beleza. (Bizarra)

-- Como foi? (Irene)

-- Bom, na época eu estava saindo com um rapaz, e um outro rapaz que era apaixonado por mim me matou por ciúmes. (Bizarra)

-- Que horror! (Irene)

-- Era sim! Acredite! (Bizarra)

-- Bom, por hoje é só. Mas quero que saiba que eu farei o possível para ajudá-la, está bem? (Irene)

-- Sim, muito obrigada. (Bizarra)


Parte 19
O intimidador 3

-- Olá, Jéferson! Gostando da sua longa estadia no hotel gaiola cinco estrelas? (Irene)

-- Não é tão ruim assim! (Intimidador)

-- Então prefere ficar aqui acorrentado? (Irene)


-- Digamos que saber o tamanho da sua vagina não tem preço! São segredinhos como o seu que me deixam com esse lindo sorriso no rosto, daí vejo como é bom existir re...! (Intimidador rindo)

-- Então você gosta da minha companhia? (Irene)

-- Sim! E você nem imagina o quanto! (Intimidador)

-- Então me diga,Jéferson, você estava dizendo que era pastor e pai de família, é isso? (Irene)

-- Pastor! Isso! O senhor já me rendeu uns bons trocados. (Intimidador)

-- Então você era pastor pelo dinheiro, é isso? (Irene)

-- Não me leva a mal, eu gostava do que fazia, gostava de Deus. (Intimidador)

-- Então agora você não gosta mais? (Irene)

-- Não como antes. (Intimidador)

-- Por quê? (Irene)

-- Digamos que a vida após a morte não era tudo aquilo que eu esperava ra...! (Intimidador rindo)

-- Aqui no seu relatório diz que você era um ótimo pai de família, é verdade? (Intimidador)

-- Não sei se eu era, mas me esforçava pra ser, adorava meus filhos e minha mulher. Eles eram minha vida. (Intimidador)

-- Eles faleceram num acidente de carro, não foi? (Irene)

-- Tá aí na ficha? (Intimidador)

-- Tá sim! (Irene)

-- É, morreram. Foi trágico. (Intimidador)

-- É! Perder toda a família num acidente de carro realmente não deve ser fácil. (Irene)

-- Nós quatro estávamos no carro na hora do acidente. Só eu sobrevivi. (Intimidador)

-- Mas aparentemente isso não abalou a sua fé. Aqui no seu relatório diz que você continuou a ser pastor, estou certa? (Irene)

-- Sim! Isso me fez me aproximar mais ainda de Deus. Acreditava que Deus iria cuidar deles pra mim se eu continuasse a espalhar a fé do senhor. (Intimidador)

-- Sim, aqui confirma que você morreu crente em Deus. Aqui na ficha diz que você continuou sendo um bom homem, e um pastor ainda melhor depois que sua família se foi. Me diz uma coisa, você não quis se casar novamente? Por quê? (Irene)

-- Não, eu não quis, eu acreditava que o amor é eterno. Tolo eu fui. (Intimidador)

-- Por quê? Não acredita mais? (Irene)

-- Não! Depois que eu morri, eu e minha família nos separamos, eu não prestei muita atenção naquela parte do casamento que diz: até que a morte nos separe. (Intimidador)

-- Sei. Isso é comum, os familiares que morreram se distanciarem de nós quando morremos. O tempo passa, faz parte da vida, pois o que seria deles e de nós se passássemos a vida toda nos lembrando uns dos outros. Acredito que a natureza cuida disso, nos fazendo esquecer uns dos outros. (Irene)

-- Concordo. (Intimidador)

-- O que me leva então a seguinte pergunta. (Irene)

-- Qual? (Intimidador)

-- O que você está fazendo aqui? Isto é, não faz sentido! Você era pra ser a última pessoa a ficar nessa gaiola, sem falar que você é o mais antigo dos pacientes. Eu não sei mais como lhe ajudar! Seus pensamentos estão limpos! Você foi um bom
homem em vida! Aqui diz que você é agressivo, mas se é, eu não consigo entender o por quê? (Irene)

-- Mas eu sim. (Intimidador)

-- Então, em nome de Deus, fale o porquê pra sair logo desse buraco! (Irene)

-- Não sei se posso! (Intimidador)

-- Pode e deve! (Irene)

-- Está bem! Eu falo! (Intimidador)

-- Então fala! (Irene)

-- É o gerente! (Intimidador)

-- O que tem ele? (Irene)

-- Ele me quer aqui. (Intimidador)

-- E por quê? (Irene)

-- Vou lhe contar tudo desde o começo. (Intimidador)

-- Então conte! (Irene)

-- Quando cheguei a Fortica, fiquei meio assustado e por isso fiquei agressivo, então vim pra cá. Eu fui curado, mas o gerente achou que seria mais útil me manter aqui pra espionar os outros adaptadores. (Intimidador)

-- Não pode ser! (Irene)

-- Mas é a mais pura verdade. (Intimidador)

-- Eu não sei se posso acreditar em você! (Irene)

-- Esta vendo! É por isso que eu não contei! Não adianta! É perda de tempo! E depois, se você tentar me ajudar acabará como os outros adaptadores, sendo expulsa daqui e eu sendo incriminado como responsável. (Intimidador)

-- Você tem como provar isso? (Irene)

-- Tenho! Na próxima seção! Você está atrasada para o relatório com o gerente, não podemos deixá-lo suspeitar de nada. Vá! Amanhã nos falamos! (Intimidador)

-- Está certo! Veremos a relevância disso na próxima seção. (Irene)

-- E lhe juro! É a ultima vez que tento sair daqui com a ajuda de outros! Não quero comprometer mais ninguém inocente. (Intimidador)

-- Veremos, Jéferson! Veremos! (Irene)

-- Irene! (Intimidador)

-- O quê? (Irene)

-- Confio em você! (Intimidador)

-- Aposto que sim, Jéferson! Só não sei se posso dizer o mesmo de você. (Irene saindo)


Parte 20
Relatório 3

-- E aí, Irene, como foi seu dia? (Gerente)

-- Produtivo! (Irene)

-- Sabe, tenho ouvido isso muitas vezes de você
ultimamente. Acredite garota, você me espanta. Faz tempo que eu não lido com uma adaptadora tão boa, se continuar assim ficaremos sem pacientes. (Gerente)

-- Não sou uma garota brilhante,mas tenho meus momentos. (Irene)

-- Provavelmente. (Gerente)

-- Bem, confirmadas as minhas suspeitas sobre o garoto André.Foi mesmo incesto, acertei na mosca, com a irmã e a mãe. (Irene)

-- Minha nossa! (Gerente)

-- Para maiores detalhes você pode ver o que eu escrevi na ficha dele. (Irene)

-- Vou ler. Acredito que a mente desse garoto deve estar uma bagunça. (Gerente)

-- Não está não, ele gostava. O problema todo estava nos outros saberem da sua intimidade com as duas, ele mesmo gostava de fazer amor com elas. (Irene)

-- Chocante! (Gerente)

-- É! (Irene)

-- Sabe, Irene, Jamiel me contou que seus pacientes como defecador, morto vivo iriam sair em breve, eles estão muito bem, diga-se de passagem. Você fez um ótimo trabalho. (Gerente)

-- É! Eu faço o que posso! E o que não posso também. (Irene)

-- Eu soube da sua nova paciente, a Bizarra. Acha que ela tem chance? (Gerente)

-- No caso dela, mesmo que um pouco preocupante, ela tem sim. (Irene)

-- Me fale a respeito. (Gerente)

-- A pessoa que escreveu a ficha dela estava certa em tudo, exceto... (Irene)

-- Exceto? (Gerente)

-- Exceto que está faltando algo na ficha dela. Algo que pretendo descobrir. (Irene)

-- Como o quê? (Gerente)

-- Algo sobre o passado dela, acho que o pai e o tio dela a estupravam. Ela alega que o professor e o diretor da escola a assediavam sexualmente, mas tem mais coisa. (Irene)

-- Você acha isso? (Gerente)

-- Acho sim. Ao contrário do garoto André que praticava incesto, a Márcia é bem perturbada, eu apostaria minha carreira nisso. Ela não está no seu juízo perfeito. (Irene)

-- É, tem razão. (Gerente)

-- Tem mais uma coisa sobre ela. (Irene)

-- O quê? (Gerente)

-- Ela acredita que com sua deformidade pode ser mais feliz do que com sua beleza. Por isso ela se deforma inconscientemente, mas ela ainda não sabe. Definitivamente ela odeia a sua própria beleza. (Irene)

-- Então não é uma forma de autopunição? (Gerente)

-- Não, não, não longe disso! É ódio! Ela sente raiva da própria aparência! E por isso se deforma! (Irene)

-- E quanto nosso ilustre amigo de boca suja? (Gerente)

-- Francamente, não sei! A ficha dele não condiz com o que ele fala e com o que eu vejo nele na prática. (Irene)

-- Acho que ele esta tentando lhe confundir. (Gerente)

-- Talvez, mas isso vai levar mais tempo para descobrir. Eu preciso de mais tempo com o intimidador. (Irene)

-- Terá! Afinal eu prometi! (Gerente)

-- É! Você prometeu. (Irene)

-- Mas tome cuidado! (Gerente)

-- Estou tomando. (Irene)

-- É só isso, dona Irene. E bom descanso. (Gerente)

-- Obrigada,chefe, eu realmente estou precisando. (Irene)

-- Então até amanhã. (Gerente)

-- Até amanhã,patrão. (Irene saindo da sala)


Parte 21
Aconchego do lar 3

(Irene em seu apartamento em Fortica, acendendo um cigarro, bebendo algo alcoólico e pensando em Gabriel)

  Eu estou aqui no alto desse edifício, na cidade de
Fortica, um dos inúmeros planos dos anjos. Aqui na
cobertura olhando o pôr-do-sol, um sol artificial,
imaginário, criado por uma gente esquisita chamada construtores, e também estou aqui fumando esse cigarro artificial, fruto da minha imaginação. Aqui em Fortica o que não é feito da sua imaginação então é feito com a imaginação dos outros.
  Vivemos em um conto de fadas aqui nesse lugar,
onde tudo pode ser criado com a força do pensamento, e longe das adversidades da vida, dos
verdadeiros problemas humanos, como cortar o dedo fazendo uma coisa simples, como descascar uma batata. Vejo esse pôr-do-sol e ele parece ser tão real, chego a pensar que esses prédios, assim como essas nuvens, sejam também. Em pensar que só entra aqui nessa cidade, que mais parece uma casinha de bonecas, quem realmente é puro de pensamento. Sabe, às vezes sinto falta de uma casa
construída com tijolos e concreto, e de um cigarro que seja um cigarro, e não só se pareça com um, que tenha nicotina e que eu possa me viciar, me viciar como uma pessoal normal. Mas o que é normal para os vivos, não é normal para os mortos, e então tento me acostumar com a ideia de viver na ilusão, como um bom cidadão de Fortica. (Gabriel
pensando)

-- Oi! (Irene adaptadora de planos)

-- Como me achou? (Gabriel)

-- Acho que dificilmente alguém perderia um
suicida aqui na cidade de Fortica. (Irene adaptadora de planos)

-- É! Até mesmo num mundo estranho eu consigo
ser estranho, digo, diferente dos outros, não é? Mas
não dá nada, em vida eu também era. (Gabriel)

-- O quê? Diferente? (Irene Adaptadora de planos)

-- Sim, é engraçado como uma mancha vermelha
no ombro pode mudar o conceito das pessoas em
relação a alguém. (Gabriel)

-- Antes que comece a ter pena de si mesmo,
Gabriel, eu tenho boas notícias. (Irene adaptadora
de planos)

-- Sabe, eu não sei bem porquê não estou
surpreso em ouvir isso aqui na ilha da fantasia.
(Gabriel)

-- Bom, a primeira é que hoje é seu último
aprendizado. (Irene a adaptadora de planos)

-- O que é hoje pra você? Será as vinte quatro horas
entre o nascer e o nascer novamente desse pôr-do-sol artificial? (Gabriel)

-- Sim, mas continuando, a segunda é que você vai
ser considerado cidadão de Fortica oficial depois desse ultimo aprendizado, e poderá largar os skydivers. Não é o máximo? E também você terá
uma festa de credenciamento como cidadão, daqui a alguns dias, onde vai estar muita gente. (Irene a adaptadora de planos)

-- Em relação à festa, eu não vou ser exibido em
praça pública como uma aberração, não é? (Gabriel)


-- Claro que não! Tem muita gente querendo lhe
conhecer. É sua chance de fazer amigos e de quem
sabe arrumar uma namorada. (Irene a adaptadora de
planos)

-- Bem, em relação aos skydivers, eu não vou sair. (Gabriel)

-- Olha, se quiser pode ficar mas... achei que não
gostasse. (Irene a adaptadora de planos)

-- A questão não é gostar, a questão é  que
precisam de mim! Entendeu? (Gabriel)

--Como queira, super herói. Mas então, podemos ir? Temos muito o que fazer. (Gabriel)

-- Mas está anoitecendo! (Gabriel)

-- O que foi? Tem medo de ser assaltado aqui em
Fortica? (Irene a adaptadora de planos lendo os
pensamentos de Gabriel)

-- Digamos que eu ainda não me acostumei com o
fato de nunca mais ser vítima de um meliante. (Gabriel)

-- Nesse caso, podemos esperar amanhecer. (Irene a
adaptadora de planos)

-- Não, tudo bem, vamos! (Gabriel)


O último aprendizado

(Pelotas, em uma lanchonete de manhã)

-- Gabriel, sabe por que viemos a uma lanchonete
aqui no plano dos vivos? (Irene adaptadora de
planos)

-- Não, mas para talvez tomar um cafezinho ou
comer uma rosquinha? (Gabriel)

-- Viemos aqui para aprender como sentir a sensação real das coisas, a começar pelos alimentos. (Irene adaptadora de planos)

-- Está vendo aquele senhor fumando um cigarro?
(Irene a adaptadora de planos)

-- Sim, por quê? Quer que eu dê um beijo nele?
(Gabriel)

-- Não, eu quero que você vá lá e veja se você
tem canal para ele. (Irene adaptadora de planos)

-- Não, não tenho. (Gabriel tentando se conectar
com o senhor)

-- Então tente com aquela mulher que está fumando
um cigarro lá no fundo da lanchonete. (Irene a adaptadora de planos)


-- Eu não acredito! Eu estou sentindo o gosto do
cigarro! E o sabor é igual ao de verdade! Como?
(Gabriel)

-- Experimente o café que ela está tomando. (Irene
a adaptadora de planos)

-- Também consigo sentir o gosto! Nossa, isso aqui
é café de verdade! (Gabriel)

-- Você consegue se conectar a alma, e ao sistema
nervoso dos vivos, se eles tiverem canal para você.
A Alma dos vivos está conectada ao sistema nervoso, e você pode se conectar também, parcialmente, podendo dar sugestões ou experimentando a culinária, conforme for o caso. (Irene a adaptadora de planos)

-- Irene, eu sei que eu tenho sido um espírito meio
amargo com você, mas eu não sei como lhe agradecer. Um presente desses não tem preço. (Gabriel)

-- Você tem que tomar cuidado com uma coisa!
Muitos espíritos se tornam viciados e viciam os
vivos em prol do prazer. Agora é um cigarrinho,
mas amanhã você poderá induzir alguém ao alcoolismo, ou às drogas. E isso será triste tanto para você como para suas vítimas. (Irene adaptadora de planos)


-- Me diz uma coisa em relação às drogas, um espírito pode sentir a sensação de estar embriagado
ou drogado? (Gabriel)

-- Sim, é esse o problema, por isso muitos ficam
aqui e não vão para seus planos. (Irene a adaptadora de planos)

-- Eu poderia me tornar um espírito baixo?
(Gabriel)

-- Exato! Lembre-se sempre de usar o que aprendeu
com sabedoria. Essa sim seria uma forma de você
me agradecer. (Irene a adaptadora de planos)

-- Entendo. (Gabriel)

-- Agora você sabe tudo o que precisa saber para
ser um espírito livre, seu aprendizado acabou.
(Irene adaptadora de planos)







Parte 22
Bizarra 2


-- Oi, Márcia! (Irene)

-- Oi, Irene! (Bizarra)

-- Bem, Márcia eu estava pensando sobre a nossa conversa de ontem e... acho que a coisa é bem pior do que parece, não é? (Irene)

-- É,Irene! É sim! (Bizarra)

-- Me fale. (Irene)

-- Bem, eu achava que se eu fosse pra cama com o diretor da minha escola meus problemas acabariam, de qualquer forma ia ser só uma vez, e eu nunca mais precisaria transar com mais ninguém que eu não quisesse e... (Bizarra)

-- E? (Irene)

-- E eu fui pra cama com ele, mas os problemas não acabaram. (Bizarra)

-- Que tipo de problemas? Não era só o professor de matemática, não é? (Irene)

-- Tem razão, não era! (Bizarra chorando)

-- Quem mais então? (Irene)

-- Meu pai e meu tio. (Bizarra chorando)

-- Me fale a respeito. (Irene)

-- Era nas sextas à noite, quando minha mãe ia na casa das amigas. (Bizarra chorando)

-- O que acontecia nas sextas à noite, Márcia? (Irene)

-- Meu pai e meu tio entravam no meu quarto e... (Bizarra gaguejando)

-- E? (Irene)

-- E eu tinha que transar com eles, com os dois ao mesmo tempo, se não eles iriam me matar! Você entende isso? (Bizarra chorando)

-- Entendo! (Irene)

-- Eles gostavam por trás e isso doía muito, e eu perguntava “Pai, por que o senhor e meu tio tão fazendo isso comigo? Vocês não me amam?” E eles diziam que era pro meu bem, que isso iria me deixar uma menina forte! (Bizarra chorando muito)

-- Meu Deus! (Irene)

-- Você não sabe como é ficar com gosto da “porra” do seu próprio pai na boca depois que eles saem e a porta bate! Minha mãe e minha tia desconfiavam, mas elas eram minhas rivais, achavam que eu iria tirar meu pai e meu tio delas. Você entende? A beleza me tirou tudo! Até o que eu não tinha! (Bizarra chorando muito)

-- Eu sinto muito. (Irene)

-- Eu sei, eu também! (Bizarra parando de chorar)

-- Olha só! Eu acho que sua deformação é um distúrbio do seu pensamento, ou seja, depois do que você passou com sua beleza você desejou ser feia ao se desprender do corpo, adotando a forma do rosto do seu cadáver. Mas acredito que se você desejar realmente ter sua aparência de volta, você consegue. (Irene)

-- Não! Nem pensar! Eu nunca mais vou ser bonita! Nuca mais! Eu não quero passar por tudo isso de novo! Você entendeu? (Bizarra nervosa)

-- Bem, vamos dar um tempo por hoje. Eu vou pensar em algo. (Irene)

-- É eu também prefiro! E me desculpe por ter gritado com você. (Bizarra)


-- Está tudo bem, Márcia. Tudo bem. (Irene)



Parte 23
O intimidador 4

-- Olá, Jéferson! (Irene)

-- Olá, Irene. (Intimidador)

-- Sabe, nossa última conversa me deixou intrigada. (Irene)

-- Imagino! (Intimidador)

-- Não quer me contar mais a respeito? (Irene)

-- Você não faz ideia do que acontece aqui no salão diamante depois que você vai embora e as luzes se apagam! (Intimidador)

-- E o que acontece, Jéferson? (Irene)

-- Gostaria que você ficasse depois do trabalho e visse com seus próprios olhos. (Intimidador)

-- E o que eu deveria ver com os meus olhos, Jéferson? (Irene)

-- Ver as mais “bizarras” das verdades! Re...! (Intimidador)

-- Eu não posso ajudar muito se você não me contar. (Irene)

-- Você não entende! (Intimidador)

-- O quê? (Irene)

-- Tudo o que fiz com você até agora foi um teste! Tudo! (Intimidador)

-- Tudo o quê? (Irene)

-- Nossos diálogos. (Intimidador)

-- Me testando pra quê? (Irene)

-- Pra me ajudar a sair daqui, pro que você vai ver se ficar aqui escondida depois do trabalho. (Intimidador)

-- Jéferson, eu sinceramente acho que isso já foi longe demais! (Irene)

-- Você precisa entender que você é minha única esperança! Será que você entende isso? Você mesma me disse que não havia motivos pra eu estar aqui! (Intimidador)

-- Nesse ponto você tem razão. (Irene)

-- Se eu lhe contar você não vai acreditar em mim! Por isso você precisa ver com seus próprios olhos! Para poder me dar razão! (Intimidador)

-- Farei isso! Será do seu jeito! (Irene)

-- Obrigado, Irene, você não irá se arrepender! (Intimidador)

-- Eu realmente espero que não, Jéferson! (Irene)




Parte 24
Chocante

 Saio da sala do gerente depois do relatório e de um dia duro de trabalho, e me escondo em um dos cantos do salão diamante. Pretendo averiguar as afirmações do Jéferson e dar um ponto final nessa história um tanto bizarra. Se o gerente realmente
estiver envolvido então eu vou saber que a “merda” foi pro ventilador. (Irene)

(duas horas depois)

Começo percorrer o salão diamante de forma que ninguém me veja, então eu descubro algo inesperado. Vejo Jamiel em frente à gaiola do automutilador, quem eu acreditava ter sido mandado para os planos baixos, e observo a seguinte sena:
(Irene)

-- Mostre-me o caminho! (Jamiel fora da gaiola olhando o automutilador)

-- Veja! (Automutilador cortando sua barriga com uma faca, e puxando seu intestino pra fora)

-- A dor é um milagre! (Jamiel fazendo o mesmo que o automutilador)

-- A dor nos levará a Deus! (Automutilador)

-- Droga! Tenho que achar o gerente! (Irene saindo de forma que Jamiel não note)

(Meia hora depois)

Droga! Eu não acredito no que eu estou vendo! (Irene)

-- Mete! Mete no meu rabo! Mete! Ai! Ai! Ai! (Bizarra de quatro fazendo sexo anal com o gerente)

-- Toma cachorra! É isso que você merece! Ai! Ai! Ai! (Gerente dentro da gaiola de bizarra fazendo sexo anal com ela, puxando seus longos cabelos pretos e batendo em suas nádegas com violência)

-- Isso! Ai...! Bate mais forte! (Bizarra fazendo sexo e apanhando do gerente)

--Então é verdade! Então Jéferson estava certo! Tenho que dar um jeito de sair daqui para poder fazer alguma coisa. (Irene)



Parte 25
Aconchego do lar 4

(Irene em seu apartamento em Fortica acendendo um cigarro, bebendo algo alcoólico e pensando em Gabriel em Fortica, no alto de um prédio)
 
-- Estou aqui novamente, olhando esse pôr-do-sol artificial, me lembrando dos gritos daquela garotinha, que ainda ecoam na minha cabeça, e pensando no que aqueles caras que a mataram irão ser um dia quando forem espíritos, e não somente almas. Serão demônios! E nós skydivers continuaremos a lutar contra eles, mesmo depois que eles se forem dessa vida, depois que se tornarem espíritos obsessores, eguns, zombeteiros ou até mesmo zéfiros e nós, skydivers, continuaremos a lutar contra eles. Os demônios são espíritos que eram almas de pessoas ruins, são os demônios que fazem da vida das pessoas um inferno. E os zéfiros? Me parece que a vida humana
se tornou um negocio, um produto. Por que precisamos ser e fazer certas coisas para termos direito a proteção espiritual? (Gabriel pensando)

-- Pensando novamente, Gabriel? (Irene a
adaptadora de planos)

-- É, tive uma semana difícil como skydivers. (Gabriel)

-- Quer me contar? (Irene a adaptadora de planos)

-- Um dia talvez. (Gabriel)

-- Gabriel, por que você insiste em ser uma ilha?
Isolado do resto do mundo! Isso faz mal, sabia?
(Irene a adaptadora de planos)


-- A quem você esta tentando enganar, Irene? Sei
que leu alguns dos meus pensamentos antes de
falar comigo. (Gabriel)

-- Isso faz diferença? Tem algo a esconder? (Irene a
adaptadora de planos)

-- Não, Irene, e mesmo que eu quisesse, isso não faz mais diferença. (Gabriel)

-- É, realmente você teve uma semana difícil. (Irene
a adaptadora de planos)

-- É o que estou tentando dizer. (Gabriel)

-- Eu acho que ser um skydiver depois de tudo o
que você passou não é uma boa opção. Talvez
devesse dar um tempo, Gabriel. Fazer outra coisa.
(Irene a adaptadora de planos)

-- Gabriel, você não pode levar o mundo nas costas
o tempo todo. Isso vai lhe enlouquecer. (Irene a
adaptadora de planos)

-- Eu levo sim, meus ombros suportam o mundo, e
ele pesa menos que a mão de uma criança. Isso é
ser skydiver! E além disso, quem pode ser são nesse mundo maluco? (Gabriel)

-- Eu só estou tentando ajudar. (Irene a adaptadora
de planos)

-- Eu sei. Vem cá! (Gabriel puxando e beijando
Irene)

-- Hmm... (Irene beijando Gabriel)

-- Eu sei que você queria isso tanto quanto eu.
(Gabriel)

-- Você é confiante demais em seus instintos, um
dia poderá estar errado. Hm...(Irene adaptadora de
planos, beijando Gabriel)

-- Hm... (Gabriel tirando a roupa de Irene)



Parte 26
Discussão

-- Bom dia! (Irene)

-- Bom dia, Irene! (Gerente)

-- Preciso falar com você. (Irene)

-- Tem que ser agora? Eu estou um pouco ocupado. (Gerente)

-- Tem, é muito importante! (Irene)

-- Então fale. O que seria? (Gerente)

-- Jamiel! Eu descobri o que vocês fazem a noite, depois do expediente de trabalho. (Irene)

-- O que você descobriu? (Gerente)

-- Você e Jamiel não vão embora depois do expediente de trabalho, não é mesmo? (Irene)

-- Como soube? (Gerente)

-- Eu vi você “lavando a égua” com a bizarra enquanto Jamiel tinha orgasmos psicóticos na frente da cela do automutilador! (Irene)

-- Então você sabe? (Gerente)

-- Sei sim! Descobri tudo! O que me faz pensar que talvez o intimidador esteja certo! (Irene)

-- Certo em quê? (Gerente)

-- Você o está aprisionado aqui sem necessidade, isso e o resto que descobri ontem a noite são infrações muito graves! (Irene)

-- Olha aqui! Eu não sei o que você está pensando, mas não é o que parece ser. (Gerente)

-- Então eu acho que eu mereço uma explicação antes de denunciá-lo ao conselho. (Irene)


-- Em primeiro lugar eu gostaria de dizer que bizarra e eu nos amamos; em segundo, Jamiel começou a ter esse comportamento psicótico de tanto tempo que ficou aqui. Esse lugar pira qualquer um! Você sabe disso! (Gerente)

-- Vocês não vão pra casa depois do expediente, não é? (Irene)

-- Não! (Gerente)

-- Você e Jamiel assombram esse lugar! Vocês se tornaram fantasmas desse inferno! (Irene)

-- Tem razão! Nós nos tornamos parte desse inferno! Não podemos mais sair daqui! O trabalho nos consumiu! (Gerente)

-- E quanto ao intimidador? (Irene)

-- Ele está usando os nossos erros pra justificar sua inocência! Você tem que entender que ele é mau, ele vai tentar lhe manipular! (Gerente)

-- Olha só, eu não sei em mais no que acreditar! (Irene)

-- Você tem que acreditar em mim! O intimidador é perigoso demais! (Gerente)

-- Acontece que você não me inspira muita confiança! (Irene)

-- O que pretende fazer? (Gerente)

-- A coisa certa, eu acho! (Irene saindo e batendo a porta) (Pouco tempo depois na cela do automutilador)

-- Irene! O que pretende fazer? (Jamiel na frente da alavanca da gaiola do automutilador)

-- O que eu deveria ter feito há muito tempo, sua aberração! Saia da minha frente!(Irene)

-- Não! Ele é minha razão de viver! (Jamieu)

-- Deixe-a, Jamiel! (Gerente chegando)

-- Não! Por favor! (Jamiel saindo da frente da alavanca)

-- Sádico! (Irene Puxando a alavanca e vendo a automutilador caindo nos planos baixos)

-- Não! Não! Não! Ele era tudo que eu tinha! (Jamiel ajoelhado no chão chorando)

-- Vai se tratar, Jamiel! (Irene Gritando e indo embora do recinto)



Parte 27
Bizarra III


-- Olá, Irene! (Bizarra)

-- Olá, Márcia! (Irene)

-- Acho que sei porque você está aqui, você descobriu tudo não é? (Bizarra)

-- Ele lhe forçou, Márcia? (Irene)

-- Não! Nós nos amamos, Irene! (Bizarra)

-- Você sabe que é um amor impossível, não?  (Irene)

-- Por que diz isso? (Bizarra)

-- Porque eu vou denunciar ele ao conselho. (Irene)

-- Você não pode fazer isso! Ele é o único homem que me ama do jeito que eu sou, sem minha beleza! (Bizarra)

-- É, e dessa forma você não se ajuda, ficando mais tempo aqui. Ele atrapalha sua evolução. (Irene)

-- Eu sou feliz aqui! Você entende? (Bizarra)

-- Entendo, sei disso, mas o que você não sabe é que isso aqui não é um hotel, Márcia! Isso aqui é a embaixada do inferno no céu! E eu não posso permitir que você more aqui!(Irene)

-- Por favor! Não! (Bizarra)

-- Sinto muito! Mais vai ser melhor para seu tratamento ficar afastada dele. (Irene)

-- Não! Por favor, não! (Bizarra)

-- Até mais, Márcia. E se esforce pra sair daqui, há um mundo novo e belo lá fora. (Irene saindo)

-- Não, Irene! Espere! Não faz isso! (Bizarra vendo Irene saindo)

-- Eu já fiz Márcia, eu já fiz. (Irene falando sozinha, se distanciando da gaiola de bizarra)

-- Cachorra! Vagabunda!...(Bizarra xingando Irene, sozinha na gaiola)



Parte 28
Intimidador 5


-- Olá, Jéferson! (Irene)

-- Olá, Irene! Suponho que você descobriu tudo, e que euestava com a razão. (Intimidador)


-- Ainda falta uma coisa,Jéferson! (Irene)

-- O quê? (Intimidador)

-- Você, Jéferson! Falta você! (Irene)

-- O que tenho eu? (Intimidador)

-- Você era pastor, sua família morreu em um acidente quesó você sobreviveu, daí você se torna um pastor mais dedicado com esperança de um dia ver sua família novamente. (Irene)

-- E? (Intimidador)

-- E daí você morre e não vê sua família por eles terem reencarnado e... (Irene sendo interrompida)

-- Aonde você quer chegar? (Intimidador)

-- E você, quando descobriu que sua família reencarnou sem lhe esperar, pirou de vez, se tornou agressivo e tentou descontar nos outros espíritos que estavam ao seu redor em Fortica. (Irene)

-- Você realmente é muito boa mesmo. Realmente muito boa. (Intimidador)

-- Jéferson! (Irene)

-- Fale! (Intimidador)

-- Você não gosta de Deus, não é mesmo? (Irene)

-- Porque acha isso? (Intimidador)

-- Você culpa Deus por sua família não ter lhe esperado depois de tudo que você fez por ele, sua fé fervorosa! Seu trabalho dedicado como pastor!Sua esperança! E daí veio o paraíso sem sua família, não era o que você esperava. É como se Deus lhe tivesse traído, não é mesmo? (Irene)

-- É Irene, você descobriu tudo! Eu venho usando os anjos uns contra os outros para me vingar de Deus, por tudo o que ele deixou de fazer por mim! (Intimidador)

-- Você não só odeia Deus, mas também odeia os anjos, uma vida de fé! Sem se casar de novo, sem uma outra mulher, esperando somente a morte chegar para ter um reencontro com sua esposa e filhos! Isso foi demais pra você! Isso foi a gota d’água! (Irene)

-- Isso! Eu jurei que eu ia fazer o possível pra renegar Deus e os anjos! Eu odeio Deus! (Intimidador em prantos)

-- Eu sinto muito por você Jéferson, você foi um bom homem em vida e não merecia isso, você só é mal pelas razões erradas. Deveria acreditar nas suas próprias palavras e na bíblia que pregava, onde dizia “até que a morte nos separe”. Adeus, Jéferson, gostaria de poder ter lhe ajudado. (Irene puxando a alavanca)

-- Vai pro inferno! (Intimidador caindo nos planos baixos)


Parte 29
O fim justifica os meios


 Jamiel e o Gerente foram condenados pelo conselho e vieram passar uma temporada aqui como pacientes do salão diamante, eu, no entanto, fui promovida e fiquei como gerente do salão diamante. Já não sinto falta de Gabriel e passei a
amar ainda mais meu trabalho, acho que me acostumei a viver nesse inferno, e até arrumei um novo namorado. (Irene)

-- Olá, senhora Irene! (Secretaria)

-- Fale! (Irene)

-- Aqui estão os relatórios dos novos pacientes que pediu. (Secretaria)

-- Muito obrigada. (Irene)

-- E a propósito, os novos adaptadores de planos chegarão semana que vem, são uma moça e um rapaz, você tem que ler a fixa deles e assinar esses papéis. Mas sei que o expediente já esta acabando e a senhora poderá fazer isso amanhã. (Secretaria)

-- Pode deixar, eu assino hoje mesmo. Eu vou ficar depois do expediente. (Irene fazendo um sorriso sarcástico)
                           



Fim

Um comentário:

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