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Sobre a
estória
Essa ‘estória’ tenta pôr literariamente
o que os anjos em termos da
religião
espírita teriam de passar para
poder
ajudarem a humanidade.
Embora essa estória não seja baseada
na
religião espírita ela tem como ponto de partida algumas visões da mesma, lembrado
que essa obra é uma mera ficção científica. Esta obra também não deixa de ser uma
homenagem para aqueles que possuem mediunidade mal trabalhada e que por isso
sofrem, muitas vezes, do que chamamos de esquizofrenia.
Sobre o
autor
Karl Peter Leihs é nascido em 8 do 8
de 1978 no
Rio de Janeiro e naturalizado em Pelotas, Rio Grande do Sul, desde 1992, formado
em Biologia pela Universidade Católica de Pelotas e pós
Graduado
na mesma instituição.
Nota do
autor
Essa obra
apresenta linguagem e cenas impróprias para menores de idade, aconselha-se a autorização dos pais para
sua leitura.
Anjos em
ação
O semblante do suicida
Parte 1
A carta
(Primeiro de abril de 2006 em Pelotas,
quatro e
meia da manhã)
Absurdo, isso é o que se tornou a minha vida,
um completo absurdo, uma viagem na maionese ou simplesmente um ataque de nervos
sem precedentes. Quando eu penso na minha vida eu não sei por onde começar;
talvez eu devesse começar pelas alucinações terríveis, pelas vozes, pelas
humilhações ou pelas noites em claro, frequentemente, às vezes duas ou mais,
três noites semdormir, às vezes dou sorte e fico somente uma noite em claro. As
porcarias dos remédios que meus psiquiatras me dão não servem pra nada, a não
ser pra me darem efeitos colaterais; vou ser mais específico, graças a eles eu
não transo mais; mas também não faz diferença, pois nem uma mulher iria fuder
com um cara que já foi internado três vezes num hospício, desempregado e que
cheira à nicotina e a cachaça barata. Para falar a verdade, o álcool é a minha
única alegria, tirando isso não tenho mais nada a não ser os livros técnicos da
minha área que leio quando consigo me concentrar,pois sou formado em química.
Sabe, nem sempre foi assim, eu já tive uma vida invejável, com pouco álcool,
sem cigarros e com muitas mulheres na minha volta. Cara, meus amigos me amavam
e eu era o orgulho dos meus pais. Eu era o melhor aluno da minha aula na
universidade, eu tinha o futuro na palma da minha mão.
O que aconteceu comigo? Será que foi a cocaína
que nunca usei? Ou a maconha que nunca experimentei? Embora esses médicos
cretinos e mais malucos do que eu que passaram a vida me drogando digam que é
porque eu não bato bem da cabeça eu sei que não é isso, nunca foi. A verdade que
eu sou a porcaria de um médium; foi isso que “zuou” a minha vida, os mortos me
odeiam. Eu tive uma vida normal até meus dezoito anos, foi nos
meus dezoito anos que a bobagem
começou, hoje eu tenho trinta e seis anos, e também tenho uma carreira
arruinada, muita, mas muita minhoca na cabeça e tenho também um recorde de seis
meses num emprego como empacotador de compras do supermercado Big, pois seis
meses foi o máximo que eu consegui ficar em um emprego. Se eu estou em um
emprego hoje, no dia seguinte meu pai já esta entrando com as papeladas para
minha internação no hospício devido, evidentemente, a mais um ataque de nervos
mal sucedido durante meu expediente de trabalho, ou seja, me pegam gritando com
a parede ou batendo na mesma; a culpa não é minha, das pessoas não verem os demônios
que estão na parede rindo de mim. Por esse motivo que não trabalho aos meus
trinta e seis
anos e vivo de favor do meu pai, que
ganha bem, o
suficiente para comprar todos aqueles
remédios caros e dopantes que me fazem viajar mais ainda na maionese. Acho que
deixei de ser o filho favorito para me tornar o problema perfeito. Sou filho
único e minha mãe faleceu quando eu tinha quinze anos e, portanto, meu pai é
minha única família agora, ele está cada dia mais velho e sofre cada vez mais
do coração, e por isso eu não quero nem pensar no que vai ser de mim se ele
morrer, mas acho que isso não faz diferença agora, pois hoje irei cometer suicídio.
Se você ou vocês estiverem encontrado essa melancólica carta é provável que
encontrem, também, meu corpo junto a ela. Você ou vocês devem estar se
perguntando
porque eu não procurei ajuda, ou seja,
porque eu
não fui a uma igreja. Na verdade, eu
fui em tudo,
desde uma simples igreja católica,
universal, batista até mesmo centros de umbanda, de mesa branca e é claro, o
centro espírita Jesus que fica em frente ao colégio Gonzaga, li muitas coisas
na bíblia, nos livros de Allan Kardec, Chico Xavier e outros,confesso que aprendi
muita coisa com eles, por exemplo, de como ser um ser humano melhor, ter compaixão,
amar o próximo e outros. A religião me deu algum conforto mas infelizmente não
resolveu o meu problema. De todas as religiões a que mais achei coerente com
minha realidade é a doutrina espírita, porém eu tenho um grande problema com ela,
eles dizem que devemos ter compaixão pelos espíritos menos evoluídos, ou seja,
pelos demônios que me atormentam, porque eles sofrem e, portanto, devemos rezar
por eles, e é claro que eu jamais faria tal coisa por aqueles que destruíram
minha vida, por um simples motivo, eles não prestam! O demônio é um menino mau
que merece sofrer da pior forma possível, para compensar os estragos que ele
faz à humanidade. Os demônios foram maus envida e continuam sendo depois de
mortos, eles sãoum atraso de vida para mim e para você que esta lendo essa
carta; são uma perda de tempo para qualquer um. Eu acredito em duas coisas; a primeira
é em Deus e a Segunda é na desgraça do demônio, se isso me torna mal? Azar! Se
a desgraça do demônio me faz feliz? Muito! Pior pra mim, bom pra eles e pior
pra eles bom pra mim, é assim que as coisas têm sido desde o dia que me tornei
um médium. Mas em uma coisa todas as religiões concordam; suicídio é errado;
mas eu não tenho escolha, eu estou cansado de ser o escracho dessa gente safada
que me culpa por suas vidas passadas não terem sido boas, eu estou cansado desses
demônios e suas morais nojentas sem fundamentos, que eles arrumam pra
justificar o que fazem comigo e com Deus. Se Jesus viveu até os trinta e três
anos sofrendo com sua cruz, porque eu deveria viver até os quarenta. Pra mim é
o fim amigo; eu não aguento mais, não aguento os demônios e nem esses malditos
remédios.
Bom, aminha segunda garrafa de vodka esta acabando,juntamente com minha
terceira carteira de cigarro,vou morrer ao som de Tony Benet, acho que aúnica
coisa que restou disso tudo é meu bom gosto pela música. Eu queria dizer pro
meu pai que eu o amo, e sei que ele fez o que pode, acho que nós dois fizemos o
que podíamos, adeus pai, eu te amo.
ASS: Gabriel
Luterano Guerrate
Parte 2
Morto
(Manhã
seguinte, no quarto de Gabriel, no segundo
andar da casa, dez da manhã )
--
“Caramba” que noite, e essa gente toda na minha volta? Ambulância? Paramédicos?
E meu pai chorando? (Gabriel tem 36 anos, cabelos longos pretos e olhos
castanhos de estatura média, com
jaqueta
couro preta, assim como o restante de sua
roupa.)
-- Ra,
ra, ra você se matou otário! Meteu uma bala de canhão na boca! Não lembra? Ou
estava muito bêbado pra isso? , ra...! Se acha que sofria com a gente agora vai
sofrer mais ainda com seu semblante idiota! (Demônios rindo)
-- Cala
a boca, respeite os mortos seu escroto! (Gabriel)
--
Gabriel não é por nada não; mas seus miolos ficam tão bonitos espalhados pelo
quarto ra...! (Demônios rindo)
--
“Fodam-se” vocês! Quando eu sair desse corpo vocês vão sentir a minha mão!
(Gabriel)
-- Ra...!
Vai demorar otário. (Demônios rindo)
-- Como
assim seus nojentos? (Gabriel)
-- A
maioria dos suicidas precisa esperar a carne morta do corpo apodrecer e ser
decomposta pelas larvas, para depois saírem de seus corpos, e isso otário vai
levar um longo e doloroso tempo ra...! (Demônios rindo)
-- Vai
pro inferno! (Gabriel)
-- Sabe
palhaço de circo, para os suicidas a vida
após a
morte não é sinônimo de paz e de libertação, seus problemas otário, estão só começando.
Você já percebeu seu lindo ombro vermelho no lado direito? Não? Que pena. Sabe otário
você tem um belo futuro! Queríamos poder estar aqui e ver você andando por ai
com esse ombro vermelho, mas nós vamos indo. (Demônios)
-- Então
finalmente me livrei de vocês não é mesmo? Então o meu suicídio não foi em vão.
(Gabriel)
-- Sabe
otário? Normalmente depois que um médium se mata por nossa causa, geralmente
ele é convidado a ir conosco ao nosso plano passar a eternidade lá; se
interessa? (Demônios)
-- O que
é plano? (Gabriel)
-- É
muito ingênuo o palhaço aí! Quando você
dormia
cara,a gente lhe tirava do corpo {seu
espírito}
e o levávamos para o nosso plano, ou seja, no nosso caso, o inferno, onde você
apanhava e era humilhado por milhares de demônios que ali habitam. (Demônios)
-- Então
existem somente dois planos, o céu e o inferno? (Gabriel)
-- Não
otário! Existem milhares de planos! Tanto bons como maus. O que decide qual o
plano que nós vamos, depois que morremos, é a natureza do nosso pensamento
{Canal}, os seus pensamentos são iguais aos nossos, pois você não nos ignorava em
vida, revidando nossas provocações e nos escutando. Então quer ir conosco?
Podemos lhe tirar desse corpo? Mas só se você prometer não bater na gente, pois
hoje estamos em menor número. (Demônios)
-- De
jeito nenhum, eu prefiro apodrecer aqui
nesse
corpo a ir com vocês. (Gabriel)
-- Então
apodreça Gabriel, é como nós dissemos,
você tem
um belo futuro. E a propósito, foi muito
engraçado
e divertido acabar com sua vida ra...! Adeus otário ra...! (Demônios indo embora
rindo)
-- Merda!
(Gabriel)
-- Oi!
Se lembra de mim? (Anjo da guarda, cabelos encaracolados castanhos e de olhos
também castanhos e com uma vestimenta branca)
-- Eu
lembro! Você é meu anjo da guarda! Uma garota bonita, bem arrumada, de cabelos
longos, castanhos e encaracolados. Muito meiga, porém triste com a minha
situação, lembro que você chorava muito com tudo isso. (Gabriel)
-- Isso!
Eu quero que saiba que eu fiz o que pude para lhe ajudar! E os outros anjos
também. Eu sinto muito, por você não ter conseguido. (Anjo da guarda)
-- É! Eu
também! (Gabriel)
-- Olha!
Normalmente quando é suicídio não tem muito o que se fazer, eu vou poder lhe
ajudar muito pouco! Tá bom? (Anjo da guarda )
-- Tá
bom! (Gabriel)
-- Bom!
Em primeiro lugar vou lhe ajudar a sair desse corpo, mas vai ser muito difícil
na sua atual condição de suicídio. (Anjo da guarda)
-- O que
eu devo fazer então? (Gabriel)
--
Primeiro tente sair sozinho como primeira tentativa, para que você sinta qual é
a dificuldade. (anjo da guarda)
-- I...!
Não consigo nem me mexer. (Gabriel)
-- Então
é o seguinte! Você tem que pensar que seu corpo não é esse! Pense nele como uma
casca suja, e que você deve se livrar dele. (Anjo da guarda)
-- Ai! Não
consigo! Ta tão ruim como na primeira tentativa. (Gabriel)
--
Gabriel! Tente se concentrar! Tente ver a coisa da seguinte maneira, seu novo
mundo e diferente do anterior, as forças que regem esse novo mundo não é são as
da gravidade, mas sim o do pensamento! Tente se concentrar o máximo que você puder
no seu pensamento. (Anjo da guarda)
-- Acho
que não vai dar tempo! Estão levando o meu corpo! Deve ser para a funerária!
(Gabriel)
-- Não
se preocupe! Eu irei com você! (Anjo da guarda)
(Duas
horas depois, na Funerária Fernandes)
--
Droga! Eles estão costurando a minha cabeça! Que horror! É nojento ver a minha
cabeça daquele jeito! (Gabriel)
-- Tente
não dar tanta importância pro que eles estão fazendo, tente se concentrar pra
sair desse corpo. (Anjo da Guarda falando pacientemente)
-- Tá bom!
Vamos lá há...! Nada! (Gabriel)
--
Gabriel! Deve tentar esquecer o que esses homens estão fazendo com seu corpo!
Você não precisa mais dele! (Anjo da guarda)
-- Vou
de novo! Lá vai Ah...! Consegui mexer um pouco. (Gabriel)
-- Já é
um bom sinal, vai de novo. (Anjo da guarda)
--
Ah...! , mesma coisa. (Gabriel)
-- De
novo Gabriel! (Anjo da guarda)
-- Sabia
que isso dói? (Gabriel)
-- Eu
sei! Mas você deve continuar tentando!
(Anjo da
guarda)
-- Ah!
Como dói! (Gabriel)
--
Novamente! (Anjo da Guarda)
--
Ah...! Uh...! Mesma coisa! (Gabriel)
-- De
novo! (Anjo da guarda)
--
Ah...! Mesma coisa! (Gabriel)
(Vinte
tentativas depois)
--
Ah...! Nada! Mesma coisa! (Gabriel)
-- Bom,
eu vou fazer o seguinte, vou procurar ajuda, mas enquanto isso você vai tentando
mesmo que doa um pouco. Tá bom? (Anjo da guarda)
-- Tá
bom! (Gabriel)
--
Talvez quando eu voltar aqui já o tenham levado para o cemitério; mas não se
preocupe, eu sei como lhe achar! Até logo! (Anjo da Guarda indo embora)
-- Até logo! (Gabriel)
Parte 3
O Velório
(Na capela do cemitério de Pelotas, no mesmo dia)
Me trouxeram aqui não faz muito tempo, estou aqui
esperando meu anjo da Guarda que me disse que iria trazer ajuda. Ainda não
consegui sair do meu corpo, mas meu espírito já consegue se mexer um pouco dentro
dele, acho que isso é um bom sinal, já que até hoje de manhã isso não era possível.
É estranho estar no próprio enterro, nunca
pensei que um dia estaria aqui nesse cemitério sendo velado e enterrado,
como minha mãe foi um
dia. É
estranho que pela primeira vez depois de muito tempo eu sinta a paz, ou seja,
não escuto mais as vozes, não vejo mais o vultos e não tenho pesadelos
terríveis com aqueles demônios nojentos; infelizmente eu precisei morrer para
conseguir tudo isso. Uma coisa muito interessante está acontecendo comigo, eu
posso ler os pensamentos dos outros, todos os espíritos tem essa habilidade, inclusive
eu. Nós, espíritos, nos falamos por pensamentos, já que não precisamos das
cordas e também podemos ler os pensamentos dos outros. (Gabriel)
-- Oi!
Cheguei! E também trouxe um amigo. (Anjo da guarda)
-- Oi
Gabriel! Meu nome é Rodrigo e vim aqui lhe
dar uma
força para que você possa sair desse corpo,
tudo
bem? (Anjo Rodrigo, cabelos castanhos bem curtos, bem alto e olhos azuis e com
uma vestimenta branca)
-- Tudo
bem, meu novo amigo... (Gabriel)
-- Bom, Gabriel,
acho que ainda temos muito tempo para lhe tirar daí, eu aconselho que você dê
um tempo para ver as pessoas se despedindo de você, que tal? (Anjo Rodrigo)
-- Se
você acha que eu devo? Para mim tudo bem. (Gabriel)
--
Gabriel esse vai ser um momento único pra você, você vai saber o que as pessoas
que eram próximas a você em vida pensam de você. Podem ser coisas boas ou
coisas ruins de acordo como você as tratava, e se relacionava com elas em vida.
Para muitas pessoas isto é bom, porque todos em vida gostavam da pessoa que
desencarnou e realmente sentirão falta da mesma, mas para outras pessoas nem
tanto, já que em vida elas não causaram boa impressão aos outros.
-- Gabriel!
É o fruto do seu trajeto ao longo da vida
que
determinará o que essas pessoas que vieram aqui hoje, no seu enterro, irão
pensar de você. (Anjo Rodrigo)
-- É, eu
espero que pensem boas coisas de mim...
(Gabriel)
-- Bom,
seu pai e os outros estão vindo lhe ver, ficaremos aqui do seu lado, auxiliando-o,
se caso precise de ajuda. (Anjo da Guarda)
“Oi meu
filho, eu sinto muito que isso lhe tenha acontecido; mas a culpa foi minha por
ter uma arma em casa, acho que eu nunca vou me perdoar por isso, eu sabia que
você tinha problemas com a esquizofrenia, e no entanto, deixei aquela maldita arma
em casa, meu Deus o que eu fiz? Meu filho!
Meu
único filho! O que sua mãe diria se lhe visse desse jeito? Eu acho que ela não
me perdoaria, diria ela que eu não soube cuidar de você. Filho, papai
o ama, e
nunca vai deixar de amar. Eu li sua carta, eu sei que sua vida era um horror,
sabe, eu achava que os médicos poderiam ajudar, sinceramente, eu não sabia mais
o que fazer por você. Gabriel eu não aceito vê-lo desse jeito, não aceito, não
o meu filho que criei e amei!!! Eu espero que Deus lhe dê paz agora, que você
tenha conseguido se livrar desse sofrimento. Acho que você deve estar com sua
mãe agora, acho que ela pode cuidar de você melhor do que eu, como sempre cuidou.“
(Pai do Gabriel pensando e chorando, seu pai possui estatura mediana, cabelos grisalhos
e olhos castanhos)
-- Eu
sinto muito pai, mas não tinha outro jeito, você não tem culpa e fez o que
pôde, adeus pai, foi uma pena que tudo tenha terminado desse jeito. (Gabriel
chorando, falando, mas seu pai não pode ouvi-lo)
“Que horror,
deve ter sido as drogas”. (amigo do pai do Gabriel, pensando)
--“É
deplorável um jovem como ele ter se matado.
O que as
drogas fazem não é mesmo?” (Casal amigos do pai do Gabriel, cochichando)
-- “É
verdade! Ele jogou a vida fora!”(Casal amigos do pai do Gabriel cochichando
entre si)
-- É,
pelo visto a maioria das pessoas aqui acha que eu era um drogado, que falta de
imaginação dessa gente. (Gabriel falando, mas ninguém pode ouvi-lo, só mente os
outros espíritos)
-- Tudo
bem Gabriel? (Anjo da guarda do amigo de Gabriel, com camisa social, e jaqueta
de couro preta com calça jeans.)
-- Quem
é você? (Gabriel)
-- Eu
sou o anjo da guarda do seu amigo, e realmente espero que tenha valido a pena
ter se matado e deixado seu pai desse jeito. (Anjo da Guarda do amigo de
Gabriel, que possui cabelo
preto
curto, olhos castanhos e de estatura baixa)
-- Pega
leve com o garoto, ta bom? Já chega o que
ele teve
que passar em vida, para essas pessoas falarem isso dele. (Anjo Rodrigo)
--
Falando dele? Imagina o que o pai dele vai ter que escutar por causa dele! Que
horror! (Anjo da Guarda do amigo de Gabriel saindo)
-- Não
liga Gabriel, ele não tinha o direito de dizer aquilo. (Anjo da guarda do
Gabriel)
-- Tudo
bem, mas me diga uma coisa, quem são aqueles espíritos que estão aqui me
olhando de longe com as pessoas ? (Gabriel)
-- Esses
Gabriel, são os espíritos que acompanham as pessoas que vieram aqui lhe ver,
são anjos da guarda ou amigos que protegem essa gente.(Anjo Rodrigo)
--
Entendo. (Gabriel)
--
Gabriel! A maioria das pessoas que estão aqui
são
amigos do seu pai, mais não seus. Você não
tem um
amigo? (Anjo Rodrigo)
-- Eu
tinha muitos, mas quando me tornei um médium e enlouqueci, meus amigos me
deixaram, acho que eles tinham medo de mim, medo de andar
com um
louco. (Gabriel)
--
Gabriel acho que uma pessoa inesperada veio
lhe ver.
(Anjo da Guarda)
“Oi
Gabriel! Eu, eu não sei o que pensar vendo você desse jeito. Eu não sei o
motivo que levou você fazer isso com você mesmo, e sei também que faz muitos
anos que agente não se vê. Pôxa Gabriel! Eu o amava! E só tinha quinze anos na
época, você era tudo pra mim. Quando você me deixou eu não suportava a ideia de
ver você com outra, foi por isso que nunca o procurei. Sabe, eu sempre desejei
que algo ruim lhe acontecesse depois que você me deixou. Mas eu não aguento ver
você desse jeito, cara!Sabe, pra falar a verdade, eu ainda o amo, eu acho que nunca
vou conseguir lhe esquecer, você foi meu primeiro amor, e a gente não esquece
uma coisa dessas, Gabriel. Eu estou com outro cara e a gente ta pensando em
casar, infelizmente esse outro cara não é você, como eu gostaria, mas ele é um
cara legal, entende? E nós nos damos muito bem juntos. Bom, Gabriel, adeus e
espero que você seja feliz onde você estiver.“ (Jane pensando e chorando)
-- Eu
não acredito! A Jane veio! E ela ainda me ama! “Caramba”! Como que eu nunca
soube disso? (Gabriel chorando)
-- É, meu
amigo, acho que você deve se considerar um cara de sorte; vai deixar saudades
no coração daqueles que você verdadeiramente amou. (Anjo Rodrigo)
-- É!
Pelo menos isso. Me diz uma coisa, Rodrigo! As probabilidades que eu tenho de
ter que esperar o meu corpo se decompor para depois sair dele são muito
grandes? (Gabriel chorando)
-- São
terrivelmente enormes. (Anjo Rodrigo)
-- Tanto
assim? (Gabriel parando de chorar)
-- Tanto
assim! Eu sinto muito. (Anjo Rodrigo)
-- Os
demônios me falaram alguma coisa a respeito; achavam que poderiam me ajudar a
sair do meu corpo. Mas eu não aceitei. (Gabriel)
-- Acredite
em mim Gabriel, se nós não conseguirmos tirá-lo daí, eles menos ainda. Eles iriam
esperar seu corpo se decompor para depois levá-lo no plano deles. (Anjo
Rodrigo)
Mais tarde
quando quase todo mundo foi embora do velório seguimos tentando me tirar desse
corpo e nada; chegou a noite, e depois veio a manhã, e continuo aqui preso
nesse corpo. Acho que eu devo começar a pensar na probabilidade de ter que
esperar o meu corpo se decompor para depois sair dele.“ (Gabriel narrando o
ocorrido)
Parte 4
Em decomposição parte 1
Estou aqui nessa gaveta deve fazer uns seis meses,
esperando a minha carne se decompor para depois poder sair. É, amigo! Eu fui
enterrado no Cemitério Municipal de Pelotas. Para os espíritos bons que se
desprendem com uma enorme facilidade do corpo, algumas horas ou minutos após a
sua morte, não precisam passar pelo que eu estou passando, mas para os
espíritos ruins ou espíritos muito apegados à matéria o desprendimento demora
mais, e para os suicidas o desprendimento ocorre somente depois que a carne do
corpo se decompõe, ou quando se extingue completamente o fluido vital que
carregam para viver sua existência, Amigo isso aqui é um horror, eu escuto o
som dessas larvas nojentas decompondo meu corpo no escuro do meu caixão. Aqui
não há luz, é tudo escuridão, muito tédio, não há absolutamente nada pra fazer
a não ser contar carneirinhos. Não posso nem me mexer nessa casca morta chamada
corpo, e fico escutando os gritos de desespero dos outros espíritos que ainda
não conseguirão se desprender do corpo. Eu escuto gritaria de pânico vinte e quatro
horas por dia, e isso deixa meus nervos a flor da pele. Sem meu cigarro, sem
meu álcool, sem mulher e sem meu passaporte da alegria para o paraíso. O que me
consola é ter me livrado daqueles demônios escrotos, que passaram a vida toda
me atormentando e me destruindo. Bom, agora ao invés de escutar as vozes
provocativas dos demônios vinte e quatro horas por dia eu escuto gritarias de
pânico vinte e quatro horas por dia. Talvez
tenha ficado elas por elas. Meu anjo da guarda vem me fazer uma visita, às
vezes, ela diz que minha mãe deve ter reencarnado e, por isso, não veio aqui me
ver, mas eu fico feliz por ela ter conseguido se dar bem e... (Gabriel sendo
interrompido )
--Socorro!
Me ajuda! As minhocas estão me
comendo!
É horrível! Socorro! Socorro!...! (Um espírito gritando e chorando)
-- Ai
meu Deus! Hoje começou cedo o berreiro!
Mais um
empecilho para minha paz e tranquilidade! O que eu faço pra conseguir um
pouquinho de silêncio e tranqüilidade? Será que nem morrendo? Que saco! É de
doer o ouvido! (Gabriel muito nervoso)
--
Socorro...! Me ajudem! Eu sou claustrofóbico! Socorro...! (Um outro espírito
gritando e chorando)
-- Ai!
Agora são dois! É um coro! É um pé no
meu
super saco! (Gabriel nervoso)
--
Socorro...! (Os dois espíritos gritando)
-- Será
que dá pra calarem a boca! (Espírito Mike, que esta sepultado uma gaveta acima
da de Gabriel)
-- Não
dá! Eu tenho medo do escuro! Socorro...! (um dos dois espíritos gritando)
-- E aí
Mike? Não se desprendeu ainda? (Gabriel)
-- Não
Gabriel! Eu tô lá no Havaí tirando férias! (Espírito Mike)
-- Vai
com calma! Eu só to perguntando! (Gabriel)
--
Desculpa cara, mas é que essas bonecas me aborrecem! São umas bichas! Um tem
medo do escuro! E o outro das minhocas! (Espírito Mike)
-- É! As
meninas ai não aquentam a pressão! E ficam todas borradas! (Gabriel gritando)
-- Vai
pro inferno! Eu tô com medo, cara! Socorro...! (Um dos dois espíritos gritando)
-- Mike,
por que você acha que ainda não se
desprendeu?
(Gabriel)
-- Sei
lá! Deve ser um castigo pelo que eu aprontava em vida. (Espírito Mike)
-- E o
que você aprontou em vida? (Gabriel)
-- Bom,
eu era traficante, e no meu ramo a gente
sacaneia
muita gente. (Espírito Mike)
--
Morreu como? (Gabriel)
-- Eu
morri em um presídio, lá em Porto Alegre, meu amigo de cela me matou, por causa
de um maço de cigarros que eu roubei dele, acredita nisso? E os meus parentes
como são daqui, me enterraram em Pelotas. (Espírito Mike)
-- Que
morte estúpida, chega ser ridícula. (Gabriel)
-- Pois
é, mas e você Gabriel? (Espírito Mike)
-- Eu
cometi suicídio, uma bala na cabeça. (Gabriel)
--
Suicídio? E por que se matou? (Espírito Mike)
-- Os
demônios me enlouqueceram. (Gabriel)
--
Demônios? (Espírito Mike)
-- É, Eu
falava com os mortos. (Gabriel)
-- Que
loucura cara! Eu não sabia que tinha gente que falava com os mortos! (Espírito
Mike)
-- Pode
acreditar que tem. Você nunca leu nada
sobre o
espiritismo? (Gabriel)
-- Já!
Mas... Eu confesso que nunca acreditei muito
naquilo.
Para mim era bobagem. (Espírito Mike)
-- Pois
aquilo que você leu é nossa realidade agora, ou pelo menos quase tudo.
(Gabriel)
-- Caramba!
Um homem que falava com os mortos! E que via demônios! Que coisa mais maluca
cara! (Espírito Mike)
-- Um
demônio é o que você provável vai ser, por ter sido mal em vida Mike. (Gabriel)
--
Entendo... uns caras, depois que eu morri, me disseram que iriam me levar para
um plano assim que eu me desprendesse, eles eram demônios também, Gabriel?
(Espírito Mike)
--
Provavelmente! (Gabriel)
--
Gabriel! Você já consegue sair temporariamente do corpo? (Espírito Mike)
-- Não,
por quê? Você consegue? (Gabriel)
--
Consigo ir até lá fora, mas... depois eu volto pro corpo. É como se meu corpo
me puxasse de volta, é uma sensação esquisita. (Espírito Mike)
--
Entendo, faz quando tempo que você consegue fazer isso? (Gabriel)
-- Já
faz alguns dias. (Espírito Mike)
-- De repente
você já tá quase saindo daqui. (Gabriel)
--Gabriel!
Se lembra dos caras que eu falei agora
pouco
que queriam me levar para um plano? (Espírito Mike)
--
Lembro. (Gabriel)
-- Eles
chegaram, e estão aí fora. (Espírito Mike)
-- É, acho
que eles vieram ajudá-lo, boa sorte!
(Gabriel)
-- Tá
legal! Depois agente se fala! (Espírito Mike)
-- Tudo
bem. (Gabriel)
--
Socorro! Socorro! Socorro!...! (Um dos dois
espíritos
gritando)
-- O
infeliz! Seja homem! Aguenta um pouco que
logo
você vai sair daqui! (Gabriel berrando)
--
Socorro! Socorro! Socorro!... (Os dois espíritos
gritando)
-- Agora
são os dois de novo gritando! Que saco!
(Gabriel nervoso)
Parte 5
Em decomposição parte 2
-- Já se
passaram mais dois meses, e eu ainda estou
aqui. Eu
não aguento mais essa joça, mas já consigo me mexer bem dentro desse corpo, não
demora eu estou indo embora dele. Meu anjo da guarda continua vindo me ver, da última
vez trouxe o Rodrigo para tentar me tirar daqui, mas ainda nada, não me livrei
dessa casca podre que se chama corpo. Meu único companheiro, o Mike, conseguiu se
desprender, e seus colegas o levaram para o plano dele, que deve ser um dos
muitos infernos que existem. Agora eu estou sozinho nessa droga, daqui a pouco
eu vou começar a gritar que nem uma dessas bichas que emporcalham os meus
ouvidos e... (Gabriel sendo interrompido)
-- Não
faça isso Gabriel! Não seja como um desses
cuzinhos
cagados que ficam gritando o tempo todo!
(Espírito
Rafael)
-- Quem
é você? (Gabriel)
-- Meu
nome é Rafael, eu cheguei aqui faz uns três
dias
atrás. (Espírito Rafael)
-- Eu
acho que realmente me lembro de terem sepultado alguém à pouco tempo atrás, mas
como sabe meu nome? (Gabriel)
-- Eu
escuto você falando sozinho. E ontem seus amigos que vieram lhe ver disseram
seu nome e eu escutei. (Espírito Rafael)
--
Entendo, mas onde o sepultaram? (Gabriel)
-- Pelo
som da sua voz eu devo estar a duas gavetas do seu lado direito. (Espírito
Rafael)
-- Vai
ser bom ter alguém pra passar o tempo.
(Gabriel)
-- Idem!
(Espírito Rafael)
-- Não
acha mesmo que eu iria começar a gritar depois de oito meses aqui sem fazer
isso? Não é mesmo? (Gabriel)
-- É
você quem tá dizendo! (Espírito Rafael)
--
Bem-vindo à festa, meu amigo, sinta-se em casa,
e espero
que sua estadia nesse lugar seja bem breve, pois a minha esta sendo bem longa. (Gabriel)
-- Você
estava dizendo que já está há oito meses aqui? (Espírito Rafael)
-- Sim!
Eu estou! Mas não se preocupe, o meu
caso foi
suicídio, pra mim vai demorar mesmo.
(Gabriel)
-- Será
que nos casos de overdose por cocaína demora-se menos? (Espírito Rafael)
-- Um
viciado? O cara que falava comigo uma gaveta acima da minha era traficante.
Essa porcaria de cocaína tem matado gente pra caramba, direta ou indiretamente.
(Gabriel)
--
Socorro...! (Três espíritos gritando)
--Há
não! Agora são três gritando! (Gabriel)
-- Por
quê? Eram menos? Você os conta? (Espírito Rafael)
-- Eram
só dois. (Gabriel)
--
Gabriel, você sempre fala sozinho pra passar o tempo? (Espírito Rafael)
-- Quase
sempre, ajuda sabe? (Gabriel)
--
Gabriel! Meu irmão veio me ver, falo com você depois. (Espírito Rafael)
-- Tá
legal! Vamos ter muito tempo pra botar o papo em dia ra...! ( Gabriel rindo )
--
Sádico! (Espírito Rafael)
-- Um
suicida sádico! Gostei da ideia! Ra...!
(Gabriel
rindo)
--
Socorro...! (Três espíritos gritando)
-- Acho
melhor eu ir tentando me mexer pra ver se
eu saio
desse corpo ah...! Eu estava quase! Vou de
novo!
Ah...! Consegui...! Não acredito! Consegui! Droga! Não! Meu corpo ta me puxando
de novo...! Porra! Voltei pra gaveta de novo! Que saco!
(Gabriel)
--
Socorro..! (Três espíritos gritando)
-- Vou
de novo Ah...! Consegui...! Posso ver a luz
do dia!
Não...! Que droga! Meu corpo me puxou de novo! (Gabriel)
--
Gabriel! Conseguiu? (Espírito Rafael)
-- Não!
Mas foi quase! Já consegui ver a luz do dia
por uns
segundos, antes do meu corpo me puxar novamente. (Gabriel)
-- E
como é ver a luz do dia depois de oito meses
aqui
nesse inferno? (Espírito Rafael)
--
Maravilhoso! É como nascer de novo! (Gabriel)
-- Você
estava gritando que o seu corpo lhe
puxava?
(Espírito Rafael)
-- É! É
Como se uma força invisível sugasse meu
espírito
de volta pra esse corpo, é uma sensação estranha. E tem mais, eu sinto minhas
unhas e cabelos crescendo, também sinto meu coração batendo quando saio do corpo.
Acho que meu espírito sente falta das funções fisiológicas do corpo, como o cabelo
e as unhas crescendo, assim como o coração batendo. Acho que é por isso que estamos
presos nesses corpos meu amigo, nossos espíritos sentem falta “do corpo“! Ou
pelo menos das funções fisiológicas que ele exercia em vida! Acho que nós
éramos apegados muito às coisas materiais, como por exemplo o álcool, ou a cocaína,
mas também morremos antes da hora. Por isso, nosso espírito ainda sente falta
do corpo inconscientemente, e da sensação de prazer que ele
nos
proporcionava. (Gabriel)
-- Tá me
dizendo que eu estou aqui porque eu
sinto
falta do meu coração batendo e da cocaína?
Tudo
porque eu morri antes da hora? (Espírito Rafael)
-- Acho
que sim! (Gabriel)
-- Que
lindo! (Espírito Rafael)
-- Me
diz uma coisa Rafael? Como era sua vida?
(Gabriel)
-- A
minha vida era um desses casos em que se
vende
até a mãe por mais um pouquinho de felicidade em pó. (Espírito Rafael)
-- Isso,
sim, é lindo! (Rafael)
-- É por
isso que eu estou aqui! Bem feito pra mim! (Espírito Rafael)
-- É!
Talvez o inferno seja pouco pra nós. (Gabriel)
-- Pode
ser! (Espírito Rafael)
--
Socorro ...! (Três espíritos gritando)
-- Sabe
Rafael? O que eu mais sinto falta na vida é
das
mulheres, houve uma época na minha vida em
que
muitas delas me amavam. (Gabriel)
-- É! Eu
também! Eu tinha uma namorada muito bacana, ela era de fechar o quarteirão. Mas
contra o pó ninguém tem vez, amigo. É a morte de branco. (Espírito Rafael)
--
Entendo... (Gabriel)
-- Bom
Gabriel, meu irmão voltou trazendo ajuda, depois a gente se fala. (Espírito
Rafael)
-- Eu
prometo que não vou sair da cidade! Ra, ra,
ra...!
(Gabriel rindo)
-- Eu hein! Que risada macabra! (Espírito Rafael)
Parte 6
Em decomposição parte 3
(Duas semanas depois)
-- Cara
não precisa ser desse jeito, ficar gritando
não vai
resolver o seu problema, entende? (Gabriel)
-- Mas
eu tenho muito medo! Eu não consigo
evitar!
(Um dos três espíritos que estavam
gritando)
-- E do
que você tem medo? (Gabriel)
-- De
que os demônios voltem! Eles estão
Esperando
eu sair do corpo, pra poderem me levar pro inferno. Eu não quero ir pro
inferno. (Um dos três espíritos que estavam gritando diz, chorando.)
-- Olha!
Vai ver o inferno não é tão ruim assim e... (Gabriel sendo interrompido)
--
Socorro...! (O espírito voltando a gritar)
-- Não!
Não faz isso cara! Vai ficar tudo bem!
(Gabriel)
--
Socorro...! (Um dos três espíritos gritando)
--
Droga! Saco! Eu não aguento mais esse berreiro! (Gabriel zangado)
--
Socorro! Socorro! Socorro...! (Três espíritos
gritando)
-- Agora
todos os três voltaram a gritar! Que “merda”! (Gabriel)
--
Gabriel! Tem como você sair e ver se meu irmão tá chegando? (Espírito Rafael)
-- Só um
instante! Ah...! Ainda nada Rafael!
(Gabriel
saindo do corpo e voltando)
-- Tá
conseguindo ficar mais tampo lá fora
Gabriel?
Creio que você já esta próximo de um
minuto,
um minuto fora da gaveta antes que seu
corpo o
chame novamente, daqui a pouco você vai
se ver
livre de nós, meu amigo. (Espírito Rafael)
-- É
Rafael! Daqui a pouco é tchau pra quem fica.
(Gabriel)
--
Acredito que seja bem por aí, Gabriel! Ôh, garoto de sorte! (Espírito Rafael)
-- É
mesmo! Mas me diz uma coisa? Me fala um pouco mais do seu irmão? (Gabriel)
-- Bom, ele
morreu com quatorze anos de leucemia, mas isso já faz muito tempo. (Espírito Rafael)
-- Ele é
um anjo? (Gabriel)
-- É!
Ele é sim! (Espírito Rafael)
--
Pensei que você tivesse sido um menino mau em
vida.
(Gabriel)
--
Digamos que os caras maus me fizeram um convite para que eu ficasse no plano
deles, mas eu recusei. Como consequência eu tenho que vagar pela Terra até eu reencarnar, ou seja, eu não
posso
ir para os planos bons, e meu irmão só ta me
ajudando a sair do corpo. (Espírito Rafael)
-- Então
quem nega o convite dos meninos maus tem que ficar vagando? (Gabriel)
-- Sim!
Mas seus anjos não lhe disseram? (Espírito Rafael)
-- Deve
ser porque eu não cheguei a perguntar. (Gabriel)
-- Sei.
(Espírito Rafael)
--
Socorro...! (Três espíritos gritando)
-- Como
esta lá fora Gabriel ? Um sol muito bonito? (Espírito Rafael)
-- Não,
meu amigo, é noite, com uma lua e um céu
estrelado
belíssimo. (Gabriel)
-- Que
pena, por mais que a noite seja bela eu
sinto
falta da luz do sol. (Espírito Rafael)
--
Mesmo? (Gabriel)
--
Mesmo! (Espírito Rafael)
-- Sabe
Rafael, a única maneira de sairmos daqui é
esperando
nossos corpos apodrecerem, mas depois
disso
poderemos ver tanto o sol como a lua. (Gabriel)
-- É,
então acho que vale a pena esperar. (Espírito
Rafael)
--
Rafael meu anjo da guarda veio me ver, a gente
se fala
depois. (Gabriel)
-- Tá
bom. (Espírito Rafael)
-- E aí
Gabriel? Se virando bem? (Anjo da guarda)
-- Tô
fazendo melhor que eu posso, mas me diz uma coisa? Pra que plano eu vou depois
que eu sair
daqui?
(Gabriel)
-- Bom!
Você poderia ir para um dos planos baixos
que
aqueles espíritos lhe ofereceram, depois quevocê se matou ou ficar aqui na
Terra e esperar sua próxima reencarnação. (Anjo da guarda)
-- Com
certeza vou esperar minha próxima reencarnação, com aqueles desgraçados não vou
de
jeito
nenhum. (Gabriel)
-- Geralmente
nós anjos aconselhamos a reencarnação. (Anjo da guarda)
-- Então
eu vou ter que vagar até reencarnar? (Gabriel)
-- É! Eu
sinto muito. (Anjo da guarda)
--
Aqueles desgraçados me ferraram! Saco! O
Rodrigo
não veio? (Gabriel nervoso)
-- Ele
não pôde vir hoje. (Anjo da Guarda)
--
Entendo. (Gabriel)
-- Olha
Gabriel! Eu e o Rodrigo achamos que não
há nada
que possamos fazer pra você sair daqui, achamos que você deve esperar isso
acontecer naturalmente. Nos casos de suicídio não tem muito o que se possa
fazer, espero que compreenda. (Anjo da guardo)
-- Tudo
bem. (Gabriel)
--Acho
que você já esta quase saindo daqui, e o
pior
você já passou. Se caso você sair e eu não estiver aqui você vai pra casa que
eu lhe encontro
lá. (Anjo
da guarda)
--
Feito! (Gabriel)
-- Bom!
Eu estou indo, vim só dar um ‘oi’ pra você,tudo bem? (Anjo da Guarda)
-- Tudo
bem! Vejo você mais tarde. (Gabriel)
-- Tchau, e se cuida! (Anjo da Guarda saindo)
Parte 7
O que restou da minha casa
-- Barulho.(Minhocas
dilacerando minha carne morta, tédio e escuridão, tudo isso depois de dezoito
anos sendo escracho de demônios safados que fizeram de tudo para me colocar
nesse lugar. Estou condenado a vagar na
Terra até reencarnar ou passar o resto da vida no inferno com aqueles que me
odeiam, é encrenca da grossa, a vida me deve uma explicação do porque dessa
joça toda. Bom, acho que vou tentar sair daqui novamente ah...! Como dói! Mais tenho que fazer força.. Ah...!
saí! Vamos ver quanto tempo eu consigo ficar fora desse corpo, antes que ele me
puxe novamente. É dia, com um lindo céu azul, uma das particularidades do
cemitério de Pelotas é que ele foi construído ao céu aberto, e portanto posso
ver a
luz do
dia. (Gabriel)
-- Então
um grande buraco negro se forma no céu azul, e começa a puxar Gabriel.
(Narrador)
--
Droga! Essa coisa tá me puxando! Socorro...! (Gabriel sendo sugado para dentro
do buraco negro, e sendo jogado no chão de sua casa.)
-- Onde
estou? (Gabriel)
-- Em
casa, mais precisamente na sala que fica no
primeiro
piso. (Um espírito se aproximando de Gabriel, ele é grande, forte de cabelos
castanhos cacheados e ralos e com uma vestimenta branca)
-- Quem
é você? (Gabriel)
-- Sou o
anjo da guarda do seu pai. (Anjo da Guarda do pai do Gabriel)
-- Você
sabe me dizer como vim parar aqui? (Gabriel)
-- Sei.
(Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Então
como? (Gabriel)
-- Eu o
trouxe aqui. (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Foi
você que fez o buraco negro que me puxou.
(Gabriel)
-- Exatamente.
(Anjo da guarda do pai do Gabriel)
--
Depois de várias tentativas você foi o único que conseguiu me tirar de lá,
obrigado. (Gabriel)
--
Parece que sim, porque você não vai ver seu pai, que esta sentado no sofá da
sala, se culpando pelo
que você
fez a si mesmo? (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Como
ele tem passado? (Gabriel olhando seu pai
vendo
televisão e chorando)
--
Sempre depois que ele chega do trabalho liga a televisão e começa a chorar
pensando em você. Toda a noite é isso. (Anjo da Guarda do pai do Gabriel)
--
Noite? Mais agora é dia! (Gabriel)
-- Então
eu se fosse você olhava a janela. (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Tem
razão é noite, que estranho. (Gabriel)
-- O
mundo dos espíritos é estranho Gabriel, até mesmo pra mim, que não sou mortal e
isso já faz muitos anos, costumo estranhar o mundo em que estou. (Anjo da
guarda do pai do Gabriel)
-- Acho
que tem muita coisa estranha acontecendo
aqui.
(Gabriel)
-- Você
por um acaso acha a vida após a morte uma
coisa
normal? (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Na
verdade, eu acreditava que a vida após a
morte
deveria ser uma coisa normal. (Gabriel)
-- Mais
não é. (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Bom,
acho que vou dar uma volta. (Gabriel)
-- Uma
volta? Por que ao invés de dar uma volta
você não
vai até seu quarto ver o que está acontecendo? (Anjo da guarda do pai do
Gabriel)
-- Você
insiste em dizer isso, como se a culpa fosse
minha,
de os demônios terem me enlouquecido e me posto nessa situação. (Gabriel)
-- Sim
Gabriel, a culpa é sua. (Anjo da guarda do
pai do
Gabriel)
--
Minha? Você esta louco? Eu não fiz nada para
merecer
isso! Absolutamente nada! (Gabriel nervoso)
-- Olha
que as aparências enganam. (Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Acho
melhor eu indo. (Gabriel)
--
Gabriel, pela primeira vez na vida obedeça a alguém que tem mais experiência do
que você no assunto, como você vai sair com essa mancha vermelha no ombro direito?
(Anjo da guarda do pai do Gabriel)
-- Que
mancha é essa? (Gabriel olhando uma mancha vermelha brilhante circular grande
no seu ombro direito)
-- É o
semblante do suicida, todos que se suicidam
mesmo
aqueles que não conseguem e entram em
coma
após uma tentativa de suicídio possuem essa
mancha.
Essa mancha é sinônimo de vergonha
entre os
espíritos, todos os outros espíritos irão se
afastar
de você, já que o suicídio é considerado um
ato de
extrema vergonha entre os espíritos. (Anjo
da
guarda do pai do Gabriel)
-- O que
quer que eu faça? Que fique naquele
quarto
me escondendo? Eu não, amigo! Eu não!
(Gabriel)
--
Gabriel! Obedeça! (Anjo da guarda do pai do
Gabriel)
--
Adeus! Seja lá você quem for. (Gabriel saindo de
casa
passando através da parede)
--
Gabriel! Volta aqui! (Anjo da guarda do pai do
Gabriel
vendo Gabriel sair. )
-- Atravesso
a parede da sala da minha casa, e
depois
passo pelo jardim da frente, não há grades
ou muros
que possam barrar um espírito. Não
demora
muito eu descubro que posso voar. Começo
a vagar
pelas ruas de Pelotas e nisso vejo uma
grande
abundância de espíritos voando ou andando,
eles
estão por toda parte e muitos acompanhando os
vivos,
vejo e também escuto os pensamentos das pessoas e dos espíritos que pelas ruas
caminham, também vejo buracos negros como aquele que me levou até minha casa,
se abrirem e fecharem tele-transportando espíritos, embora eu não saiba de
onde,talvez dos planos, é uma cena fantástica que uma pessoa viva jamais
poderia sonhar em ver. Aos poucos, começo a descobrir como é a vida após a morte,
e me surpreender com ela. Começo a pensar
que devo
aprender mais sobre a vida após a morte, e para isso penso em ir para o Centro
Espírita Jesus, que fica perto do colégio Gonzaga, eu já fui lá uma ou duas
vezes quando eu era vivo, mas parei
de ir
por eles terem pena dos espíritos baixos, ou seja, dos demônios, mas pretendo
ir até lá e ver se esses centros espíritas realmente funcionam. (Gabriel)
Parte 8
O semblante do suicida
--
Quando chego ao centro espírita vejo pessoas sentadas nos bancos com seus
respectivos espíritos que as acompanham, embora tivessem espíritos desacompanhados
de pessoas também, como no meu caso, mas o único espírito que se encontra no local
com um ombro direito vermelho sou eu. Alguns espíritos estão em desespero, sem
saber o que fazer, estes devem ser almas penadas, outros permanecem calmos e
outros são arruaceiros e se
vestem
de preto e zombam de tudo e de todos, fazendo muito barulho e importunando quem
quer que esteja perto deles. De repente, um grupo de doze espíritos vestidos de
branco aparece, esses começam a pegar os arruaceiros e a botá-los para fora do
centro mesmo com muita dificuldade. (Gabriel observando)
-- Sai
anjo de merda, quem você pensa que é? A mamãe? É a mamãe é? (Demônio arruaceiro
gritando)
-- Sai!
Fora! (Anjo Bianca gritando)
--Tó
indo vadia! Calma! Não me empurra! Eu não gosto de vadia me empurrando. Demônio
arruaceiro sendo retirado falando alto)
-- Então
olho para outra direção e vejo dois anjos brincando de pegar, ou seja, de pegar
um demônio arruaceiro. (Gabriel observando)
-- Pega
ele, Luiz! (Anjo Bruno gritando)
-- Eu
não quero sair! Seu anjo escroto! Vê se vai chupar um prego até virar parafuso!
Seu “bunda” mole. (Demônio arruaceiro gritando)
--
Peguei! (Anjo Luiz gritando)
-- Me
larga...!(Demônio arruaceiro preso pelos braços, e debatendo as pernas
gritando)
-- Me
ajuda Bruno! (Anjo Luiz segurando o demônio arruaceiro pelos braços)
-- Vou
segurar as pernas dele. (Anjo Bruno segurando as pernas do demônio arruaceiro)
--Então
eles começam a levar o demônio para fora, de um lado um segura os braços, e de
outro segura as pernas. É realmente uma situação patética, para onde quer que
eu olhe eu vejo anjos tirarem os demônios arruaceiros que se encontram no
recinto. (Gabriel)
-- Olha
lá! Tá vendo? (Um anjo)
-- O que?
Oh! Meu Deus! (Um outro anjo)
-- E melhor
chamar os outros, temos um “problemão” aqui pra resolver! (Um outro anjo)
-- I...!
Eu acho que o negocio agora é comigo! (Gabriel vendo um grupo de seis anjos se aproximando
lentamente o cercando)
-- Vai
com calma Bianca! Ele é perigoso! (Anjo Rafael)
-- Tudo
bem! Estamos quase lá! Rodrigo dáa volta
por trás
pra ele não escapar. (Anjo Bianca)
-- Ele
não vai escapar! Fica tranquila. (Anjo Rodrigo)
-- Tem
algo me dizendo que a merda foi pro ventilador! (Gabriel falando alto)
-- Ele
fala? (Anjo Bianca)
-- Desde
os dois anos de idade graças a Deus.
(Gabriel
falando alto)
-- E
acredita em Deus? (Anjo Rodrigo)
-- Não
sou o tipo que vai a missa todos os Domingos, mas acho que dá pra enganar.
(Gabriel falando alto)
-- E tem
senso de humor! (Anjo Cícero)
-- É! Eu
sou um palhaço! Vocês não sabiam? (Gabriel falando alto)
-- Acho
que ele não apresenta perigo. (Anjo Rodrigo)
-- Por
quê? Deveria? (Gabriel)
-- Você
é um suicída? (Anjo Bianca)
-- Sim!
De bala na cabeça e tudo. (Gabriel)
-- E agora,
o que faremos? (Anjo Cícero)
-- Não
faço a menor ideia! Nunca vi uma coisa dessas! Um suicida que fala e tem senso
de humor! (Anjo Rodrigo)
-- Ah!
Eu sou um fenômeno! Além de falar eu canto, danço! E também sei imitar o “Piu
piu” do Frajola, querem ver? Acho que vi
um gatinho! (Gabriel)
-- Que
pobre alma você atormenta suicida? Quem é a sua vitima? (Anjo Bianca)
--
Ninguém! Eu não atormento pessoa
nenhuma!
(Gabriel)
-- O que você veio fazer aqui então? (Anjo Luiz)
-- Vim em busca de respostas. (Gabriel)
-- Respostas? Faz muito tempo que você se matou?
(Anjo Luiz)
-- Mais ou menos. (Gabriel)
-- Então você veio procurar ajuda? (Anjo Bianca)
-- Pode-se dizer que sim. (Gabriel)
-- Qual o seu nome? (Anjo Luiz)
-- Gabriel. (Gabriel)
-- Gabriel, visto que você não apresenta perigo,
não
há necessidade de você ser retirado, fica tranquilo,
vamos terminar de retirar os espíritos arruaceiros
e
depois lhe daremos mais explicações, tudo bem?
(Anjo Luiz)
-- Pra mim está ótimo. (Gabriel vendo os anjos se
afastarem dele)
-- Tudo bem! Vamos lá! Temos que retirar os
outros espíritos arruaceiros. (Anjo Luiz)
Então
aparece uma senhora, que seria a palestrante de hoje, pedindo para que todas as
pessoas da sala encarnadas rezassem. Nisso vejo umespírito gordinho, baixinho
de cabelos cacheadosralos vindo em minha direção.
(Gabriel observando)
-- E aí, se acostumando com a vida após a morte?
(Espírito Armando)
-- Tentando. (Gabriel)
-- Eu ouvi a conversa que você estava tendo com
os anjos, eu sinto muito. (Espírito Armando)
-- Não sinta, pra falar a verdade talvez ter
morrido foi melhor do que ter continuado vivo naquele estado, pelo menos até
agora.( Gabriel )
-- Seu nome é Gabriel Não é mesmo? (Espírito
Armando)
-- É! E o seu? (Gabriel)
-- O meu é Armando. (Espírito Armando)
-- Entendo, você vem sempre aqui? (Gabriel)
-- Sim, veja a palestra esta começando, hoje o tema
é como amar mais o próximo. (Espírito Armando)
-- Pelo visto os anjos terminaram de botar os arruaceiros
pra fora. (Gabriel)
-- É! Todas as noites são assim! Esses nojentos não
tomam jeito! (Espírito Armando)
-- Me diz uma coisa? Quem são esses espíritos que
ficaram aqui e estão desesperados e muito irritados
perto de alguns vivos? São almas penas? (Gabriel)
-- São, e na sua maioria, espíritos vingativos,
eles estão se vingando das pessoas que lhe fizeram mal
em vidas passadas, e que se encontram aqui, ou simplesmente
espíritos invejosos que fazem mal às
pessoas que são invejadas por eles. É claro, tem aqueles
que vieram em busca de orientação como você. (Espírito Armando)
-- Este homem me matou! Na vida passada por dinheiro!
E agora você tá me dizendo que ele vai
ficar impune? (Uma Alma penada)
-- Ele não ficou impune! Ele já pagou pelo crime dele
em vida e na hora de sua morte na vida passada! Não tem que pagar de novo nesta
nova vida! Você deveria deixar esse homem em paz! E ir
para seu plano viver uma eternidade feliz! (Anjo Bianca)
-- Eu não consigo evitar! Tenho muita raiva dele!
(Uma alma penada)
-- Pelo visto os anjos estão orientando esses
espíritos. (Gabriel olhando para o anjo e para a alma penada)
-- Sim, os que desistirem e pararem de atormentar
os vivos, serão levados aos seus planos pelos anjos
skydivers. (Anjo Armando)
-- Quem são os anjos skydivers? (Gabriel)
-- Você vai saber quando chegar a hora. (Espírito Armando)
-- Quanto aos espíritos arruaceiros, eles não precisam
de orientação? (Gabriel)
-- Ainda não estão preparados pra ela, são na maioria
anarquistas e são pouco desenvolvidos moralmente, mas com o tempo eles
amadurecem e acabam indo para um bom plano, a partir da hora que eles passarem
a evoluírem moralmente ou reencarnarem compulsoriamente, caso sigam imbuídos em
fazer o mal. (Espírito Armando)
-- Eles estão presos aqui? (Gabriel)
-- Não, esses anarquistas estão nos planos baixos, mas
podem entrar e saírem de lá a hora que querem e virem para cá. (Espírito
Armando)
-- E os outros espíritos vingativos? (Gabriel)
-- Esses perderam o contato com seus planos bons, por
causa dos seus pensamentos ruins de vingança
e inveja, portanto, devem ser levados para lá já
que
estão presos aqui. (Espírito Armando)
-- Quem os leva? São os anjos skydivers? (Gabriel)
-- Isso, você aprende rápido. (Espírito Armando)
-- O que é aquilo? (Gabriel vendo dois buracos
negros surgirem na parede e um grupo de espíritos
saírem de cada um deles)
-- São os anjos skidivers chegando. (Espírito
Armando)
“Gabriel vê
os anjos skydivers recolhendo
alguns
espíritos e os levando para o buraco negro” (Narrador)
-- Hoje vieram dois grupos de anjos skydivers? (Espírito
Armando)
-- São sete skydivers no total? (Gabriel)
-- Na verdade seriam quatro para cada grupo de
skydivers, mas vieram sete porque provavelmente
um grupo só tinha três skydivers, por isso foram
necessários dois grupos, e pelo visto são de planos
diferentes, porém similares. (Espírito Armando)
-- Entendo, mas pelo visto nem todos os espíritos
estão sendo levados pelos skydivers. (Gabriel)
-- É, muitos deles preferem ficar aqui e continuar
atormentando os vivos. (Epírito Armando)
-- E não há nada que os anjos possam fazer? (Gabriel)
-- Não; somente dar conselhos a essas almas
penadas, somente doutrinando-as elas se afastam
dos vivos. (Espírito Armando)
-- Por que simplesmente não as tiram como fizeram
com os arruaceiros ou não os levam para um plano à
força?(Gabriel)
-- Bom, se os enxotarem deste estabelecimento,
assim que as pessoas atormentadas por eles saírem
daqui continuaram sendo perseguidas e atormentadas
por esses espíritos; se forem levadas a algum plano à força eles irão sair de
lá e irão da
mesma maneira continuar perseguindo e atormentando
as pessoas. Portanto não há muito que se pode fazer a respeito, a não ser
aconselhar essas almas penadas a mudarem de atitude. (Espírito Armando)
-- Eu acho isso um absurdo! (Gabriel)
-- Eu também! (Espírito Armando)
-- Acho também que alguém deveria tomar uma
atitude enérgica contra essa raça imunda de
demônios arruaceiros e penados. (Gabriel)
-- Concordo. (Espírito Armando)
-- Acho que tive uma ideia. (Gabriel)
-- E qual é ela meu amigo? (Espírito Armando)
-- Me pergunta em uma outra hora, pode ser? (Gabriel)
-- Pode ser. (Espírito Armando)
-- Parece que está todo mundo indo embora!
(Gabriel)
-- É; acabou a palestra, e as pessoas já receberam
seus passes. (Espírito Armando)
-- Oi Gabriel! (Anjo Bianca)
-- Oi Bianca. (Gabriel vendo dois anjos da casa
vindo em sua direção)
-- Esta é Ângela; ela é uma skydiver, e quer lhe
falar um momento. (Bianca)
-- Oi Gabriel, Me explicaram o seu problema, e
conversei com os outros skydivers, e eles pensam da
mesma forma que eu. Falaremos com o nosso instrutor de equipe, que fica em
nosso plano, sobre seu caso. Eu aconselho emquanto isso você continue vindo às palestras
deste centro espírita que ocorre todas as noites, pode ser? (Skydiver Ângela,
negra de cabelo rastafari, alta e magra)
-- Acha que eu posso me estabelecer em algum
plano bom? (Gabriel)
-- Vamos ver como você se comporta daqui para
frente, e o que nosso instrutor de equipe vai
dizer.
Sendo como for você pode ir, já que não apresenta
perigo. (skydiver Ângela)
-- Eu sou uma novidade pra vocês; não é? (Gabriel)
-- É sim Gabriel, nunca vimos um suicida se comportar
social e amigavelmente como você; isso é anormal. (skydiver Ângela)
-- É por isso então que os suicidas não podem ir
aos
planos bons, eles são maus. (Gabriel)
-- Não que sejam maus, mas sim instáveis e muito
perturbados, o que faz deles espíritos muito perigosos.
(skydiver Ângela)
--Então vocês querem me testar? Pois estão com
medo de mim? (Gabriel)
-- Não podemos arriscar a levá-lo a um plano bom,
onde as pessoas vivem pacifica e tranquilamente, sem
antes termos certeza absoluta de que você não apresenta nenhuma ameaça à tranquilidade
delas. Espero que entenda. (skydiver Ângela)
-- Antes eu estava condenado a vagar na Terra até
reencarnar, agora eu já tenho uma esperança. Para
mim parece bem razoável. (Gabriel)
-- Então é isso ai, estamos indo, Bianca. (skydiver
Ângela)
-- Então até amanhã, Ângela. (Bianca vendo Ângela e
os outros skydiver entrando nos buracos negros que se formaram na parede e indo
embora)
-- Bom, vou indo também. Até amanhã. (Gabriel saindo)
-- Até amanhã. (Armando e
Bianca)
Parte 9
“Galinhagem”
-- Hoje passei o meu dia vagando pelas ruas e
lugares de Pelotas. Cinema, teatro, galerias, não pago
nada pra entrar, é tudo de graça. Por onde eu
andava os outros espíritos me olhavam com desprezo
ou com medo, por causa do meu ombro vermelho no lado direito. Sozinho! É isso o
que sou agora! E pensar que meu dia amanhã, depois de amanhã, o resto da semana,
do mês e do ano serão como o dia de hoje, sem nada para fazer. Muito tédio,
muito chato e é isso que foi o meu dia. Em pensar que eu terei que ficar assim
até a hora que eu reencarnar. Saco! Se eu der sorte - digo muita sorte - os skydivers
me levam para um bom plano. Já é noite e
acabei de chegar no centro espírita, onde eu espero resolver meu problema, ou
pelo menos parte dele. (Gabriel)
-- Oi, Gabriel! (Espírito Armando)
-- Oi, Armando.Como foi o seu dia? (Gabriel)
-- Muito bom, e o seu? ( Espírito Armando )
-- De amargar. (Gabriel)
-- Entendo, mas acho que isso já era esperado.
(Espírito Armando)
-- É! Agora eu entendo porque os suicidas sofrem.
(Gabriel)
-- Acho que você até teve sorte por ainda ter a
sanidade, você é o primeiro espírito suicida que
vejo são. (Espírito Armando)
-- Se eu lhe disse-se que tive que me matar pra
recuperar a minha sanidade, você acreditaria em
mim? (Gabriel)
-- Eu acho, Gabriel, que não se cura uma dor de
cabeça baleando a cabeça. (Espírito Armando)
-- Eu acredito que, quando a aspirina não resolve o
problema e o doutor não sabe o que mais adianta, é
bom sempre agente pensar no plano B. (Gabriel)
-- E qual é o plano B? (Espírito Armando)
-- Eutanásia! (Gabriel)
-- Pensando bem, eu acho que me enganei no quanto
você teve sorte com sua sanidade. (Espírito Armando)
-- E por quê? (Gabriel)
-- Porque você continua maluco. (Espírito
Armando)
-- Armando, sabe aquela ideia que eu tive e que lhe
prometi falar a respeito? (Gabriel animado)
-- Sim, vai me dizer agora?(Espírito Armando)
-- Mais que isso: vou botar ela em prática agora!
(Gabriel Animado)
-- Agora? (Espírito Armando)
-- Sim! Vamos começar ajudando os anjos a tirar
os demônios arruaceiros do centro espírita.
(Gabriel)
--Ficou maluco? (Espírito Armando)
-- Não! Eu sou maluco! (Gabriel)
-- E como faremos isso? (Espírito Armando)
-- Fazendo! Venha comigo! (Gabriel indo em
direção a um espírito arruaceiro)
-- Seus anjos de merda! Ninguém vai me tirar daqui
hoje ra...! (Espírito arruaceiro rindo)
-- Você vai sair sim! Fora! (Anjo Bianca)
-- Oi! Tudo bem? (Gabriel)
-- O que você quer, palhaço? (Espírito arruaceiro)
-- Eu quero lhe dar um beijo! (Gabriel)
-- Um o quê? (Espírito Arruaceiro)
-- Um beijo, ora! Só um beijinho. (Gabriel)
-- O que você é? Uma boneca? (Espírito arruaceiro)
-- Sou sim, e tenho uma quedinha por demônios
másculos e malvados como o senhor,seu demônio.
(Gabriel)
--Cala a boca! (Espírito Arruaceiro)
-- Ai gatão! É só um beijinho. Vai,não seja tímido.
(Gabriel)
-- Ra ...! Gabriel! O que você está fazendo? Ra...!
(Anjo Bianca rindo)
Foi então que Gabriel pulou encima do espírito arruaceiro,
mordendo e arrancando a orelha do mesmo. (Narrador)
-- Ai...! Para! Para ...! Isso dói...! Larga minha
orelha! (Espírito arruaceiro gritando de dor)
-- O que foi? Não gostou do beijo? (Gabriel)
-- Para com isso, Gabriel! (Anjo Bianca)
-- Seu maluco de merda! Vou lhe dar uma coça!
(Espírito arruaceiro)
-- Bate, meu menino mal. Bate bem forte que eu
gosto! Apanhar me excita. (Gabriel)
Então, o espírito Armando aparece e segura o
espírito arruaceiro por trás. (Narrador)
-- É agora,Gabriel! Dê um sarrafo nele! (Espírito
Armando)
-- Toma, demônio gostoso! Toma um pouco do meu amor!
(Gabriel socando e chutando o espírito
arruaceiro)
-- Eu quero ir embora! Deixe-me sair! (Espírito
arruaceiro apanhando)
-- Ei! Vocês! O que pensam que estão fazendo?
(Anjo Bianca nervosa)
-- Dando carinho pro nosso macho, ora! (Gabriel batendo
no espírito arruaceiro)
-- Soltem ele! Agora! Já! (Anjo Bianca)
-- Tudo bem! (Espírito Armando soltando o espírito arruaceiro
e vendo o mesmo sair apressado do recinto, com medo)
-- É! Funcionou! Esse aí não aparece aqui tão
cedo! (Gabriel)
-- Não precisava ser assim! (Anjo Bianca nervosa)
--Ah! Eu só estava tentando ser romântico! Droga! Será
que eu não posso namorar em paz? (Gabriel
irônico)
-- Eu não quero ver vocês dois fazendo isso novamente!
(Anjo Bianca)
-- Mas por quê? (Gabriel)
--Porque isso é uma casa de Deus! Não um local de tortura!
(Anjo Bianca indo embora)
-- É, parece que não deu certo. (Espírito Armando)
-- É claro que deu! É que esses anjos são muito
cabeça dura! Se não formos duros com esses demônios
de “bunda mole” eles vão continuar vindo aqui “encher o saco”. (Gabriel)
-- Gabriel! Nós podemos acabar encrencados por
causa disso! (Espírito Armando)
--Vai nada! É só a nós fazermos discretamente que nada
vai dar errado, amigo. (Gabriel)
-- Como? (Espírito Armando)
-- É o seguinte:está vendo aquele demônio “bunda
mole” atormentando aquela pobre velhinha que provavelmente
é médium? Ali! Naquele banco do seu lado direito. (Gabriel)
-- Sei. (Espírito Armando)
-- Experimenta convidar a mãe dele pra sair.
(Gabriel)
-- Como? (Espírito Armando)
-- Sim! Pergunte se a mãe dele da vida passada
não quer dar uma volta com você. Eu estarei
esperando lá fora. (Gabriel)
-- Entendi! (Espírito Armando indo em direção ao espírito
Arruaceiro)
-- Velha escrota! Eu vou sacudir as suas tetas
caídas! (Espírito arruaceiro)
-- Me deixa em paz, seu imundo! Eu sou uma
senhora de respeito e filha de Deus! (Velhinha falando
com o espírito arruaceiro por pensamento)
-- Oi! (Espírito Armando)
-- O que é isso? “Futigordo”? (Espírito arruaceiro)
-- “Futigordo”? Por quê? (Espírito Armando)
--É porque eu vejo uma bola espiritual gorda na
minha frente! Pronta para ser chutada! (Espírito
Arruaceiro)
-- Não é “futigordo”! Na verdade é um convite.
(Espírito Armando)
-- Convite? Pra quê? Pro gala gay dos espíritos
gordos? (Espírito Arruaceiro)
-- Na verdade, não é pra você! (Espírito Armando)
-- É pra quem então, seu monte de banha pós morte? (Espírito
Arruaceiro)
-- É pra senhora sua mãe da vida passada, seu
burro! É que eu quero me esfregar um pouco naquela velha safada que é a sua
mãe, mas não sei se ela esta disponível hoje. De repente ela deve estar com outro
cliente agora, por isso vim falar com o filho bastardo dela, pra ver se ele me
arruma uma hora com aquela vagabunda senhora sua mãe. (Espírito Armando)
-- Ra...! (Outros espíritos arruaceiros ouvindo e rindo)
-- Banha! Vou tirar sua calça e lhe dar uma surra!
E
ver um monte de maionese vencida escorrer pelo seu
rabo! Seu porco gordo...! (Espírito arruaceiro nervoso)
-- Tá bom! Mas lá fora! (Espírito Armando indo para
fora)
-- Vamos lá, banha! É hoje que eu chuto o seu rabo
gordo cheio de colesterol! (Espírito arruaceiro)
--Ra...! (Outros espíritos arruaceiro rindo e
indo para fora ver a briga)
(Mais tarde na rua)
-- É! Acho que a extração de óleo dessa baleia
gorda já vai começar galera! (Espírito Arruaceiro)
-- Ra...! (Outros espíritos arruaceiros rindo)
-- Eu acho que não! (Espírito Armando)
-- O que é isso? (Espírito arruaceiro sendo agarrado
por traz por Gabriel)
-- Surpresa! (Gabriel segurando o espírito arruaceiro
por traz)
-- “Merda”! (Espírito arruaceiro nervoso)
-- Vamos ver agora quem tem um monte de maionese
vencida escorrendo pelo rabo! (Espírito Armando socando e chutando o espírito
arruaceiro)
-- Ra...! (Outros espíritos arruaceiros rindo da
situação)
-- É Armando! O amigo aqui só é macho com velinhas!
Com agente ele apanha como uma garotinha! (Gabriel segurando o espírito
arruaceiro)
-- Vai ter troco,seus “putos”! (Espírito Arruaceiro
apanhando)
-- Se continuar a nos ameaçar você vai ter que chupar
meu prego até virar parafuso! Seu demônio “veado”! (Espírito Armando batendo no
espírito arruaceiro)
-- Tá bom! Eu paro de encher a “merda” da velha!
Mas parem com isso! (Espírito arruaceiro apanhando)
-- O que é isso? Um demônio ou uma mocinha
Armando? (Gabriel segurando o espírito arruaceiro)
-- É! Eu acho que ele é as duas coisas! (Espírito Armando
batendo no espírito arruaceiro)
-- Não sei não! Pra mim ele ainda parece mais uma
mocinha do que um demônio! Quem sabe agente não “enraba”
ele? (Gabriel segurando o espírito arruaceiro)
-- Me soltem! (Espírito Arruaceiro apanhando)
-- Tudo bem! Mas nunca mais apareça aqui!
(Gabriel soltando o espírito arruaceiro)
-- Veremos! (Espírito arruaceiro indo embora
apressado e com raiva)
-- É! Acho que assustamos ele, Gabriel! Ra...! (Espírito
Armando rindo)
-- Vai ver ele vai correndo chamar a mãe dele! Ra...!
(Gabriel rindo)
-- E agora, Gabriel? O que faremos? (Espírito
Armando)
-- Vamos entrar! E ver que tipo de encrenca nós
conseguimos arrumar! (Gabriel)
Armando e Gabriel entrando novamente no centro
espírita. (Narrador)
-- Pelo visto os anjos já retiraram os demônios
arruaceiros. (Espírito Armando)
-- Pois é, mas ainda tem os demônios penados. (Gabriel)
--Acho que você quis dizer almas penadas, Gabriel.
(Espírito Armando)
-- Para mim são farinha do mesmo saco! Não são diferentes
dos demônios arruaceiros que retiramos agora a pouco. Demônios não têm
categoria, são todos gentinha. Demônios são ordinários e ridículos por natureza,
todos eles têm uma enorme bunda fedorenta e mole,que só fede e ocupa o espaço
de todos os bons meninos que tentam viver a bela vida colorida e refrescante
que nosso bom senhor Jesus nos deu. Daí vem a questão: Por que Deus todo poderoso
e os anjos perdem tempo com essa gente cretina? Eu sinceramente não acredito na
evolução moral dessa gentinha à toa! Que só está fazendo
hora extra no mundo depois da morte! Eles se acham o máximo! Eles se acham os
bons! Eles se acham melhores que o resto de nós! Os verdadeiros bichões da
goiaba acima do bem e do mal. Se acham cheios de moral e grau perante os anjos
e os homens, e se acham no direito de destruírem vidas humanas por diversão ou
inveja! E o que Deus faz em relação a isso? (Gabriel irônico)
-- Não sei, Gabriel. O quê? (Espírito Armando)
--Ele faz a pior coisa que ele poderia fazer para
as
pessoas e os anjos desse mundo. Sim, Armando, Deus
tem pena deles. Deus tem pena dos demônios, Deus acredita na evolução moral
deles enquanto eles apodrecem e “aporcalham” o undo! Eu perdi minha vida nas
mãos desses safados, Armando! Mas sabe o que mais me dói? (Gabriel com muita
raiva)
-- Não, Gabriel, o quê? (Espírito Armando)
-- Foi um dia ter rezado pela salvação deles como a
religião espírita manda. A religião diz que devemos
ter compaixão por eles, pois também são filhos de Deus e estão sofrendo.Mas se
eles estão sofrendo e são filhos de Deus, então o que sobra pra mim, Armando? O
que sobrou da minha vida quando eu cheguei ao fim dela? O que vai sobrar para médiuns
como aquela pobre velhinha que estava sendo atormentada por aquele demônio? O
quê? O
que vai sobrar de nós? Meu Deus! O que eu faço gora?
Eu morri, Armando! E não tem mais volta! (Gabriel tendo uma crise de choro)
-- Meu Deus! Então foi por isso que você se matou!
Eles lhe enlouqueceram até você se matar! (Espírito
Armando começando a chorar)
-- É! (Gabriel)
-- Eu sinto muito, meu amigo. (Espírito Armando
abraçando Gabriel e chorando)
-- Sabe, eu não sei o que eu estou fazendo aqui, não
me lembro direito de ter morrido. Estou confuso, muito confuso. O que é tudo
isso afinal? Está tudo estranho, está tudo escuro pra mim, e o pior de tudo é
que tudo isso parece um sonho, nada do que eu estou vivendo agora parece real.
Eu não sei, Armando, eu realmente não sei se eu quero passar o resto da minha
existência nessa realidade estranha. (Gabriel parando de chorar)
-- Gabriel, Acho que você tem muito o que aprender
sobre a realidade em que vive. Mas não sei se sou a pessoa indicada para lhe
ensinar, talvez um bom anjo possa. (Espírito Armando parando de chorar)
-- Armando, está vendo aquele demônio “veado” ali atormentando
aquele pobre homem? (Gabriel)
-- Onde? (Espírito Armando)
-- Ali, na sua frente. (Gabriel)
-- Estou! (Espírito Armando)
-- Acho que agente podia dar um jeitinho nele, que
tal? (Gabriel)
-- Mas ele não é um espírito arruaceiro, mas sim uma
alma penada. Se batermos nele ele poderá descontar a sua raiva no pobre homem
quando sair daqui! (Espírito Armando)
-- Quem sabe não seguimos ele, hein? (Gabriel)
-- Eu diria que é uma boa e divertida ideia. Vamos
esperar o homem e seu encosto saírem, então nós os
seguimos. (Espírito Armando)
-- Encosto? (Gabriel)
-- Sim. Encosto ou tranca-rua são expressões que a
umbanda utiliza para definir a alma penada.
(Espírito Armando)
-- Entendo. (Gabriel)
-- Olha só, os skydivers chegaram e eu nem notei.
(Espírito Armando)
-- Faz tempo,Armando, acho que foi quando estávamos
lá fora batendo naquele demônio
safado. (Gabriel)
-- É, devem estar quase indo embora. Sem falar que
perdemos a palestra de hoje. (Espírito Armando)
-- Oi, Gabriel! (Anjo skydiver Ângela)
-- Oi, Ângela! (Gabriel)
-- Como tem passado? (Anjo skydiver Ângela)
-- Me adaptando. (Gabriel)
-- Vejo que fez um amigo. (Anjo skydiver Ângela)
-- Pois é, é difícil fazer amigos sendo um suicida.
Os outros espíritos em geral têm medo ou preconceito em relação aos espíritos
suicidas. (Gabriel)
-- Eu imagino! Sabe, Gabriel, esses espíritos que acham
isso de você não lhe conhecem bem, e por isso você não deve se importar com
eles. Tente ser
forte e aguentar firme, pois há possibilidade de você
reencarnar logo. Mais uma coisa: tente sempre ir em centros espíritas como
esse, pois neles as suas chances de ser bem recebido e entendido pelos outros
espíritos são muito maiores do que em outros lugares, como na rua. Tente nunca andar
com espíritos ruins que querem lhe levar para o mau caminho. Caso um deles lhe
convide para ir a um plano ruim, negue, pois não é futuro para você. E o mais
importante: nunca maltrate um médium, pois eles são enviados de Deus para ajudar
os outros espíritos a evoluírem. Se seguir os meus conselhos você vai ter uma
boa existência em breve, em outra vida, através da reencarnação. Meu orientador
de plano esta vendo uma maneira de você viver novamente, pois ele não acha que
você se adaptaria a um plano bom na sua condição de suicida. Tudo bem para
você? (Anjo skydiver Ângela)
-- Bom, digamos que eu não gostaria de reencarnar,
mas gostaria muito de ir a um plano
bom. (Gabriel)
-- Eu sinto muito, mas é para seu próprio bem.
(Anjo skydiver Ângela)
-- É o jeito. (Gabriel)
-- Mais um conselho que vou lhe dar: leve a reencarnação
a sério, pois é uma proposta muito boa que lhe pode ser oferecida em breve.
(Anjo skydiver Ângela)
-- Vou levar. (Gabriel)
-- Tente sempre vir me ver, Gabriel, pois se perdermos
contato eu não tenho como lhe ajudar. Tudo bem? (Anjo skydiver Ângela)
-- Farei o possível, Ângela. (Gabriel)
-- Então estamos combinados. Tchau, já estou indo.
(Anjo skydiver Ângela)
-- Tchau. (Gabriel vendo Ângela entrar no buraco negro
junto com os outros skydivers)
--“Merda!” (Gabriel)
-- Calma, Gabriel! Talvez reencarnar não seja tão
ruim assim. (Espírito Armando)
-- Não é ruim! É péssimo! (Gabriel)
-- Por quê? (Espírito Armando)
-- Porque eu vou deixar de ser o Gabriel para ser outra
pessoa. Não vou me lembrar de quem eu fui, dos meus pais e do meu passado. Sabe,
Armando, O que ela medisse me doeu muito. Foi como se ela me dissesse que o
Gabriel não serve, que tudo o que eu vivi não foi bom o bastante para eu
merecer um céu, que toda a minha vida foi em vão, uma perda de tempo. Todo o
meu sofrimento, dor e lágrimas em vão. Tudo perdido e tudo pra nada. (Gabriel)
-- Fico muito triste que você pense assim, mas no geral
os espíritos vêem a reencarnação como uma
esperança. Uma nova oportunidade de ser feliz e de
evoluírem moralmente. (Armando)
-- Pode ser, mas eu não acho. (Gabriel)
-- Veja, Gabriel, aquele homem que nós vimos sendo
atormentado pelo demônio! Está saindo junto
com o demônio e mais um outro espírito. (Espírito Armando)
-- Vamos segui-los! (Gabriel)
-- Vamos! (Espírito Armando)
Parte nove 10
A onde foi esse porquinho e a
chave
da casinha.
Gabriel e Armando, sem serem notados, seguiram o
homem do centro espírita até a Baronesa, um dos bairros
nobres de Pelotas. Chegando lá, viram o homem e mais dois espíritos entrarem em
uma bela
casa. (Narrador)
-- “Caramba”! Que casa! Para um cara que anda de
ônibus, ele mora bem! (Espírito Armando)
-- Bem demais, eu diria! (Gabriel)
-- Então, vamos entrar? (Espírito Armando indo em
direção à porta, mas sendo barrado por Gabriel)
-- Calma! (Gabriel)
-- O que foi? (Espírito Armando)
-- Veja a janela do andar de cima! A luz está
acesa! (Gabriel)
-- E daí? (Espírito Armando)
-- E daí que eles devem estar lá em cima, e podemos
entrar pela janela voando, chegando,
assim, mais rápido até eles. (Gabriel)
--Boa ideia, mas antes vamos espiar o que está
acontecendo pela janela. (Espírito Armando indo com
Gabriel até a janela)
-- Já chega! O que mais você quer, desgraçado?
Você já tirou tudo dele! (Anjo da Guarda do pobre
homem. Cabelos e olhos castanhos, estatura baixa e
extremamente bonita)
-- Calma, “tetosa“, ainda falta a casa. (Alma penada)
-- Por que esta fazendo isso com ele? (Anjo da
guarda do pobre homem)
-- Vai ver, “tetosa“, é porque eu gosto! (Alma
penada)
-- Isso não é motivo! (Anjo da guarda do pobre
homem)
-- Mas é o único motivo que eu tenho, “tetosa”.
Sinto muito. (Alma penada)
-- Que Deus tenha piedade da sua alma miserável!
Pois Deus não vai lhe salvar tão cedo! (Anjo da
guarda do pobre homem)
-- Vai ver, “tetosa”, eu não quero ser salvo. (Alma
penada)
-- É, Gabriel, parece que a coisa está feia lá
dentro.
(Espírito Armando espiando pela janela)
-- Nossa, como ela é linda! (Gabriel espiando pela
janela)
-- Quem? A garota? (Espírito Armando)
-- É! Eu adoro garotas com seios grandes e coxas
maravilhosas. (Gabriel delirando)
-- Gabriel! Você esta com tesão? (Espírito
Armando)
-- É! Estou sim mas...! Espera aí! Como? (Gabriel)
-- Eu não sei, Gabriel! Eu não sabia que espíritos
ficavam excitados, eu nunca vi isso. Mas como você é
uma exceção às regras por não aparentar ser um suicida, embora seja, eu diria
que você é cada vez mais um mistério pra mim. (Espírito Armando)
-- É! Pela lógica, espíritos não se reproduzem, eu não
deveria estar sentindo isso. (Gabriel)
-- Gabriel! Gabriel! Você é o espírito mais anormal
que eu já conheci. Se alguém me falasse a seu respeito
eu jamais acreditaria. (Espírito Armando)
-- Bom, é melhor deixarmos essa discussão para depois
e entrarmos de uma vez. (Gabriel)
-- Então vamos! (Espírito Armando atravessando o vidro
da janela com Gabriel)
-- Ai meu Deus! Um suicida! (Anjo da guarda do pobre
homem apavorada com Gabriel)
-- Ra...! Agora, anjo da guarda, seu protegido
está ferrado ra...!( Alma penada rindo)
-- Calma, Amor! Nós somos os mocinhos! (Gabriel)
-- Você fala? (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Eu não somente falo como também canto e
danço. (Gabriel)
-- Vai ver é uma bailarina. (Alma penada)
-- Ah! Ele também beija bem! (Espírito Armando)
-- Beija bem? (Anjo da guarda do pobre homem)
-- É! Pelo menos o último “trocinho”, que eu
arrumei no centro espírita, não reclamou. (Gabriel)
-- Só saiu correndo. (Espírito Armando, ironizando Gabriel)
-- Bom, mas o fato é que ele não reclamou.
(Gabriel)
-- Nossa! Quantas qualidades em um único homem.
Eu sempre quis aprender a falar, meus parabéns,
suicida. (Alma penada sendo irônica)
-- Vocês são skydivers? (Anjo da guarda do pobre
homem)
-- Não! (Gabriel)
-- Então, senhor beija bem, o que você quer
conosco? (Alma penada)
-- Sabe, demônio, eu gostei muito das suas gracinhas,
e até acho que o senhor fala bonitinho, mas a questão é que você não faz meu
tipo de homem. (Gabriel)
-- Que pena, senhor beija bem, o senhor parecia ser
um bom partido pra mim. (Alma penada)
-- E quanto a reposta da pergunta dele? O que
vocês querem? (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Resolver o problema desse homem da pior e
mais divertida maneira possível. (Gabriel)
-- Vocês são anjos? (Anjo da guarda do pobre
homem)
-- Mais ou menos, amor! (Gabriel)
-- Como assim? (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Meu amigo quis dizer que somos uma espécie de
anjos da pesada. (Espírito Armando)
-- Isso mesmo! Somos anjos modernos! (Gabriel)
-- Em primeiro lugar, gostaríamos de saber a onde
está o homem que mora nesta casa. (Espírito Armando)
-- Ele foi ao banheiro escovar os dentes, mas já
volta para dormir. (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Nós queremos resolver o problema com a alma
do homem aqui presente. Mas a única maneira de um
espírito encarnado sair de seu corpo é através do sono, ou seja, ele precisa
dormir para podermos falar com ele. Enquanto ele não dorme gostaríamos de saber
o que está acontecendo. (Gabriel)
-- Bom, Meu protegido está sendo atormentado por
essa alma penada há cinco anos. Essa alma penada
induziu o meu protegido ao álcool e a comportamentos
agressivos. Ele perdeu sua empresa, sua mulher o deixou, seus amigos não querem
mais saber dele. A única coisa que ele ainda tem é essa casa, que vai ter que
vender se não conseguir parar de beber e arrumar um emprego. (Anjo da guarda do
pobre homem)
-- Ora bolas! Não é que temos um demônio
complexo aqui, Gabriel!(Espírito Armando)
-- Que bonito, senhor demônio! Que bonito!
(Gabriel botando a mão na cintura)
-- Eu também acho. (Alma penada irônica)
-- Olha só, Armando, quem está vindo aí! (Gabriel
vendo o pobre homem chegar)
-- É, parece que ele vai dormir agora. Só nos resta
esperar ele pegar no sono. (Espírito Armando
vendo o homem se deitar na cama)
-- O que faremos enquanto isso, Armando?
(Gabriel)
-- Que tal brincarmos de alguma coisa para
passar o tempo e aliviar a tenção? (Espírito
Armando)
-- Me parece bom. Alguém aí conhece alguma
brincadeira? (Gabriel)
-- Eu conheço uma boa, Gabriel! (Espírito Armando)
-- E qual o nome dela, Armando? (Gabriel)
-- O nome dela é “aonde foi o porquinho”! Você
conhece? (Espírito Armando)
-- Não! Mas me parece divertida. Nos ensine a
brincar, Armando? (Gabriel)
-- É o seguinte, para brincarmos é preciso ter um
demônio por perto como voluntário, se não a
brincadeira não funciona. (Espírito Armando)
-- Tem algum demônio que quer ser voluntário aí?
(Gabriel irônico)
-- Não...! (Alma penada mal- humorada)
-- Vamos, seu demônio, não seja tímido. Afinal de
contas não morre quem nunca viveu, não é mesmo?
(Gabriel)
-- Eu disse não...! (Alma penada mal-humorada)
-- Pois é, Gabriel? O que agente faz com um cara
desses? (Espírito Armando)
-- Armando, do que consiste essa brincadeira?
(Gabriel botando a mão na cintura)
-- Consiste de safadezas e perversidades
envolvendo o pobre homem, Gabriel. (Espírito
Armando)
-- É, me parece divertido, acho que vou brincar.
(Alma penada)
-- Então acho que temos um demônio voluntário
Gabriel! (Espírito Armando)
--Acho que não gostei muito da brincadeira. (Anjo
da guarda do pobre homem)
-- Então, amor! Vamos fazer o seguinte: você olha
agente brincar e, se gostar, você entra. (Gabriel)
-- Não façam mal a esse pobre homem, pelo amor
de Deus! (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Calma, “tetosa”! todos nós iremos nos divertir
muito hoje. Não é mesmo, senhor beija bem? (Alma penada)
-- Pois é, seu demônio, pois é. (Gabriel)
-- Bom, seu demônio! Primeiramente, eu preciso que o
senhor me dê a sua linda mãozinha. (Espírito
Armando)
-- Aqui está! (Alma penada dando a mão direita ao
Espírito Armando)
“Então Gabriel segura o demônio por trás, e com
uma das mãos segura e estende o braço direito do
mesmo.” (Narrador)
-- Que merda é essa? (Alma penada)
-- Bom, seu demônio, para cada dedo seu eu irei
perguntar se o porquinho foi visitar um outro
bichinho amigo dele, e aí você vai imitar esse
bicho
através da fala. Se sua narrativa for boa nós
achamos onde foi o porquinho, mas se não for, eu
continuarei a procurar o porquinho nos outros
dedinhos da sua mãozinha direita. (Espírito
Armando)
--Eu não quero mais brincar! (Alma penada)
-- Agora não tem mais volta, senhor demônio!
(Espírito Armando)
-- Saco! (Alma penada)
-- Então vamos lá, Armando, começa! (Gabriel)
-- Então está bem. Aonde foi o porquinho? Será que foi
visitar seu amigo, o gatinho? (Espírito Armando)
-- Miau, miau, miau...(Alma penada imitando um
gatinho)
-- Acho que não, Armando. (Gabriel)
-- É Gabriel, eu também acho que o porquinho não
foi visitar o seu amigo gatinho. (Espírito Armando)
-- É claro que foi visitar o gatinho, o gato é o melhor
amigo do porco, todo mundo sabe disso. Ah, ah, ah...meu dedo! (Alma penada
sentindo dor porter um de seus dedos arrancados pela boca de Armando)
-- Aonde foi o porquinho? Será que foi visitar seu
amigo passarinho? (Espírito Armando engolindo o
dedo arrancado da alma penada)
-- Piu...! ah...! cretino! (Alma penada com dor por
ter mais um dedo arrancado pela boca de Armando)
-- Que pena, seu demônio, não foi dessa vez. Ra...!
(Gabriel rindo)
-- Aonde foi o porquinho? Será que foi visitar o
seu amigo cachorrinho? (Espírito Armando engolindo
o segundo dedo da alma penada.)
-- Au...! ah...!veado! (Alma penada com dor por ter
mais um de seus dedos arrancados pela boca de Armando)
-- Aonde foi o porquinho? Será que foi visitar sua
amiga dona galinha? (Espírito Armando engolindo
mais um dedo da alma penada)
-- Porra! Quantos amigos têm esse porco afinal?
(Alma penada com dor e nervosa)
-- Calma, seu demônio! Até o fim da noite agente
acha esse porco safado! (Gabriel)
-- Cócó...! ah...! ordinário!(Alma penada com dor e
nervosa, tendo seu outro dedo arrancado pela boca de Armando.)
-- Agora vem a grande pergunta da noite: aonde foi
o porquinho? Será que foi visitar o ratinho seu amigo?
(Espírito Armando engolindo mais um dedo da alma penada)
-- Isso não vale, eu não sei imitar uma porcaria de
um rato!? (Alma penada com dor e nervosa)
-- Que pena! (Espírito Armando)
-- Não ...! Ah, ah, ah...! Nojento...! (Alma penada
com dor, tendo mais um de seus dedos arrancados
pelo espírito Armando)
-- Pegue a mão esquerda dele, Gabriel! (Espírito
Armando engolindo mais um dedo da alma penada)
-- Tudo bem,meu amigo comedor de dedos, tudo bem.
(Gabriel pegando e estendendo o braço esquerdo da alma penada)
-- Aonde foi o porquinho? Será que foi visitar seu
amigo elefantinho? (Espírito Armando)
-- Mas eu não sei imitar a porcaria de um elefante!
(Alma penada com dor e nervosa)
-- O problema não é meu, seu demônio. Quem sabe
no próximo bicho? (Espírito Armando)
-- Ah, ah, ah...! Merda de elefante! (Alma penada
com dor e nervosa por ter mais um de seus dedos
arrancados pela boca de Armando)
-- Senhores, meu protegido dormiu. (Anjo da guarda do
pobre homem)
-- Então vamos falar com ele, Gabriel. (Espírito
Armando)
-- Vai chamá-lo, Armando! Enquanto isso eu seguro esse
demônio decepado! (Gabriel)
-- Então não precisamos achar o maldito porco
afinal? (Alma penada nervosa)
-- Acho que não, senhor demônio! (Gabriel)
-- Vocês não precisam tirar meu protegido do corpo,
eu já fiz isso. (Anjo da guarda do pobre homem)
-- Oi! O que querem comigo? (Alma do pobre homem)
-- Viemos ajudar. (Espírito Armando)
-- Que bom! O que eu mais quero é botar esse
demônio estuprador na linha! (Alma do pobre homem)
-- Então esse demônio sente “tesão” como eu,
Armando? (Gabriel)
-- É, Gabriel! Acho que temos um demônio “veado” aqui.
(Espírito Armando)
-- Eu tive uma ideia, Armando! (Gabriel)
-- E qual é, Gabriel? (Espírito Armando)
-- Que tal uma nova brincadeira? (Gabriel)
-- E qual é o nome dela? ( Espírito Armando)
-- Se chama a “chave da casinha”. (Gabriel)
-- Me parece divertida, Gabriel. Como é que se
brinca? (Espírito Armando)
-- Pega o pipi, que seria a chave, e abre a
portinha,
que seria o bumbum do senhor demônio. (Gabriel)
-- Então vamos lá? (Espírito Armando)
-- De jeito nenhum, suas “bichas” podres! (Alma
penada nervosa)
-- Deixe que eu como esse demônio safado! (Alma
do pobre homem)
-- Não! (Alma penada gritando)
-- Vem cá, minha fruta do mal, nós dois sabemos
que você é mais passivo do que ativo. (Alma do pobre
homem)
-- Eu não quero! Eu não quero! Eu não quero...!
(Alma penada chorando)
-- E o senhor demônio perde a briga por um
“cuzinho” ra, ra, ra... (Gabriel rindo)
-- Acho que já chega! Ele não vai mais incomodar
ninguém, não é mesmo? (Anjo da guarda do pobre
homem)
-- Ra...! É verdade. (Espírito Armando)
-- Então, senhor demônio, o senhor promete que não vai
mais incomodar esse pobre homem? (Gabriel)
--Prometo! (Alma penada gritando e chorando)
-- Então, pobre homem, se esse demônio incomodar novamente,
o senhor vai até o centro espírita e nós batemos um papinho camarada com ele. (Espírito
Armando)
-- Poderiam devolver os meus dedos por gentileza?
(Alma penada)
--Toma. (Espírito Armando cuspindo os dedos da
alma penada no chão)
-- Obrigado. (Alma penada vendo seus dedos virem
em sua direção voando e voltando para suas mãos)
-- Incrível! Eu não sabia que isso era possível!
(Gabriel)
-- Você ainda tem muito que aprender sobre seu
novo mundo, Gabriel. (Espírito Armando)
-- Então adeus! (Gabriel)
--Adeus e obrigado. (O pobre homem vendo
Gabriel e Armando atravessando a parede e indo
embora)
Parte 11
A
proposta
(Depois, no centro espírita)
Quando venho para cá eu e Armando ajudamos os anjos
a botarem os espíritos arruaceiros para fora e assistimos às palestras, mas
acho que elas servem mais para os vivos do que para os mortos, não sei. Para
mim tanto faz, eu infelizmente não vou para um plano bom, eu vou ter que
reencarnar. (Gabriel)
-- Boa noite, Armando. (Gabriel botando a mão no
ombro de Armando, que se vira de frente pra ele de repente)
-- Ah, é você Gabriel? Eu pensei que você não
vinha mais! (Espírito Armando)
-- É! Me atrasei, eu fiquei com meu pai até tarde
no
trabalho hoje. (Gabriel)
-- Que noite ontem hein? (Espírito Armando sorrindo)
-- É, nem me fala, fazia tempo que não me divertia
tanto. Quê? Os skydivers já chegaram?(Gabriel)
-- Recém chegaram,meu amigo. (Espírito Armando)
-- Armando, você morreu do quê? (Gabriel)
-- Coração! Dormi numa bela noite e não acordei mais.
Na manhã seguinte eu ainda pensei que estava vivo, até meu anjo da guarda me
dizer que euhavia falecido há duas horas. Foi estranho, eu pensava que ia
levantar e tomar meu café com minha família, tinha tudo para ser um fim de semana
como outro qualquer;eu tinha pressão alta mas nunca tive problemas do coração
ou assemelhados. Bom, de repente tinha um rapaz estranho do meu lado na cama -
que era meu anjo da guarda - se apresentando pra mim, dizendo que eu tinha
morrido e portanto eu não conseguiria tomar meu café naquela manhã. Eu fiquei
só na vontade, pois ia ser bom, ia ter bolo de chocolate. (Espírito Armando)
-- Se desprendeu facilmente do corpo? (Gabriel)
-- No mesmo momento que eu morri, eu me desprendi
do corpo. Eu estava até me levantando da
cama para ir até a cozinha tomar café quando esse rapaz
me segurou e disse que eu havia batido as botas. (Espírito Armando)
-- Você não foi convidado para ir a algum plano?
(Gabriel)
-- Na verdade eu fui sim, era até um plano muito bom,
mas eu quis ficar com minha esposa e filhos, quis ficar para ajudá-los. Eu não
podia sair de lá, sabe? Poxa vida, aquela era a minha casa, aquela era a minha
família. Como eu poderia sair de lá assim,numa manhã, sem mais nem menos? Foi
muito estranho perder tudo o que eu tinha numa única noite. (Espírito Armando)
-- Oi Gabriel! Como está? (Anjo Ângela)
-- Eu estou bem dentro do possível, e você?
(Gabriel)
-- É! Eu podia estar melhor, estão faltando skydivers
para ajudar. (Anjo Ângela)
-- É mesmo? Por quê? (Gabriel)
-- Bom, depois que os espíritos vão para seu plano
ninguém quer saber de ajudar e ver pessoas sofrendo,
todos querem viver sua eternidade em paz, sem maiores preocupações. E assim o
meu grupo só tem dois skydivers, quando o normal seria de quatro a cinco. (Anjo
Ângela)
-- Mas eu estou vendo cinco skydivers aqui,Ângela.
(Gabriel)
-- São skydivers de outro plano, vieram nos dar apoio,
pois com dois skydivers não podemos fazer
muito. (Anjo Ângela)
-- Será que tem alguma coisa que eu poderia fazer
por você? (Gabriel)
-- Dificilmente, mas mesmo assim obrigado. (Anjo
Ângela)
-- E se eu me tornasse um skydiver para ajudar
vocês? (Gabriel)
-- Nem pensar, se você fosse um skydiver teria que
ficar no nosso plano e se isso acontecesse nosso
orientador de planos nos barraria. (Anjo Ângela)
-- Bom, Ângela, você já me conhece há um bom tempo,e
sabe que eu não faria nada errado. Quem sabe nós não devêssemos tentar?
(Gabriel)
-- Negativo, Gabriel, por mais que a proposta me
pareça tentadora. (Anjo Ângela)
-- Ângela! Você está meio sem opção, não é
mesmo? Você precisa de mim tanto quanto eu de
você. Pense nisso! (Gabriel)
-- É! Gostaria que todos os espíritos do meu plano,
inclusive meu orientador,pensassem assim como
você. Faz o seguinte: me procura amanhã, vou ver
o que posso fazer para ajudar a nós dois, está bem?
(Anjo Ângela)
-- Está bem. (Gabriel)
-- Então tchau. (Anjo Ângela)
-- Tchau,Ângela. (Gabriel vendo Ângela ir
embora)
-- Quer mesmo se tornar um skydiver, Gabriel?
(Espírito Armando)
-- Quero me tornar um skydiver, e também quero ir
para um bom plano. Eu mereço isso depois de tudo
o que passei em vida.
(Gabriel)
Parte 12
Fortica
(Mais tarde no centro
espírita)
-- Segura ele, Armando! É,pelas pernas, Armando!
Isso...! (Gabriel segurando um Espírito arruaceiro
pelos braços e vendo Armando segurando ele pelas
pernas)
-- Me deixa,sua coisa gorda! Sua bola de colesterol
imunda! (Espírito arruaceiro sendo arrastado pra
fora)
-- Ufa! Esse é o último. (Espírito Armando e
Gabriel jogando o espírito arruaceiro para fora do
centro espírita.)
-- Pronto! Agora é só esperarmos os skydivers.
(Gabriel entrando no centro novamente com o espírito Armando)
-- Veja! Os skydiver chegaram. (Espírito Armando
vendo a skydiver Ângela se aproximando)
-- Oi, Gabriel! Hoje você vai com a gente.
(Skydiver Ângela)
-- Então está tudo acertado? (Gabriel)
-- Mais ou menos, Gabriel. (Skydiver Ângela)
-- Como assim, Ângela? (Gabriel)
-- Nosso orientador de planos não permitiu que
você fosse, mas vou levar você assim mesmo.
(Skydiver Ângela)
-- Entendo. (Gabriel)
-- Talvez se nosso orientador de planos o conhecer
melhor, aceite essa condição. (Skydiver Ângela)
-- Eu espero que sim, Ângela. (Gabriel)
-- Agora vou resolver um problema, e depois
levo você lá, tudo bem? (Skydiver Ângela)
-- Tudo bem. (Gabriel vendo Ângela indo em direção
aos outros skydivers.)
-- Então, já se decidiu? (Skydiver Ângela)
-- Sim! Vou deixar essa mulher em paz, acho que
ela já pagou pelo que me devia. (Alma penada)
-- Então poderá ir para um bom plano e ser feliz.
(Skydiver Ângela)
-- Será que vale a pena? (Alma penada)
-- Sim! Vai! E é melhor do que você ficar aqui,
atormentando essa mulher. (Skydiver Ângela)
-- Tudo bem. (Alma penada)
-- Então o outro grupo de skydivers levava a alma
penada através do buraco negro enquanto o grupo
de skydivers da Ângela vinha em minha direção.
(Gabriel pensando)
-- E então? Já fez as malas? (Skydiver Ângela)
-- É, Armando, o táxi já chegou e vai me levar
rumo à felicidade. (Gabriel)
-- Então é adeus, meu amigo. (Espírito Armando abraçando
Gabriel)
-- Adeus, Armando. (Gabriel abraçando Armando)
-- Então começo a ir em direção ao buraco negro
criado pelos skydivers e entro nele com os outros
skydivers. (Gabriel entrando no buraco negro com
dois skydivers)
-- Seja bem-vindo, Gabriel, a uma nova existência.
(Skydiver Ângela)
-- Quando chego vejo uma cidade linda e enorme,
cheia de espíritos vestidos de branco como os skydivers
e os anjos do centro espírita, voando ou andando de um lado para outro como em
uma cidade grande. Vejo grandes prédios e algumas casas, com um lindo sol
brilhante. (Gabriel deslumbrado)
-- O nome desse plano é Fortica, e é aqui que você
talvez passe o resto da sua eternidade. (Skydiver Ângela)
-- Eu acho que não. (Orientador Ricardo, jovem, alto,
moreno claro e com olhos castanhos)
-- Ricardo, esse é o espírito que lhe falei. O nome
dele é Gabriel. (Skydiver Ângela)
-- A pergunta é: o que ele está fazendo aqui,
Ângela? (Orientador Ricardo)
-- Ele veio ajudar os sobrecarregados skydivers, Ricardo,
um dos poucos voluntários para tão
pesado fardo. (Skydiver Ângela)
-- Sei! (Orientador Ricardo)
-- Não, Ricardo! Você não sabe! Não sabe como
fazfalta mais um membro na equipe e ... (Skydiver
Ângela)
-- Enquanto a Ângela fala com o tal orientador
Ricardo, eu olho ao meu redor e vejo alguns
espíritos desse plano parando de andar de um lado
para o outro,parando unicamente para me olhar.
Olhando pra mim, olhando para meu ombro
vermelho, de maneira curiosa e assustada, como se
eu fosse um animal fora da jaula prestes a
atacá-los.
Acredito que esse é o preço do suicídio, o preço de
uma bala na cabeça em meio ao desespero. (Gabriel
parando de olhar pra Ângela e olhando para os
outros espíritos )
-- Será que ele ataca? (Um Espírito)
-- Sei lá. (Um outro espírito)
-- Por que será que trouxeram um suicida para cá?
(Um outro espírito)
-- Acho ele tão calmo. (Um outro espírito)
-- Eu acho bom não chegar muito perto. (Um outro
Espírito)
-- Eu não gosto do seu tom de voz, Ângela! E estou
falando sério! (Orientador Ricardo)
-- Nem eu do seu, Ricardo! Ou você deixa o Gabriel ficar
e ser um skydiver, ou eu estou fora do grupo. (Skydiver Ângela)
-- Ângela, ele é um suicida! Como ele pode ser um
skydiver? E francamente não sei o que me dá mais
medo: um suicida skydiver ou um suicida andando
pelas ruas de Fortica. (Orientador Ricardo)
-- Ou o Gabriel entra ou eu estou fora! Você é quem
sabe, eu não vou continuar arriscando meu pescoço por ter menos gente na
equipe. Somos só dois skydivers enquanto o normal é cinco. (Skydiver Ângela)
-- Tudo bem! Mas antes vou ter que falar com o
conselho. (Orientado Ricardo)
-- Sim, mas em quanto isso ele vai ficarnos
ajudando e morando em Fortica. (Skydiver Ângela)
-- O quê? Se o conselho descobre isso nós estamos
fritos! (Orientador Ricardo)
-- Você é quem sabe, Ricardo. Ou o Gabriel ou eu estou
fora, então vocês terão somente um skydiver
ao invés de cinco. (Skydiver Ângela)
-- Tudo bem, tudo bem! Mas você vai ter que se
justificar com o conselho depois, mocinha! (Orientador
Ricardo)
-- Sem problemas! (Skydiver Ângela)
-- E se algo der errado com o suicida é você é quem
vai pagar o pato! Acho muito bom você ter certeza do
que está fazendo! (Orientador Ricardo)
-- Pode ficar tranquilo,eu tenho absoluta certeza.
(Skydiver Ângela)
-- Ainda acho que isso é loucura, Ângela. (Orientador
Ricardo)
-- Loucura é trabalhar somente com dois skydivers,
Ricardo. (Skydiver Ângela)
-- Está bem, Ângela! Não está mais aqui quem falou!
(Orientador Ricardo)
-- Tem mais uma coisa. (Skydiver Ângela)
-- O quê? (Orientador Ricardo)
-- Quero um adaptador de planos e também quero
uma casa para ele. Assim como quero que você arrume,
e bem rapidinho, um avaliador de planos. E
tudo isso pra ontem, Ricardo! (Skydiver Ângela)
-- Até aí tudo bem. (Orientador Ricardo)
-- Gabriel, venha cá! (Skydiver Ângela)
-- Estou aqui. (Gabriel)
-- Quero que conheça nosso orientador Ricardo.
(Skydiver Ângela)
-- Prazer, Gabriel. (Gabriel)
-- Muito prazer, suicida falante. (Orientador
Ricardo)
-- Suicida falante ao seu dispor, senhor. (
Gabriel)
-- E este é Cláudio, que vai trabalhar conosco.
(Skydiver Ângela)
-- Prazer aberração, eu sou Cláudio. (Skydiver
Cláudio, jovem, alto e com cabelos e olhos castanhos.)
-- Prazer. Gabriel, a aberração, ao seu dispor.
(Gabriel)
-- Bom, agora que o Gabriel conheceu a família
podemos ir, temos muito trabalho para fazer. (Skydiver
Ângela, criando um buraco negro)
-- Então vamos! (Gabriel entrando no buraco negro
com os outros skydivers)
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